sexta-feira, 22 de junho de 2012

Na Terra dos Trolls*

Bem que me falaram que no dia do aniversário do tio Bêto a gente iria fazer tudo aquilo de novo : entra no trem, desce na estação. Entra no outro trem, desce no aeroporto, entra no avião, chega em outro aeroporto, pega outro trem. Parece complicado, e que em algum momento vai dar errado. Mas aqui não dá.
Indo pro aeroporto de Zurich
Embarcando pra Oslo Sentral Statjon


A minha mãe estava trabalhando na Alemanha e só chegaria no dia seguinte. Eu e o meu pai chegamos na Sentral Statjon de Oslo (sentral com s mesmo, em norueguês não existe a letra c) e o tio Figo estava esperando a gente. O tio Figo é o pai da Frida e do Gil, e ele também é irmão do Paulão, o pai do Xico e do Teo. A Frida mora na Noruega, e o Gil mora no Brasil.

Eu, a Frida, e o presente que demos pra ela

A bochecha da Frida é tão grande que quase passa o nariz


Nós ainda não conhecíamos a Frida, e coincidiu que o final de semana que nós escolhemos pra passar com eles, foi também a comemoração do dia do nome da Frida, uma data que os noruegueses chamam de Navnedag. Eles colocam aquelas roupas engraçadas (Bunad, >> http://mylittlenorway.com/2009/05/bunad-norwegian-traditional-costumes/) e vão com as crianças pra uma cerimônia oficial, onde elas recebem um registro com o nome. Depois dessa cerimônia fomos pra casa do Ian, o orientador da Kjersti (Xé, a mãe da Frida), numa das inúmeras penínsulas do Oslofjord (fiorde de Oslo). Teve muita comida gostosa com nome estranho, bolo de chocolate e mais um monte de doce, e cama elástica. 
Tinha que ir vestido bonito

O auditório do cartório central de Oslo, onde foi a cerimônia do nome

Xé e Frida no barco

Indo pra península onde seria a festa. Braço de mar, dentro do Oslofjord

Pra mim o melhor da festa. Tinha uma cama elástica quase só pra mim !

Tio Figo orgulhoso

Frida e sua Bunad (roupa típica)

O tempo na Noruega é diferente daqui. Lá o sol e a chuva ficam trocando de lugar o tempo todo, e não faz muito calor. Eles dizem que na Noruega não tem tempo ruim, tem é roupa inadequada. Ah, e lá nessa época do ano não fica escuro. Eu não entendi nada na primeira "noite". Meu pai dizia que já tava muito tarde, que já eram quase onze horas, mas o sol ainda tava lá. A gente fica cansado e com sono e não entende direito por que.

Nós passeamos muito nos dias que ficamos na casa da Frida. Pra gente tudo era novidade, então qualquer lugar que a gente fosse seria legal. Eles nos levaram na praia de Hvervenbukta, que dá pra ir a pé da casa deles, e pelo caminho passamos por florestas e campos de futebol tão verdes que até doía o olho. Jogamos muita bola e frisbee. Enquanto nós brincavamos nos campos, a Frida ficava sentada na grama, solta, com todo o espaço do mundo pra ela. Também fomos na rampa de salto de esqui em Holmenkollen, no alto de Oslo (http://youtu.be/LIJ-80KTuTA), que foi construída para as Olimpíadas de Inverno de 1952, e modernizada recentemente.

Voltamos pra Suíça na segunda de noite, daquele jeito de novo : sai do trem entra no avião, sai do avião entra no trem. Chegamos em Liestal quase meia-noite, e já não tinha mais ônibus pra Arisdorf. Voltamos pra casa de taxi. Isso é o que me disseram, porque eu dormi no avião. Como um Troll.

*Os trolls são criaturas antropomórficas do folclore escandinavo. Poderiam ser tanto gigantes horrendos – como ogros – como pequenas criaturas. Viviam em cavernas ou grutas subterrâneas.

Eles aparecem com várias formas, uma das mais famosas teria orelhas e nariz enormes. Também lhes foram atribuídas várias características, como a transformação dessas criaturas em pedra, quando expostas à luz solar.

Um campo atrás da casa deles. Igual a gente em Arisdorf. No fundo, um braço de mar do Oslofjord.

11 da noite em Oslo

Te peguei, bochechuda !

Em terra de saci, uma calça dá pra dois !

Essa casinha traduz o que é viver na Noruega

Acho que em Oslo tem mais parquinhos que em toda a Suíça

Tempo ruim? Acessórios anti-chuva são ítens obrigatórios na Noruega. Aqui a Xé tá dando comida pra Frida, pelo buraco da capa do carrinho.

"Praia" de Hvervenbukta, no fiorde de Oslo, num dia de verão norueguês

Minha mãe não para de me beijar nem na Noruega !!

A casinha dos Thorkildsen-Baptista

Rampa de salto em Holmenkollen, Oslo

Rudolf !! A Frida e o Gil me deram um desse de presente. Ele dorme comigo agora.

Futebol e manha


domingo, 10 de junho de 2012

Vermelho

Nesses últimos dias teve de tudo um pouco.

Nosso Anhänger chegou numa sexta-feira, depois de mais de um mês de espera. O moço da loja cada hora dava uma desculpa e pedia pra esperar mais uma semana. Minha mãe falou pro meu pai ligar na loja e dizer que queria o dinheiro de volta. E assim meu pai fez, exatamente como minha mãe falou pra ele fazer. O moço da loja falou que tudo bem, que devolveria o dinheiro, mas meu pai falou pra ele que ainda esperaria mais uma semana. A última. A tática da minha mãe deu certo. Não deu quinze minutos que meu pai desligou o telefone, como num passe de mágica ligaram da loja pra ele :
- Herr Lorenz? Seu Anhänger acabou de chegar!
No dia seguinte fomos pra Münchenstein (http://www.muenchenstein.ch/de/tourismus/vereinefreizeit/freizeitgaerten/) de bicicleta com Anhãger ! Assistimos ao Kinderkonzert lá (http://www.kinderkonzerte.ch/). Um show só com grupos musicais para crianças. Todas as músicas em dialeto, claro. Parecia show de gente grande, com palco, iluminação e tudo que show de adulto tem. Tinha até umas barraquinhas pros pais, que vendia cerveja. E água. Muita água. Fez muito calor naquele dia. Na volta eu pude dormir tranquilo no meu Anhänger que minha cabeça não cai mais pra frente como quando eu vou sentado na garupa da minha mãe.
Meu Anhänger é verde ! Pedala pai !

Eu tava animado no Kinderkonzert

Show do Silberbüx. "In der wunderschöne Wald!"
Escuta eles aqui >> http://www.silberbuex.ch/index.php?id=8

O cardápio de casa deu um upgrade na semana passada. Isso porque meu pai resgatou um pacote de feijão do nosso armário e um pedaço de bacon que veio da Áustria e que tava esquecido na geladeira. Foi uma semana incrível de arroz com feijão e tutu de feijão, com a farinha de mandioca Deusa que titia trouxe. Que farinha boa! Até feijão com Ebly (cevadinha) teve. O ovo frito, a banana e claro, a salsichinha Nüremberg, fecharam o prato delicioso.
E viva o tutu de feijão ! Minha comida preferida.

Percebi que a primavera por aqui é uma época de cores. Começou com o amarelo dos dentes-de-leão, depois o roxo e o escarlate das tulipas, e agora é a hora do vermelho. E quando se fala em vermelho por aqui, milhares de rosas começam a pipocar por todos os cantos, todas as janelas e cercas. E também já começa a resultar o começo do fim da temporada das flores, e a chegada da temporada das frutas. As cerejeiras que estavam peladas no inverno e depois brancas e cobertas de flores no começo da primavera, agora estão carregadas de cerejas. Aqui em Arisdorf e nas cidades vizinhas tem muita cerejeira. Tem até um lugar chamado Kirschland, a terra da cereja. Dizem que todas as cerejeiras tem dono, e que você não pode simplesmente pegar a fruta da árvore. Mas também todo mundo sabe que nessa época, quem tem cachorro sai pra passear com eles de noite. E na manhã seguinte as cerejeiras tem cada vez menos cerejas.
Cerejeiras floridas na primeira semana de abril
Cerejeiras nessa semana

E morango ! Muito morango ! Só que esses sim tem dono de verdade. E eles ficam tomando conta dos seus morangos. Os campos de morangos aqui tem uma barraquinha onde fica o dono, várias caixas de diferentes tamanhos e uma balança. Nós fomos até lá um dia desses :
- Gruetzi ! Como funciona aqui?
- Gruetzi ! Você pega uma destas caixinhas aqui, vai lá, colhe seus morangos e traz aqui pra eu pesar. Você paga e leva seus morangos. Se você quiser pode comer uns dois ou três enquanto estiver colhendo.

Entramos na plantação e parecíamos um bando de macacos numa loja de bananas. Colhemos um quilo de morango, e comemos "uns dois ou treze", cada um.


Experimentando pra ver se tá bom
O Homem-Aranha adora morango

Erdbeeren

O dono do morango trabalhou duro.
Agora ele fica só ali na barraquinha, pesando o morango
 de quem colheu, e contando seu dinheirinho.