segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Floresta

Como é bom passear na floresta ! Nessa época então ela fica linda. Vermelha. Cheia de folhas cobrindo o chão. Eu gosto de andar pelo canto das trilhas chutando as folhas. E também gosto de me deitar no chão em cima delas, e aí meus pais me cobrem de folhas.


No sábado fomos pra Freiburg, na Alemanha, porque minha mãe queria ir numa loja de armários que tem lá, e encontramos o Paulão, a Camila, o Téo e o Xico. Fizemos um passeio pela Schwarzwald (Floresta Negra), só que chegamos tarde e só pudemos andar um pouquinho. O sol se põe cada dia mais cedo, e agora às 5 da tarde já tá escuro. Mas sempre é muito bom encontrar com nossos amigos Barbas. Eu me divirto com o Xico e o Téo, e meus pais e os pais deles riem à toa, o tempo que estiverem juntos. A minha mãe e a tia Camila discutem todos os problemas da humanidade e não param de falar, ao mesmo tempo, o tempo todo. Meu pai já me explicou que isso é uma coisa que só as meninas conseguem fazer. Meu pai e o Paulão parecem mais preocupados em escolher a próxima cerveja. E isso é o que os meninos sabem fazer.


No domingo tava frio. Mas tava sol. Minha mãe deu uma idéia : vamos sair por aí de bicicleta, pra aproveitar o sol. Bem, "sair por aí de bicicleta" é um pouco diferente aqui na Suíça. Pode significar ir pra outra cidade, pra outro estado, ou mesmo pra outro país. Tudo é tão perto. Olhamos no mapa e vimos que havia um lugar aqui perto de Rheinfelden, que tinha um mirante : Sonnenberg Turmstube http://www.fricktaler-hoehenweg.de/gallery/category/2-frick-rheinfelden.html. E que se o dia estivesse aberto, como era o caso, dava pra ver até os Alpes ! Minha mãe falou que um moço que trabalha com ela contou que tinha um teleférico pra subir no mirante. E lá fomos nós : Arisdorf-Kaiseraugst-Rheinfelden-Magden-Maisprach, 17 km, ufa! Chegamos no pé do morro. E... cadê o teleférico?? Ninguém nunca tinha ouvido falar de teleférico naquela região... E a rampa era tão inclinada que nem bicicleta elétrica nem nada. Não teve outro jeito. Tivemos que empurrar as bicicletas morro acima até o estacionamento. E de lá seguimos a pé. Ascenção de 632 metros.
Mas a vista, e a Weisswurst (salsicha branca) na brasa da lareira recompensaram nosso esforço.

O dia tava frio, sol e aberto ! Deu pra ver lá longe, os Alpes ! É pra lá que a gente vai no inverno brincar na neve !



A cidade ali embaixo não é Piracaia não ! É Maisprach.

Fim de tarde. Pôr do sol. Temperatura despencando.
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Pera e maçã. Pragas por aqui. Ainda bem.

domingo, 13 de novembro de 2011

Os Cães e o Carro, Um Novo Começo

No final de semana passado meu pai foi para o Brasil buscar o Lupa e a Margarida. Ele disse que encontrou com todo mundo bem rápido e que comeu feijoada no sábado de dia, pizza no sábado de noite e foi no Filé do Moraes almoçar no domingo. Minha mãe foi buscar ele e os cachorros na terça feira de manhã no aeroporto de Zurique com o carro que a gente tem emprestado. Parece que os cachorros vieram dormindo no porão do avião.

Eles chegaram bem e logo que desceram do carro na nossa casa de Arisdorf já saíram cheirando tudo pra conhecer o novo território. O Lupa, o Lorde, como sempre, fez tudo como um cachorro comportado. E a Margarida, a Louca, descobriu que tinha uva na cerca e comeu tanto que deu o maior trabalho pro meu pai no dia seguinte de manhã. Eles tem dormido do lado de fora, enquanto o inverno não chega de verdade. Mas já tem um cantinho dentro de casa separado pra eles, pra quando o frio apertar. O Lupa, que é bem peludo, tá achando uma delícia o friozinho. Ele tem dormido largado na grama. A Margarida, como tem o pelo mais curto tá se virando como pode. Dorme enroladinha num canto do chão de madeira ou já se encosta no Lupa. Outro dia ela conseguiu o que queria, que era dormir dentro de casa. Ela começou a latir pro nada era quase meia-noite, porque já que por aqui não passa ninguém a essa hora, nem cachorro, nem gente, nem carro, então ela latiu simplesmente porque é cachorro, e tá no seu direito. Mais do que rápido minha mãe desceu e colocou ela e o Lupa no quartinho da dispensa.

Enquanto meu pai estava no Brasil, eu e a minha mãe ficamos aqui em Arisdorf e fomos de novo pra Basel na Messe com o Paulão, a Camila, o Xico e o Téo. Teve mais um casal de amigos do Paulão e da Camila, o Martin, a esposa e a filha Sophie, que também encontraram com a gente. Minha mãe ficou super orgulhosa de ter me levado sozinha de bicicleta mais a minha mochila, a bolsa dela e sem errar o caminho. Mais um dia de brinquedos e depois fomos no Museu de História Natural de Basel http://www.nmb.bs.ch/ . Lá tem vários bichos, mas não é como no zoológico, porque nenhum bicho se mexe. Dizem que é porque estão empalhados, ou porque morreram faz muito tempo e já não existem mais. Não entendi direito essa parte, mas tudo bem. O que eu mais gostei foi de uma colmeia transparente que tinha lá e que a abelha-rainha fica marcada com uma estrelinha. Vale a pena a visita. Quando chegamos em casa, minha mãe, como eles dizem, tava com a macaca : me colocou pra dormir, depois lavou duas máquinas de roupa e ainda fez faxina. O que será que tinha no bolinho que ela comeu?

Eu acho que estou começando a entender mais coisas em alemão. Minha mãe disse que teve uma noite, enquanto meu pai estava viajando, que eu comecei a falar em alemão enquanto dormia. No dia seguinte, quando ela foi me buscar na escola, a professora disse que eu estava aprendendo muito rápido. E no outro dia, eu falei minhas primeiras palavras em alemão na escola. Eu já sei os nomes de todas as estações do ônibus, da nossa casa até a escola ! Meus pais falam sempre pra mim que se algum dia eu me perder, eu tenho que falar que eu moro em Arisdorf Schulhaus, que é o ponto de ônibus em frente de casa. E que minha escola fica perto de Pratteln Bahnhof.

Com a chegada do carro, nossa vida mudou um pouco. Eu já percebi que se eu enrolar um pouco mais na cama pra acordar de manhã, a gente perde o ônibus, mas agora dá pra ir de carro. Fiz isso dois dias. Mas no terceiro dia meu plano falhou. Minha mãe percebeu minha tática e me acordou mais cedo. E meu pai botou nossa vida de novo na rotina acorda-cafédamanhã-ônibus-tram. A vantagem é que agora a gente pode ir quando quiser pra Alemanha comprar o que falta. Ficou bem mais rápido e pode trazer bem mais coisas do que de bicicleta. Também ficou bem mais fácil de jogar fora as garrafas de vidro.

Ontem, por exemplo, fomos pra Alemanha comprar algumas coisas que irão faltar na nossa casa : uma cama pra visita, um armário pro meu pai, um armário pra minha mãe e uma mesa pra sala de jantar. É o tipo de programa que minha mãe fica alucinada, meu pai fica animado nos primeiros 20 minutos e depois parece que caiu um raio na cueca dele, e eu entro na sala de brinquedos e não quero mais sair de lá. Depois de algumas horas minha mãe exorciza o vendedor até ele dar o desconto que ela quer (se ele não tiver mais argumentos ela já sabe que ganhou o jogo), meu pai começa a fazer aviõezinhos de papel com os folhetos da loja e eu utilizo minhas táticas de guerrilha pra tirá-los daquele lugar - ameaço fazer xixi na calça, depois cocô e por fim começo a tirar a roupa, e se nada disso funcionar eu começo a gritar, porque eu sei que eles odeiam.

Hoje, domingo, fomos pra Kirchdorf, na casa de um amigo de longa data do tio Beto, o Taborda. Ele e a mulher, a Claudia, moram há mais de 20 anos aqui na Suíça, e têm um filho e uma filha já grandes, e uma cadela Labradora, a Haila. Eles nos deram várias dicas de como é a vida por aqui, onde ir, o que fazer e como as coisas realmente funcionam. Eles foram muito legais com a gente, e nós combinamos de nos encontrar em breve aqui, pra eles conhecerem nossa casa de Arisdorf. Saímos de Kirchdorf já de noite, e eu cheguei em casa dormindo. Mais uma vez, só me lembro de entrar no carro e pedir um gole de água pra minha mãe.