quinta-feira, 19 de abril de 2012

O Escargot da Páscoa

No feriado da Páscoa nós fomos acampar em Montreux. Eu não tive aula na quinta, na sexta e na segunda, mas o feriado oficial aqui na Suíça é só sexta e segunda. Tínhamos combinado com os Barbas que eles viriam para nossa casa na quinta de noite e que viajaríamos para lá na sexta de manhã. Era uma ansiedade só. Minha mãe voltando de Paris e o Paulão da Inglaterra, tudo isso na quinta de noite, um chegando na estação de trem e o outro no aeroporto de Basel. A chance de dar alguma coisa errada era considerável, isto é, se estivéssemos no Brasil, na véspera de um feriado prolongado. Mas como aqui o relógio não atrasa e pagamento é feito em dia, deu tudo certo.

Porém, como nada é perfeito, muito menos o clima, tivemos que esperar para ir pra lá. Graças às maravilhas da Internet soubemos que o tempo em Montreux e arredores só melhoraria de domingo em diante. Chovia, nevava e fazia frio por l
á. Resolvemos ficar mais um pouco em Arisdorf. Não preciso nem dizer que na sexta e no sábado, eu, o Chico e o Teo quase enlouquecemos de tédio de ficar em casa, e quase enlouquecemos nossos pais. Mas como eles viram que não tinha jeito, o jeito era sair pra passear debaixo de chuva mesmo. E foi só a gente sair de casa que São Pedro percebeu que aqui embaixo tinha gente querendo se divertir um pouco. A chuva deu uma trégua, e fomos na sexta para a Torre de Maisprach fazer farofa, e no domingo pra Reigoldswil tentar enfim conhecer aquele lugar, agora com uma temperatura suportável. Mais farofa, high-tech, claro.


Chegando em Sonnenberg, Maisprach (675m a.n.m.)

Farofa #1

Limpando o excesso de chocolate
Todo mundo equipado pra chuva

Vale das Maçãs
Suco de maçã fresco no caminho. Encha sua garrafa. Deposite o dinheiro na caixinha ao lado. Simples assim. Isso é a Suíça.

O telerico de Reigoldswil, onde quase congelamos em fevereiro.

Tostex de Emmental pra aliviar as lombrigas do povo. Reigoldswil


Mala, cuia, bicicleta, etc.  Lac de La Gruyère

No sábado de noite a previsão do tempo para os dias seguintes era animadora. Resolvemos que iríamos no domingo bem cedo pra Montreux. Como os Barbas já tinham tudo no esquema no carro-casa deles, eles saíram na frente, e nós uns 40 minutos mais tarde. Com mala, cuia, bicicleta, Lupa e Margarida. Quando entramos na Autobahn 2 recebemos uma mensagem deles uns 50 quilômetros na nossa frente :  "neve na estrada". Bateu aquele medo do desconhecido, de como seria acampar abaixo de zero, mas seguimos em frente, pois estávamos bem equipados pra encarar o frio. Na semana anterior havíamos ido na Decathlon de Moulouse renovar todos os nossos ítens de acampamento. E valeu cada centavo. Paramos na estrada para tomar café em Lac de Gruyère, onde os Barbas esperavam a gente. Tempo fechado, garoa, daquela que dói de frio no osso. Em seguida começa a "descida da serra" pra região do lago de Genebra.



A chegada em Montreux por esse caminho deixa claro por que a Suíça é um cartão postal. Montanha, neve, lago e milhares de flores colorindo cada canteiro e cada sacada. Visual de tirar o fôlego.

Chegamos em Montreux no começo da tarde, e resolvemos ir conhecer o castelo da bruxa, ou melhor, onde elas eram queimadas há muito tempo atrás. O castelo de Chillon fica na beira do lago, e é o monumento histórico mais visitado da Suíça http://www.chillon.ch/en/. Depois da visita fomos fazer um picnic na beira do lago, em Villeneuve. Nesse pedaço da Suíça eles falam como na França : tütütü pipipi tütütü. Eu acho engraçado, e meu pai fica tirando barato deles. Dali achamos um camping vizinho, só que estava lotado. Fomos então um pouco mais pra frente, até Neville, onde tínhamos nossa reserva no Camping Les Grangettes . O moço da recepção ficou dando risada pra minha mãe, e meu pai me disse que o nome dele era Arrelia. Eu não entendi, mas meu pai e o Paulão riam muito.



Antigamente banheiro era assim. Conexão direta com o lago lá embaixo.
Queima, bruxa, queima !

Mais farofa, na beira do lago. Castelo de Chillon e Montreux ao fundo.


Vista do camping Les Grangettes, Neville.

 E finalmente apareceram nossos ovos de Páscoa. No domingo de noite o Lupa começou a latir e latir. Eu tinha certeza. Era ele. O coelho da Páscoa. Ou, como ele demorou tanto, pode ter sido também o escargot da Páscoa. Aliás, entre parênteses, os escargots começaram a aparecer aos montes em Arisdorf. Teve um dia que nós pegamos 18, sem muito esforço. E noutro dia, depois da chuva mais 24. Minha mãe e meu pai cresceram os olhos, e agora eles puseram os bichos numa caixa pra que eles comecem a pagar as nossas contas. Sei lá o que isso quer dizer, mas eles falam que o Vovô Funcia faz isso também e que dá certo http://www.helixsp.com.br/.


Nossa noite na barraca foi uma experiência nova pra mim. Dormir de gorro e luva. Isso eu nunca tinha feito. Muito menos dormir dentro de um saco. Tava tudo tão quentinho que niguém queria acordar no dia seguinte. Mas parece que os Barbas penaram um pouco durante a noite fria. Eles não estavam devidamente equipados pra uma temperatura tão baixa quanto a que pegamos, e além disso o aquecedor do carro-casa falhou.

Nossa casa portatil

Eu acordei suando, enquanto os Barbas passaram um frio danado.

Entre sobreviventes da noite fria resolvemos que o dia seria das bikes. Senão não havia motivo pra termos trazido toda aquela parafernália. Não tínhamos uma rota e nem um destino. Simplesmente montamos nelas e saímos pedalando, apenas seguindo as placas das ciclovias turísticas, ou por onde achávamos que seria mais legal. E é assim que as melhores coisas acontecem, pois como já diziam os Vikings há mais de mil anos : não planeje tudo em detalhes.

Pedalando sem destino certo

Reunião de cupula

Quem decide na verdade

Fim de tarde, Neville