domingo, 26 de fevereiro de 2012

Fasnacht

- Rafa, tá na hora de acordar.
- Que dia é hoje?
- Domingo.
- Hoje eu não vou pra escola?
- Não. Hoje ninguém vai pra escola.
- Ebaaaa !!
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Minha mãe tem viajado um bocado esses últimos dias. Na semana passada ela foi pra um lugar com nome esquisito : "Singapuxacomélonge", acho que é isso. E de lá foi pra outro desses países onde todo mundo tem o olho meio puxado de tanto comer arroz, a Tailândia. E de lá pra China. E de lá pra casa. Ela chegou na sexta de manhã. E no domingo já se mandou de novo pra Alemanha. Mas ela não foi fazer compras. Foi trabalhar. Só até terça. Depois ela fica aqui a semana inteira. E no sábado... férias !!! Vamos pra Áustria. Nós alugamos um apartamento numa cidadezinha na montanha, chamada Fiss. No caminho pegaremos o Léo em Zurique. Ele vai com a gente pra lá. O Lupa e a Margarida ficarão em Basel, hospedados no Tierheim de lá.http://www.serfaus-fiss-ladis.at/de/winter/winter-panorama/
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- Rafa, acorda.
- Que dia é hoje?
- Segunda-feira.
- Hoje eu vou pra escola?
- Sim, todo mundo vai pra escola hoje.
- Mas eu não quero.
- Eu também não quero ter que trabalhar. Você quer trabalhar no meu lugar e eu vou pra escola?
- Vamo trocar o dia do calendário?
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Tem um um bairro de Basel que é na fronteira com a Alemanha, que se chama Riehen. Tem vários museus lá. Pra adultos tem a Fundação Beyeler http://www.fondationbeyeler.ch/en/museum/impressions/impressions. E pra (não só) criança tem o Spielzeug Museum, o museu dos brinquedos http://www.spielzeugmuseumriehen.ch/?a=1&t=0&y=3001&r=0&n=121&i=&c=25&v=page3&o=&s=. Na primeira vez que fomos lá estava tendo uma exposição de autoramas antigos. Nessa semana, descobrimos numa propaganda no tram que começaria uma exposição de Lego ! Fomos na quinta-feira novamente lá, pra conferir. Tinha Lego de vários tipos e tamanhos, umas construções incríveis. Mas o que eu mais gostei, claro, foi do trenzinho de Lego. Falei pro meu pai que eu preciso de um desses !
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- Rafa, acorda.
- Que dia é hoje?
- Quarta-feira.
- Hoje é o dia de ir pra floresta?
- É, é hoje o dia ir pra floresta.
- Mas eu não quero.
- Então não vai.
- Tá muito frio?
- Mais ou menos.
- Tem que por luva?
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E quem disse que Carnaval é só no Brasil? Aqui na Suíça também tem ! Do jeito deles. Mas tem. Com regras e tudo. Está escrito em letras garrafais por todos os lados : acate as ordens dos bombeiros. Custou a entender o que aquilo significava. É muito diferente, mas é muito legal. A nossa vizinha, a Martina, falou que no dia 28 começa o Carnaval (Fasnacht) em Basel. Na verdade começa na madrugada de domingo pra segunda, às 4:00 da manhã. Todas as casas apagam as luzes, e todo o povo na rua acende suas lanterninhas (Laterne). Os sinos começam a tocar e... tá valendo. Só termina a festa na quarta-feira. Tem vários blocos de pessoas fantasiadas com umas máscaras típicas, que formam grupos musicais de instrumentos de sopro e percussão. Mas a Martina falou que em Basel tem muita gente, principalmente durante as paradas. Ela falou pra irmos no domingo, hoje 26/2, pra Liestal http://www.fasnacht-liestal.ch/seiten/ (quem acessar a página hoje ainda capaz de ver ao vivo). E eu fui com meu pai ! Valeu a pena. Esses grupos musicais sobem a rua principal tocando música e carregando umas carroças cheias de lenha, que a gente não entendia pra que era. Quando deu sete da noite as luzes da cidade se apagaram. Todo mundo ficou na rua principal, e de repente começam a descer aqueles mesmos grupos carregando luminárias e lanterninhas, e mais atrás deles mais pessoas carregando tochas de fogo imensas ! Na verdade descobrimos depois que eram bombeiros. E isso não era nada... as carroças que subiram a rua, descem agora inteiras em chamas, e todas elas passam por debaixo da torre da antiga entrada da cidade, fazendo fogueiras imensas ! Um troço bem medieval. Uma viagem no tempo. Os bombeiros ficam de prontidão, com as mangueiras ligadas, e mandando jatos de água de tempos em tempos na porta da torre, pra ela não arder literalmente. Uma loucura. Só num lugar como a Suíça que dá pra fazer um negócio desses.... A polícia e o bombeiro não só garantem a segurança, eles também participam da festa. E o povo adora. E aplaude. E toma todas ! Como Carnaval que se preze !
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- Rafa, acorda.
- Que dia é hoje?
- Sexta-feira.
- Amanhã é sábado?
- É. Amanhã é sábado.
- Tem que ir pra escola amanhã?
- Não.
- E hoje?
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Lupa e Margarida brincando no "Desktop do Windows"

Lego anos 70

Dia de semana no museu, o brinquedo é só meu !

A origem do nome Lego : do dinamarquês "leg godt",
 em alemão "spiel gut", em português algo como "brincadeira boa"
Fasnacht, Liestal, 26-2-2012

Banda de metais e percussão. Eu gostei da tuba !

Uma banda de flautins sobe a rua lateral da cidade velha. Liestal, 26-2-2012

Carroças carregadas de lenha. A torre principal da cidade ao fundo.
Essas mesmas carroças, depois passam de volta em chamas por debaixo da torre.

O cavalo anda pra frente. O homem anda pra trás.

Esperando a "marcha do fogo"

Descem as primeiras tochas

Parece incrível. Essa fogueira sobre rodas vai passar pela porta da torre !

Outra fogueira sobre rodas, indo em direção à torre, ao fundo.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Leben und Lernen

Reigoldswil é uma cidadezinha bem perto de Arisdorf. O ônibus 70 vai até lá, só que a gente nunca tinha ido. Já tínhamos visto várias vezes o ônibus 70 na estação de Liestal, mas nunca pensamos em ir até lá.
Era um domingo frio, que amanheceu lindamente, com o sol entrando pela janela do meu quarto e esquentando meu edredom, porque meus pais esqueceram de fechar a minha janela na noite anterior. Não a janela de vidro, que barra o frio - senão todo mundo congelaria - mas a de madeira, que fica do lado de fora, pra barrar a luz. E  nesses dias o frio tem sido duro com a gente. Quando faz sol então, é porque vai fazer mais frio. Já faz uns 15 dias que o termômetro não passa do zero, pra cima. Nesse domingo foi, até agora, a manhã mais fria aqui em Arisdorf.

Isso congela a bochecha
Só que como estava muito sol, e no dia anterior tínhamos comprado minha roupa de esqui e um trenó, resolvemos ir pra Reigoldswil, com os cachorros.http://www.wasserfallenbahn.ch/en/angebot/winterangebot/schlittel-plausch/ Descobrimos que lá tem uma pista de trenó de 4 quilômetros ! Era tudo o que a gente queria ! Sol, trenó, neve ! Tem alguns dias que eles fazem um negócio chamado Schlittelplausch, que é mais ou menos o seguinte : você pega o teleférico no final da tarde, come um fondue no restaurante lá de cima e volta de trenó à noite, com a pista iluminada com tochas de fogo! Só que mais uma vez não contávamos com o frio, de rachar, não só o lábio. Reigoldswil estava lotado de gente. 15 minutos de caminhada do carro até o teleférico. Mais 40 minutos na fila do teleférico. Tudo isso a mais ou menos -10°C. Na fila do teleférico meus dedinhos começaram a doer, a Margarida começou a tremer, minha mãe perguntava se não tinha outro jeito de subir o morro, e o nariz do meu pai pingava. Aprendemos mais essa : no frio você não pode ficar parado. Quando entramos no bondinho do teleférico foi aquele alívio. Mas foi só chegar lá em cima que o que estava ruim ficou pior ainda. Mais frio. E vento. E ainda tinha mais uma coisa. Nosso trenó é para duas pessoas. Eu, claro, e mais alguém.  Tentamos entrar no restaurante pra nos esquentarmos um pouco mas o dono não deixou. Disse que já tinham fechado. Meu pai nessa hora desistiu. Só queria saber de entrar no bondinho de volta e descer o mais rápido possível. E assim ele fez. Ele e os cachorros. Eu e minha mãe ainda tentamos descer pela pista de trenó, mas bastou mais uns poucos minutos pra gente perceber que aquilo não seria uma boa idéia. Acho que os nossos corpos descendem de uma linhagem evolutiva tropical, cuja epiderme não está devidamente adaptada a situações extremas de troca de calor. Quer dizer, quando faz muito frio, eu começo a chorar. Pegamos o bondinho de volta, 5 minutos depois que o meu pai tinha descido. E quando chegamos lá embaixo ele já estava esperando a gente com o carro ligado e o ar-condicionado no máximo. Só que aqui na Suíça é ao contrário do Brasil. O ar-condicionado é pra esquentar. E a geladeira também, diga-se de passagem.

O resultado catastrófico do nosso domingo polar foi uma sinusite aguda pro meu pai, e uma gripe que derrubou a minha mãe. Eu saí ileso. Os cachorros também, apesar da Margarida ter sofrido um bocado. A semana foi de antibiótico, chá de gengibre e cama pra eles. O inverno é que nem o mar : quando a gente pensa que está tudo bem, que já sabemos como as coisas funcionam, ele se encarrega de ensinar que ali quem manda é ele, e que a gente é muito pequeno perto da força dele. Um dos moços que fez nossa mudança aqui em Arisdorf, em novembro, antes de ir embora falou assim : "Boa sorte pra vocês. Cuidado com o inverno. O frio enferma."

Mesmo com o frio, a vida aqui na Suíça segue como se nada estivesse acontecendo. Pra gente é estranho tanto frio. mas pra eles, que sempre viveram assim desde que o mundo é mundo, tá tudo normal. Todo mundo vai pro trabalho, as crianças vão pra escola, e ainda tem uns malucos que vão de bicicleta !? Inacreditável... -12°C e o cara na rua de bicicleta. Dá frio só de olhar. Pra ir pra escola usamos a técnica da cebola : camiseta de algodão, camisa de manga longa, moleton, casaco de fleece e casaco de neve. Embaixo,  calça-meia (meia-calça é de menina, calça-meia é de menino) meia, calça e bota de inverno. Ah, e claro, luva e gorro. E capuz.  Agora a gente fica menos tempo fora, e mais tempo dentro das casas. Mas quem acha que ficamos brincando dentro da escola, achou errado. Nós saímos quase todos os dias, debaixo de sol, chuva ou neve. E nas quartas-feiras continuamos indo pra floresta. É o dia que eu mais gosto. Ainda não me acostumei muito bem com as luvas, porque elas insistem em sair da minha mão. Mas eu já sei que eu preciso delas de qualquer jeito. E meu pai continua indo me buscar na escola de ônibus/tram/trem. Só de segunda e quarta que a gente vai de carro, porque ele tem que ir depois pra aula de alemão. Mas a gente também combinou que quando está menos que -7 ou -8°C a gente vai de carro. Estamos buscando nosso limite, que por enquanto parece ser por aí.

A família Barba voltou ! Fomos conhecer a casa nova deles em Freiburg. Agora eles estão numa casa muito bacana, com três andares, e um forno de ladrilho no meio da sala, pra aquecer a casa. E como esquenta ! Fomos no último sábado de manhã pra lá e passamos o final de semana com eles. No sábado, eu, minha mãe, a Camila, o Xico e o Téo fomos no teatro. O Paulão e meu pai preferiram ir no lugar predileto deles : a Feierling http://www.feierling.de/index.php?option=com_content&view=article&id=15&Itemid=29 . E no domingo passeamos um pouco perto da casa deles e depois fomos no Museu de História Natural de Freiburg, onde está acontecendo uma mostra de serpentes. De lá fomos almoçar na Martin´s Bräu, outro dos lugares preferidos dos meninos mais velhos http://www.mbfr.de/index.php?page=wochenkarte&id=8 .


No começo do mês que vem minha mãe vai tirar uma semana de férias, e nós vamos pra um lugar que é mais ou menos aqui perto chamado Fiss, num país vizinho, a Áustria http://www.serfaus-fiss-ladis.at/en/winter/highlights/ . Pra ir pra lá teremos que passar por dentro de um lugar que meus pais dizem que é do tamanho de uma fazenda - o Vovô Funcia vai gostar de saber disso - só que tem um rei que manda ali no pedaço : se chama Liechtenstein. Esse lugar só é conhecido porque é muito pequeno. E dizem que o arco-íris termina ali.

Como é que o pé deles não congela sem meia?

Martin´s Bräu
Casa nova, família Barba crescendo, só motivo !

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Inv(f)erno

Arisdorf num desses dia brancos de inverno
Parte I - Inverno
http://www.youtube.com/watch?v=3F1xNM39NAY (também gosto dessa!)

A vizinha falou no mês passado, e a gente duvidou. O frio ainda não chegou. Como assim? Fica mais frio que isso? Fica. Pode acreditar que fica. E engana-se quem acha que o sol traz calor. Aqui ele traz é mais frio ainda. Daqueles de congelar primeiro a orelha, depois a ponta do nariz, depois os dedos dos pés, e por último os dedos das mãos. E quando isso acontece, é porque tá na hora de procurar um lugar quentinho. Mas ainda é pior quando fica tudo nublado e chovendo ou nevando. Porque fica úmido. E aí o frio parece que pega direto no  osso da gente. O Paulão fala "pra baixo de -5°C é melhor. O pior é entre +2°C e -4°C e úmido".

Nesses últimos dias tem nevado bastante aqui em Arisdorf. Fica tudo diferente. Fica tudo branco, e a gente não sabe mais onde termina o campo e começa a floresta. Ou onde termina a rua e começa a calçada. Mas aí vem um caminhão com uma pá gigante limpando tudo, e deixa a rua preta de novo.
Bus Haltestelle - Arisdorf Schulhaus. Ao fundo, Hauptstrasse 66, nossa casa.
Olha meu casaco novo ! Agora sim, vai Tricolor !

Os cachorros ficam alucinados quando saem pra passear na neve. Eles adoram. É igual a quando eles pisam na areia da praia. Até o Lupa, que é um lorde, fica super agitado na neve. Eu acho que é porque o pé dele fica gelado, e aí eles correm pra esquentar. Mas meu pai disse que eles não sentem frio como a gente,  porque eles já tem um casaco natural, que é aquele monte de pelo deles. O Lupa chega a deitar e rolar na neve. E a Margarida não para um minuto. Aliás a Margarida...
Margarida em ação na neve
http://youtu.be/jx2BKAVGJaI

Parte II - Inferno
Bem, a Margarida entrou no cio há duas semanas. E foi aquele pinga-pinga a semana inteira. Meus pais quase enlouqueceram de tanto ficar limpando o chão. Por causa do frio, os cachorros tem ficado uma boa parte do tempo dentro de casa, na área de serviço e às vezes no escritório - meu pai gosta de ficar com o pé embaixo do Lupa. Enquanto ela tava só pingando tudo bem. De uma hora pra outra, sei lá o que aconteceu com o Lupa, que ele deixou toda sua etiqueta de lado, esqueceu que ele era um lorde, e começou a atazanar a vida da Margarida. Um dia eles estavam do lado de fora comendo, e de repente a gente começou a escutar a Margarida chorando. Quando fomos lá fora ver o que era... já era. Tava cada um virado pra um lado, com o bumbum colado um no outro. Meu pai falou que eles estavam tentando fazer filhinho. Era tudo que a gente não queria. Imagina 10 Lupas e Margaridas !?! Meus pais cortaram o barato dos dois na mesma hora. Assim que eles desgrudaram, a Margarida foi pra clausura, e o Lupa, como é mais peludo, ficou pra fora. Só que o frio tava muito forte. O jeito foi deixar o Lupa dormir dentro de casa, e a Margarida na área de serviço. A noite toda o Lupa ficava andando de um lado pro outro, arranhando a porta da área onde tava a Margarida. E quando a gente colocava ele pra fora de dia, ele começava a uivar e cavocar o chão pra tentar passar por debaixo da porta. O Lorde... quem diria, despertou nele os seus instintos mais primitivos. Não foi fácil controlar o Lupa. A Margarida por outro lado parecia que tava até mais calma. Até que...

Até que bastou uma bobeada do meu pai. Um dia ele deixou a Margarida presa do lado de fora enquanto foi me buscar na escola. Quando chegamos em casa, cadê a doida? Tava só a guia onde ela estava presa. O Lupa dentro de casa babando. E mais nada. Nem sinal dela. Até agora é um mistério como ela escapou. Meu pai acha que foi arte de algum moleque que viu ela presa e soltou. E lá foi ele pela vizinhança procurando a insana e assobiando. E andou e andou, e nada. Até que ele desistiu e voltou pra casa. Ou ela apareceria em casa mais tarde, ou receberíamos uma ligação de algum vizinho. Ou da polícia. No final da tarde ela apareceu em casa de volta, como se nada. Até que no dia seguinte...

27/2, sexta-feira - 11:00 da manhã
Blén blén blén. Toca o sino de casa. Meu pai abre a porta. Uma senhora se apresenta:
- Bom dia, eu sou a Frau Zeller. Eu vim até o correio e vi essa linda cachorra presa aí na sua casa. Ela é sua?
- Bom dia, sou o Herr Lorenz. Sim, ela é nossa.
- Bem, eu não sabia que ela era sua. Até que quando eu saí do correio eu a reconheci.
- Hmm.
- Ela fugiu esses dias, não?
- Sim, fugiu.
- É. Eu também moro na Hauptstrasse, mais lá pra baixo, no número 24.
- Sei.
- Eu crio galinhas em casa.
- ...[mudo]
- Eu tenho 40 galinhas em casa. Na verdade agora são 38. Eu estava em casa ontem e comecei a ouvir um barulho pouco normal no galinheiro. Olhei pela janela e vi minhas galinhas voando e gritando. Aí eu vi sua cachorrinha no meio delas. Com uma delas já na boca.
- Oh...
- Como eu não a conhecia, fiquei com medo de sair. Não sabia se ela era agressiva, mas ela estava bem agitada. Quando eu abri a porta ela me viu. Ainda correu atrás de outra galinha. Eu saí de casa então, e ela fugiu.
- Puxa vida, não sei como isso foi acontecer. Eu a deixei presa ontem antes de sair. Não tenho a menor idéia de como ela conseguiu se soltar e fugir... Mais alguma galinha morreu?
- Na verdade eu tive que sacrificar outra, porque ela tinha um corte profundo na nuca.
- Oh... mil desculpas [mato essa cachorra hoje]. Se a senhora teve algum prejuízo eu faço questão de ressarcir [lazarenta].
- Veja bem Herr Lorenz, eu não vim aqui pelo dinheiro. Vim apenas avisá-lo que como ela atacou e mordeu minhas galinhas, se ela sentiu o gosto ou o cheiro do sangue, se ela escapar de novo, ela vai voltar na minha casa.
- Entendo... Não sei o que dizer para a senhora. Apenas lhe peço que aceite minhas desculpas. E se eu puder ajudar em algo, por favor.
- Apenas certifique-se que a Margarida não escape mais.
- Sim, Frau Zeller.
- Tenha um bonito dia Herr Lorenz.
- Tenha um bonito dia Frau Zeller.

27/2, sexta-feira - 4:30 da tarde
Blén blé blén :
- Olá Herr Lorenz.
- Olá Frau Zeller.
- Hoje de manhã estive aqui, e lhe falei sobre as galinhas, do incidente de ontem.
- Sim, claro.
- Tive que sacrificar outra galinha.
-...[mudo]
- Embora eu tenha lhe falado sobre o dinheiro, eu terei que repor as galinhas. Já são três galinhas. Meu marido pediu que eu conversasse novamente com o senhor, para que nos repusesse as galinhas.
- Sim, claro, Frau Zeller. A senhora já repos as galinhas, ou quer que eu reponha?
- Eu comprarei as galinhas.
- E quanto custa cada uma?
- $$$.
- Hmm. Não tenho esse dinheiro agora em casa. Na segunda-feira deixo na sua casa [mato essa cachorra antes].
- Obrigado Herr Lorenz, e desculpe importuná-lo. Tenha uma bonita noite.
- Não há de que, Frau Zeller. Tenha uma bonita noite.

28/2, sábado (acharam que tinha terminado?)
Sábado estava um dia propício para procurar coisas usadas na Alemanha. Acordamos cedo, tomamos café e fomos pra Grenzach, numa loja de usados que descobrimos outro dia. Eu estava precisando de uma roupa de neve.
Demos comida aos cachorros, e como o dia não estava tão frio (+1°C, besteirinha...) o Lupa ficou pra fora e a Margarida na área dentro de casa. Fomos em três lugares diferentes de coisas usadas. E achamos praticamente tudo. O negócio aqui é comprar usado ! Minha mãe foi à loucura com essa história. Da próxima vez ela disse que vai levar as minhas roupas que não servem mais pra mulher da loja vender, e daí elas dividem o preço da venda. Minha mãe adora essas coisas. E ela é boa nisso.
O dia parecia perfeito. Todo mundo feliz, cheio de roupa nova (ou semi) !
Chegamos em casa. Tudo normal. O Lupa parecia conformado. A Margarida...
Bem, a Margarida. Como sempre. Acho que ela se entediou de ficar na área. E pegou todos os panos, e todas as toalhas. Até aí tudo bem. Mas quando meu pai arrumava a bagunça, ele encontrou as caixas dos remédios dela. Vazias. Todas mastigadas. Bom, ela estava em tratamento, e havia melhorado bastante, tanto que já estava tomando um quarto de comprimido dia sim dia não. No começo era 1 comprimido e um quarto todo dia. Vejam só. Só que dessa vez ela achou que se comesse tudo de uma vez ficaria boa logo. Pelas nossas contas ela comeu 15 comprimidos de uma vez. Estava explicado porque o pote de água estava vazio. Quando minha mãe colocou mais água no pote de novo, a Margarida voou na água. E tomou tudo de uma vez. Esse remédio dá sede. Pra encurtar essa história, não aconteceu nada do que os veterinários falaram pros meus pais que podia acontecer. Ela não ficou agitada (mais do que ela já é?) e não ficou agressiva. Acho que na verdade ela gostou dos comprimidos. Os olhinhos dela brilhavam. Estamos pensando em trocar o nome dela para Amy "Weinhaus".

Tudo bem com ela agora. O cio já foi embora. O Lupa já recobrou os sentidos e o comportamento nobre. Ela não fugiu mais. A paz voltou a reinar em Hauptstrasse 66. Semana que vem ela faz novo exame de sangue. E se estiver tudo certo, na sexta-feira dia 10 a festa acaba pra ela. Vamos ter uma cadela eunuca em casa.

Primavera = Flor. Verão = Maçãs. Outono = Folha. Inverno = Galhos.

Neve é diversão garantida. Até pros cachorros !