terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Universo Paralelo

Tudo pronto. Nossas roupas. Meus carrinhos.

No ônibus. Indo pegar o trem em Kaiseraugst, pro aeroporto de Zurich.


Depois de um ano e dois meses, tudo de novo. Só que agora ao contrário. Sai de casa, entra no ônibus. Sai do ônibus, entra no trem. Sai do trem, entra no outro trem. Sai do outro trem, entra no aeroporto. Entra no metrô. Sai do metrô, entra no avião. Sai do avião, chegou. Que calor.

- Mamãe, todo mundo fala português aqui.

Malas cheias. Carrinho pesado. Pessoas queridas esperando do lado de fora. Saída. Um monte de beijos. E abraços. Por que todo mundo me aperta? Por que é tão bom apertar as pessoas queridas? Pra onde a gente vai? Pra casa. Qual?  Como? Com quem?

Que confusão. Quanta gente. Quanto carro. Por que tem tanto carro? Por que os carros não andam? Acho que é porque tem muito carro. E as bicicletas? Cadê? Cadê a rua de bicicleta? Aqui ninguém usa patinete e nem patins. Porque tem muito carro. Mas tem muita moto também. E elas andam no meio dos carros. Porque tem muito carro. Meu pai tem uma moto, que fica na casa do tio Bêto.

Chegamos em São Paulo numa segunda-feira, dia 19 de novembro. No meio do feriado do dia 20 de novembro. Era pra ir rápido do aeroporto pra casa. Mas não foi. Porque tinha muito carro naquela rua do lado daquele rio fedorento. Será que alguém nada nesse rio? Acho que não. Mas o Voinho disse que um dia já nadou ali. Mas isso foi há muito, muito tempo. Depois jogaram um monte de sujeira no rio e ninguém nunca mais nadou lá. Que pena. Se esse rio fosse limpo que nem o rio Reno, que passa em Basel, e onde todo mundo nada no verão...
A cara de São Paulo

Não poderia ter lugar melhor pra encontrar com todo mundo do que na padaria que a gente sempre ía. E tava todo mundo lá esperando a gente. Foi só o Zé, o chapeiro, ver a gente chegando que foi logo distribuindo pão de queijo, pão na chapa, bisnaga, café com leite, suco de laranja. Tudo que a gente tinha antes de ir pra Suíça e que não tem mais. A padaria na Suíça vende pão. E a queijaria vende queijo. E o açougue vende carne. No Brasil, todo lugar vende de tudo.

Da padaria fomos direto pra casa da Dinda, onde seria nossa casa nos próximos 14 dias. O que nós mais fizemos nesses dias foi ver gente. Quanta gente. Chegou uma hora que eu nem sabia direito pra onde eu iria. Sai com a Vovó Rosali de manhã. Vai pra casa da Titia Laizinha de tarde. Volta pra casa da Dinda de noite. Acorda. Vai pra padaria. Pra casa da Dinda. Pro clube. Pra casa da Voinha. Pra pracinha brincar com a Julinha.

Um dia fomos levar a Julinha na escola. Não tínhamos carro. Fomos com o Jipe do Tio Edison. Jipe é um carro alto, sem capota, que sacode muito. Minha mãe bateu a cabeça no Santo Antonio do Jipe, de tanto que ele pulou. Quando chegamos na escola da Julinha, alguma coisa aconteceu. Eu olhei para aquele lugar : Pitanga Porã. O Manuel veio levar a Julia pra dentro da escola. Peraí, eu conheço o Manuel ! Eu conheço esse lugar ! É a minha escola ! Quer dizer, não é mais, mas vai ser sempre. O Manuel me convidou pra entrar. Meus amigos mudaram de classe. Porque cresceram. Eu também cresci. Tenho um metro e três e meio. O Artur. A Valentina. O Victor. A Manu Nardi. A Tia Ana. Estavam todos lá. Me olhando. Como se eu tivesse faltado uma semana e agora eu tinha voltado. Eles me chamaram pelo meu nome. Eles ainda lembram de mim. E eu deles. Olhei pra minha mãe e não entendi por que ela tava chorando.

E a saga continua. Vai nadar com a Sussu e o Fabinho na casa da Titia Laizinha. Comer pastel na casa da Voinha. Tomar banho na Dinda. Acordar e... ir pro sítio do Vovô Funcia ! Que calor. Piscina. Esguicho. Brincar até acabar a pilha. E no dia seguinte começa tudo de novo. A Vovó Celina preparou um café da manhã reforçado. Mais piscina com meu pai. Jabuticaba no pé. Aprendi a subir na jabuticabeira. As jabuticabas mais doces são as mais altas. Depois, colher a salada na horta. E churrasco, de carne. Algo que ultimamente só fazíamos com costelinha de porco e salsicha. E sozinhos. No Brasil, churrasco é um evento.
O tempo passa leeento em Piracaia

Amendoins do sítio. Orgânicos. Bio. Enormes.
Não pode comer muito senão vira pedra na barriga.

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E Deus criou o mundo. Criou o suíço, e perguntou :
- O que você deseja?
- Montanhas.
E assim foi feito. E nasceram os Alpes.
- O que mais você quer?
- Vacas.
Puff ! Um monte de vacas apareceram.
E o suíço na mesma hora começou a ordenhar, puxou uma caneca da bolsa, e provou o leite.
Em seguida virou-se pra Deus e perguntou :
- Lieber Gott, o senhor deseja uma caneca do meu leite? Está realmente muito bom.
- Claro que sim !
E provou do leite da vaca suíça, e disse :
- Hmmm... realmente o leite daqui é muito saboroso. Você quer mais alguma coisa?
- Um franco e oitenta.

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No nosso penúltimo dia no Brasil, foi o aniversário da Voinha. Ela fez 75 anos. Todo mundo foi comer pizza. Como sempre. Na casa da Titia Laizinha : o Voinho, a Voinha, o Beto, a Luísa, o Pedro, a Cici, o Gui, a Sussu, o Matteo, a Vó Yô, o Titio Marcão, e nós três. E depois da pizza tem bolo de chocolate.  Como sempre. E depois do bolo de chocolate tem cafezinho. Como sempre. E depois do cafezinho tem mais chocolatinho. E mais conversa fiada. E piadas. E licores. E provocaçōes entre são paulinos e corintianos. Como sempre. Ainda bem que eu torço pro Basel.
Só faltou o Fabinho. Que tava em outro planeta.

O Voinho, o motivo principal da nossa ida pro Brasil, tá melhor. E continua melhorando. A luta dele contra o inimigo invisível continua. A cada dia. Mas ele é forte. Meu pai sempre diz isso. Ele tá ali, quietinho. Olhando tudo. Falando pouco. O necessário. Ouvindo mais do que nunca. Ele é forte.

Sábado. Dia 1 de dezembro de 2012. Último dia. Acorda. Correria. Vai com a Vovó Rosali e a Julinha no clube. Mamãe pro cabeleireiro. Papai fazendo coletas, entregas, e mais visitas de ultimíssima hora. Volta pra casa. Encontra com o Vovô Funcia e Vovó Celina na casa da Dinda. Vai pro outro clube almoçar feijoada (faz parte da estratégia de antes de entrar no avião). Volta pra casa da Dinda. Coloca as malas no carro. Entra no carro. Vai pro aeroporto. Sai do carro. Entra no aeroporto. Entra no avião. Sai do avião, chegou. Que frio !

Chegamos de volta no domingo. 2 de dezembro de 2012. Há exatamente um ano o Vovô Funcia e a Vovó Celina embarcavam pra Suíça. Há exatamente um ano a Bisa Tília virava uma estrelinha. E ela continua aqui. Toda noite. Bem em cima da nossa casinha. Da nossa casinha de Arisdorf.

Julinha, concentrada na milenar arte.
Dra.Aretha me pegou de jeito.
Mas eu não tinha nenhum bichinho no dente.

RVPP - Registros Visuais Para a Posteridade

Feijoada no clube. Eu que queria tirar a foto...

Domingo, 2 de dezembro de 2012. No trem, de Zurich pra Olten.

Wettervorhersage (previsão do tempo).
Animador? Eu vou esquiar na semana que vem !


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Saci. E o Outubro Branco.

Resolvi escrever de novo hoje. Bem hoje. Porque hoje é dia 31 de outubro. É o dia do Saci ! Minha história preferida. Por aqui ninguém conhece o Saci, mas eu sei que ele fica escondido lá perto das macieiras e das cerejeiras. E quando alguém passa por ali desavisado, ele começa a assobiar pra assustar a pessoa. Aqui na Suíça, no dia 31 de outubro, aparece um monte de cabeça de abóbora nas casas, e algumas crianças se fantasiam de fantasma e de bruxa. Mas ninguém sabe do Saci. Só a gente. Por que ele é brasileiro. Então deixa eu contar um pouco do Saci.

Era uma vez um Saci... Um só? Não ! Vários ! Negrinhos, baixinhos e carecas, com dentes muito brancos e um gorro vermelho na cabeça. Ninguém sabe dizer ao certo quantos sacis existem, mas contam que todos eles nasceram pulando numa perna só, em uma noite daquelas, com trovões e tempestades, no meio da mata, após sete anos de gestação dentro de gomos de bambu.

O último a nascer pulou no lombo de um cavalo, agarrou a crina e saiu galopando pelo pasto a toda velocidade. Enquanto o pobre do cavalo só pensava em cavalgar, o danado do Saci aprontava a primeira de suas travessuras : ele fez vários nós na crina do animal. E isso foi só o começo...

Com o passar do tempo, o Saci começou a aparecer na estrada para assustar os viajantes. De repente, do nada, ele assobiava e deixava quem estava passando por lá morrendo de medo.

Quando o Saci entrava nas fazendas era um terror ! Ele derrubava o leite tirado das vacas, quebrava os ovos do galinheiro, abrias as porteiras, escondia coisas e, o pior de tudo : atirava brasas nas pessoas... que saíam pulando. E o pestinha não parava de dar risada !

Um dia, o Saci saiu girando em torno de si mesmo. Parecia um pião, e provocava redemoinhos de vento. Algumas pessoas, que estavam por perto, comentaram ao ver a ventania :

- O que será aquilo ? Um ciclone ?

E um homem respondeu :

- Que nada ! É um Saci ! Um Saci !

Até hoje não se sabe como os Sacis podem fazer tanta bagunça, mas o povo comenta que eles continuam aprontando suas travessuras em todos os lugares por onde passam.

Tem até uma história de um garoto que vivia no interior e fazia sempre a ordenha das vacas. Mas, quando acabava o serviço, batia uma ventania muito forte, que virava todos os baldes.

Irritado e cansado de perder todo o leite, o garoto comentou com o seu avô :

- Eu não sei o que acontece ! Depois que eu faço a ordenha sempre aparece um redemoinho e derruba todo o leite.

E o avô respondeu :

- É o Saci ! Só pode ser o Saci !

Então o avô explicou para o menino tudo o que ele sabia sobre os Sacis, desde o nascimento até a parte mais importante : o jeito de capturá-los.

- Para prender um Saci, é preciso jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira. E quem consegue pegar a carapuça do danado é recompensado com a realização de um desejo.

O garoto ficou todo animado com a possibilidade de realizar um de seus desejos. Por isso, tratou de pedir que o avô o ajudasse a capturar um Saci.

- Quando estiver na hora da ordenha, eu tiro o leite e você fica escondido segurando a peneira. Quando aparecer o redemoinho, você atira a peneira bem rápido. O Saci vai ficar preso. E é nessa hora que você vai pegar a carapuça dele - ensinou o avô.

Na manhã seguinte, enquanto seu avô tirava o leite da vaca, o garoto ficou escondido, até que o Saci apareceu dentro de seu redemoinho de vento e... vupt!

- Peguei, vô ! Peguei o Saci ! - disse o menino, já com a carapuça do danado nas mãos.

- Devolve minha carapuça ! - gritou o Saci.

- Eu devolvo sua carapuça se você prometer nunca mais derrubar o nosso leite.

- Eu prometo !

- E também nunca mais vai estragar alimentos.

- Concordo ! - respondeu o Saci - Mas não conta pra ninguém, porque os Sacis são malvados e bagunceiros, e eu não posso ser um bom menino.

O Saci recebeu sua carapuça de volta, entrou no seu redemoinho de vento e sumiu.

Em certos dias quando acorda, o garoto vê cavalos com nós nas crinas e uma ou outra porteira aberta, mas os ovos estão sempre nos ninhos. Ah, e ele nunca mais perdeu o leite da ordenha.

Pelo jeito, ao menos um Saci deixou de ser tão malvado e bagunceiro.

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Outubro Branco

Outubro começou quente. Mas não aqui. Nós fomos pra Espanha. Minha mãe foi trabalhar três dias em Tarragona, e levou eu e meu pai. Depois nós ainda ficamos até domingo na casa do Juba, em Barcelona. O Juba é o irmão do Léo. Ele faz aniversário no mesmo dia que eu, 7 de dezembro !

A gente alugou bicicleta em Barcelona, e ficamos brincando de se perder pela cidade. Fomos também pra uma praia ali perto, chamada Lloret de Mar, onde um amigo do Juba tem um "chiringuito"(bar, http://www.facebook.com/ChiringuitoCalaCanyelles ). Lá a gente comeu uma comida que veio numa panela quase do tamanho da mesa. Chama Paella. Tava tão bom, que enquanto a gente comia, ninguém falava. E não sobrou nenhum grão de arroz.

Saímos de Barcelona no domingo bem cedo, de volta pra Basel. Quando descemos do avião, percebemos logo que aquele tinha sido o último suspiro do nosso verão boreal.

Daquele dia em diante, no nosso termômetro de Galileu, as bolinhas só tem subido (http://ciencia.hsw.uol.com.br/questao663.htm ).

No ano passado foi diferente. O frio só chegou de verdade no final de novembro. E nevou pela primeira vez no dia 18 de dezembro aqui em Arisdorf.

Nesse ano não. Nevou dois dias inteiros no final de outubro. Ficou tudo branquinho de novo. Lindo. E gelado. Exatamente como disse um amigo do meu pai, o Steve, quando a gente se mudou pra cá : a Suíça é linda, e gelada.

Os cachorros voltaram a dormir dentro de casa. De noite, lá fora faz muito frio. Tão frio que a água deles até vira gelo. Pelo menos eles já aprenderam a não fazer mais xixi dentro de casa. E a Margarida já tá devidamente castrada. Para quem não sabe, ou não lembra, dá uma olhada nesse post, pra saber um pouco do perrengue que foi o inverno passado com a louca da Margarida >> http://rafach.blogspot.ch/2012/02/invferno.html .


Parc de la Ciutadella, Barcelona

Eu e meu inseparável sapo, no ônibus pra Liestal, indo pra Espanha

La cosa está fea en España...

Da janela lateral,
Do quarto de dormir...
28/10/2012 - 9:50am

Hersberg, cidade vizinha de Arisdorf, 28/10/2012 - 15:00

Como eu podia imaginar que pão com queijo era tão bom?

A pilha costuma acabar no ônibus

Quem diria que isso foi em outubro? Eu e meu pai, na praia (!?),  Barcelona.

Plugando a parafernália
Te cuida, Keith Richards !

Hook !

É a época deles

Quer chocolate? É suíço.

Eu e a Nathalie, minha vizinha, assistindo um bando de pernas-de-paus mirins

Aprendi a digitar meu nome ! 

Acidente de percurso. A pedra não saiu da minha frente quando eu caí...

Então se é pra nevar, que neve muito ! Quero andar de trenó !




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Um Ano Depois...

Setembro, 8:00 a.m.
Esperando o Tram (em 6 minutos)

[Expressão corporal claríssima]
- Rafa, você quer fazer xixi?
- Não.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Então para de apertar o zizi.
- Tá.
[1 minuto]
- Rafa, vamos no banheiro comigo, vai?
- Já falei que eu não quero fazer xixi !
- Para de apertar aí !
[5 minutos]
- Eu vou falar pela última vez. Vamos fazer xixi?
- Não quero.
[Chega o Tram]
- Cuidado Rafael, com a porta aí no seu braço. Tá fechando. /klomk!
- Papi?
- Quê?
- Cocô.
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Parou de fazer calor. As piscinas fecharam. Algumas calças minhas ficaram curtas, do último outono pra esse. Acabaram todas as frutas no pé. Todas não. Tem sempre maçã. O Lupa e a Margarida adoram maçã. Não perdoam nem o caroço e o cabo. Nossas uvas foram totalmente consumidas pelos cachorros. Elas são doces, mas tem muito, mas muito caroço. Mas pra quem come miolo e cabo de maçã, caroço de uva não é nada.  Algumas folhas começam a cair. Algumas começam a ficar vermelhas. Que nem o fim do dia. Cada dia mais cedo termina o dia. Cada dia mais tarde começa.



Os programas mudaram. Novos filmes vindo aí. Novos livros. Novos jogos. Está começando a temporada "indoor". Fomos no Kino (cinema) 3D, em Liestal. Domingo de frio, chuva e pipoca. Gostei do filme. Também gosto de assistir em casa. Mas eu só posso assistir filme enquanto o jantar é preparado. Ou quando todo mundo assiste junto. E o combinado é que na hora que tá na mesa, tá na mesa. Para tudo e vamos comer. E tem que dar a mão todo mundo e cantar "Än Güeten, Än Güeten, Än Güeten Apetitt".

Kino Orion, Liestal


Minha mãe foi trabalhar por uma semana em Freiburg, na Alemanha. No fim de semana, eu e meu pai fomos pra lá com os cachorros, pois não tinha lugar nos Tierheim (lar/pensão de animais) pra eles ficarem. Ficamos na casa do Xico, Teo e Lino. Passamos a sexta de tarde e o sábado na casa deles jogando pebolim, sinuca, muito Lego e futebol. Os cachorros estavam sossegados. Tudo parecia perfeito. Os cachorros estavam sossegados?? Peraí... Cadê a Margarida?? ... Cadê? Margarida fugiu. Em Freiburg. Sai todo mundo pra pocurar. Duas bicicletas. Todos vizinhos avisados. Liga pra polícia. Avisa o Tierheim de Freiburg. Cadastro na S.P.A. da Alemanha através da Internet. Três horas depois, toca telefone : "aqui é do Tierheim Freiburg, tem uma cadela com a descrição da sua. Ela é suíça?"
No reencontro, ela olhava pra gente e sabia que tinha feito coisa errada. No domingo fomos todo mundo, nós e os Barbas,  pra Olten, na Suíça. Teve mais um Kinderkonzert com show do Silberbüx. Eu e o Xico ficamos bem lá na frente na hora do show.

http://www.silberbuex.ch


Faz um ano que a gente chegou em Arisdorf. 24 de setembro. Passou rápido. Aconteceu muita coisa. Mudou muita coisa. Tivemos a volta do arroz com feijão. Pão de queijo já não me encanta tanto, como era no Brasil. Acho que eu comi demais quando era menor. Hoje eu como um ou dois no máximo. A nossa horta tá começando a funcionar. Eu ajudei a plantar Feldsalat (alface do campo), Spinat (espinafre) e Zitronengras (capim-limão). Ano que vem vamos ter cebola e alho também. Nesse um ano comemos muito pão de forno a lenha (Holzoffenbrot) da fazenda vizinha, muito queijo regional, muita maçã (sempre) no pé, cereja, ameixa, amora, morango, framboesas, mirtilo, groselha, uva, feldsalat (alface do campo), muita batata, muita cevada com feijão e farinha de mandioca, claro. Descobri recentemente o prazer sublime de molhar a bisnaguinha na gema do ovo. Sou capaz de comer pão com ovo, enquanto houver pão e ovo.

Então vamos lá, um ano já foi. Temos pelo menos mais três anos de vidinha helvética. Aqui. Em Arisdorf. Em novembro vamos pro Brasil.

O frio tá voltando. Tem que ir de casaco pra escola.

Nossa horta

Meio dia em Arisdorf. Tem alguma coisa errada...

Lino, o mais novo Barba

Arisdorf, final de setembro 2012





sexta-feira, 7 de setembro de 2012

O fim do verão

- Rafa, toma o seu leite.  [pela enésima vez]
- Nãããão, eu já falei que não. Eu tenho "kein Hunger".  [nenhuma fome, na reversa lógica alemã]
- Mas você pediu o leite, agora tem que tomar.
- Nãããão.
- Então a gente vai passear e você vai ficar aqui.
- Mas quando eu tenho kein Hunger é porque eu tô "fertig".   [terminei]
- Rafa, toma o seu leite.
- MAS EU TENHO KEIN HUNGER !!
- Pára de gritar e toma o leite.
- MAS EU TÔ FERTIG !!
- Por favor?  
[Pausa de 3 segundos, encarando]
- Haa-llooo !

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Aquele domingo que a gente nadou no Reno foi o auge do verão. Isso quer dizer que agora só tinha um caminho. Pra baixo. O tempo virou por aqui no meio dessa semana. Tomamos chuva voltando de bicicleta da escola. Chuva não, como diz minha mãe, chuvarada. Cada dia esfria um pouquinho mais. O outono tá chegando. O sol nasce mais tarde, e uma neblina densa cobre o campo de futebol atrás de casa.

Em agosto, no campo de futebol de Arisdorf tem o Grümpeli, um torneio de futebol diferente. Só pode se inscrever quem mora em Arisdorf e arredores, e todos no time tem que estar vestidos a caráter, ou fantasiados. O melhor time era um que estavam todos os jogadores vestidos de juiz, com apito e tudo. Eles apitavam no meio do jogo pra confundir os jogadores do outro time, e conseguiam. Tinha um outro que o uniforme do time era fralda e babador. O objetivo, claro, não é ganhar. É dar risada. E comer salsicha. E tomar cerveja. Assim como em qualquer festa que se preze no verão por esses lados.

Grümpeli 2012
Carro de som comandando a festa. Nossa casa atrás.

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Entre as cidades grandes na Suíça, como não poderia deixar de ser, há uma certa rivalidade. Como em qualquer país. A piada em Basel é : -Você conhece o melhor lugar de Zurich ? É o trem que vai pra Basel.
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[Torneios de tênis]
Papis entra num torneio de tênis e ganha. Eu ganho uma lata de bolinha.

Papis entra num segundo torneio de tênis e... ganha de novo! Eu ganho uma raquete ! A coisa tá melhorando.

Papis entra no campeonato cantonal (estadual), chega na semi-final e... "Ih Rafa... o papai perdeu"- disse minha mãe. [pausa]"Ahn?!? Neeein... das pascht neeeet, das isch net moeeeglich !? " (nããão... isso não aconteeeece, isso não é possííível!?) - falei para o organizador do torneio. Demorei pra entender que isso pode acontecer.
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Como gostam de festa os suíços ! Meus pais dizem que é porque eles precisam aproveitar o verão, pois aqui não é como no Brasil, que faz calor o ano inteiro. Durante julho e agosto tem festa todo fim de semana. Em Augusta Raurica, tem a Festa Romana (http://www.roemerfest.ch), que vem gente de longe pra curtir. Eles armam um monte de barracas como os legionários romanos faziam, e fazem oficinas que ensinam a fazer produtos como os romanos faziam há dois mil anos. E claro, depois vendem. Tem pão, vinho, sapatos, roupas, moedas, remédios naturais, vasos, tudo o que eles tinham naquela época. Até luta de gladiadores tem. E o público ainda decide se o gladiador que perdeu deve viver ou morrer.
Eu, Legionário

Römischbrot (pão romano)

Luta de gladiadores no Anfiteatro de Augusta Raurica. 

Acampamento de legionários. Ano 62.d.C.


Continuando a saga sem fim de diversões do verão, no final de agosto tem o triplo aniversário do Teo (27/8) , Xico (28/8) e Paulão (28/8). Dessa vez fomos no dia 28/8 no Europa Park, que é o maior parque de diversões da Europa, segundo os alemães. Os alemães parece que também tem um pouco dessa coisa de brasileiro, que tudo deles é o maior. Só que lá o vice-presidente do país roubou, e em dois meses puseram o cara na cadeia. Mas voltando ao dia no Europa Park, tinham vários brinquedos que precisava ter mais de um metro de altura pra poder entrar. Quando o moço me mediu na entrada de um deles, ele me deu uma pulseira verde ! Eu medi um metro e dois ! Passei longe de ser barrado. Só não pude ir nas montanhas-russas, porque tem que ter mais de um metro e vinte. Mas também tinha muita fila. Eu pude ir naquele barco que cai na água (http://www.europapark.com/lang-de/Park-und-Attraktionen/Attraktionen/Wasserspass/Atlantica-Supersplash/c338.html), e na bóia que desce o rio. Foi um dia intenso e quente. Fomos pra Freiburg e deixamos o carro lá. Seguimos de trem pro Europa Park com os Barbas. Saímos só quando o parque fechou, umas 8:30 da noite. Cheguei em casa nesse dia pra lá de onze da noite. Acordar no dia seguinte pra ir pra escola foi um pesadelo.
Vikings. Pavilhão da Escandinávia, Europa Park.

Atlantica Super Splash

O filme descendo o rio de bóia tá aqui >> http://youtu.be/jLwRRMMrZfw
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[Num dia qualquer, na saída da escola]
- Hallo Herr Lorenz ! Heute hat der Rafael net guet gassa. Er hatte nur Reis und die Gemüse probiert. (O Rafael hoje não comeu muito bem. Ele só comeu o arroz, e experimentou os legumes, mas não comeu)
- OK.
- Papi, posso tomar um sorvete?
- Vamos combinar assim, se amanhã você comer tudo, você pode tomar sorvete. Hoje não. Mas olha, tem que comer tudo. Quando eu chegar aqui na escola, eu quero ouvir eles me falarem que o Rafael comeu tudo. Tá bom assim? Combinado?
- Tá. Combinado.

[Dia seguinte, saída escola]
- Gruetzi Herr Lorenz ! Hoo Herr Lorenz, heute hat er ganz ganz viel gassa. Nicht nur ihre igene Assa aber au sini Fründe ! (Hoje ele comeu muito muito mesmo. Não só toda a comida dele, mas também a dos amigos).
- Papi ! [olhando nos olhos, orgulhoso] Posso tomar sorvete?
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Fomos jantar na casa dos nossos vizinhos, a Pia Roth e o Urs. [Mami, ela chama Pia?? + risada marota] A Pia também é a minha professora de música na escola. O Urs é professor das crianças maiores, na escola de Arisdorf. Eu gostei porque pude conversar bastante com a Pia.
...
- Piiiia? Wo gosch? [Pia? onde ce vai?]
...
- Piiiia? Chom cha luege ! [Pia? Vem ver isso!]
...
- Urs? Darf I sprung? [Urs? Posso pular?]
...
Meus pais olhavam pra mim e se olhavam espantados. Não sei por que. Acho que nunca tinham me visto falar tanto em suíço com alguém.

Lupa e Margarida se refrescando no Viola Bach, 
riacho atrás do campo de futebol.

Lupa pescando

Essa é a Wöschhüsli, a antiga casa onde as roupas eram
lavadas, nos séculos XVI e XVII. Fica no quintal de casa.
 Já foi restaurada e reformada algumas vezes durante os anos.
A última a menos de um mês.
Teve reinauguração com risoto e vinho Arisdörfer. O Pascal correu 

tanto, que bateu a cabeça na mesa e foi pro hospital. 
A mãe dele levou-o no hospital.
E a Natalie, irmã do Pascal, e o pai dele, o Tobi,
 ficaram na nossa casa esperando.

É raro, mas acontece. Às vezes a pilha acaba antes da diversão.
Curtindo os últimos dias do verão em Arisdorf.
Andando de moto no Lange Erlen >> http://www.youtube.com/watch?v=wQIGt_46V8s&feature=share&list=UUFqArFtnuOSI5I3wdEfy1aA