segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Frohe Weihnachten

Lange Erlen, 26/12/2011

Tudo estava tranquilo na nossa casa de Arisdorf na noite de Natal. O jantar servido. Todo mundo se refestelando com camarão ao curry e Nuslisalat. Minha mãe dizendo pra mim que o Papai Noel chegaria a qualquer momento com os nossos presentes. Vovô Funcia e Vovó Celina conversando com o Isaia, e tomando um vinho que eles diziam que estava incrível. O Lupa e a Margarida bem acomodados do lado de fora. Meu pai de repente subiu pra buscar alguma coisa. E foi aí que começou um barulho ensurdecedor de helicóptero dentro da sala de jantar... Que medo ! É o Papai Noel chegando!? Alguém disse. Cadê as renas? Cadê os duendes? E esse barulho? Vem cá vovó ! Não largo mais do seu pescoço... Abriram a janela da sala : nãão. O barulho do helicóptero aumenta. De repente chega pela janela um saco vermelho! E uma gritaria generalizada de todo mundo. Chegaram, chegaram os presentes ! Eu queria mesmo era estar em baixo da mesa. Puxam o saco de presentes pra dentro de casa e a janela se fecha. E o helicóptero vai embora. E meu pai reaparece correndo... coitado dele, não viu o Papai Noel chegar... Em seguida foi uma sucessão de caixas de presentes sendo trocados entre todos. A maioria dos pacotes vinham parar na minha mão : esse é da Voinha, esse é da Titia, esse é da Dinda, esse é da Vovó Rosali, esse é da Vovó Celina e do Vovô Funcia, esse é da mamãe e do papai, esse outro também é da Dinda, e mais esse do Beto, e ainda tem mais esse outro do... ufa! Não tenho a menor idéia de quem me deu o que. Mas minha mãe sabe direitinho e depois me conta. Me lembro de ter brincado nesse dia até depois de todo mundo ir dormir. E só fiquei eu e minha mãe na sala de jantar.

Acordamos no dia seguinte depois das 11:00 da manhã. Como é bom dormir bastante. E tava sol ! Fazia tempo que o sol não dava as caras por aqui. Na semana do Natal nevou bastante. Mas depois choveu muito, e levou toda a neve embora. E esquentou. Assim, oito graus... isso já é bem quente aqui, quase calor. Mas quando chega o sol no inverno é sinal que vem frio. Foi só colocar o nariz pra fora de casa pra perceber. Meu pai correu no termômetro e trouxe a notícia : 1 grau. Mas e daí? Aqui na Suíça é assim. O clima é só um detalhe. Cansamos de ver gente passeando com cachorro e andando de bicicleta de baixo de nevasca.

Sendo assim, fomos passear. Era o último dia dos meus avós aqui. 25 de dezembro. Eles pegariam o vôo de noite de volta pra São Paulo, onde diziam que fazia muito calor. Será que o Papai Noel vai de sunga pro Brasil entregar os presentes? Apesar de estarmos naquele clima pós noite de Natal em que todo mundo parece comprometido a comer até sair pelas orelhas, decidimos que o melhor a fazer era passear a pé pra ver se ajudava a digestão da noite anterior. Almoço do dia 25 passou longe. Nem pensar. Foi a melhor coisa que (não) fizemos. Fomos de carro até Maisprach por um caminho novo, passando por Olsberg e Magden, duas cidadezinhas de contos de fadas aqui do lado de casa. Não que Arisdorf também não seja, mas se aparecer fada por aqui a Margarida bota pra correr. Vimos um pôr do sol lindo de cima do Sonnenberg, no meio da floresta. Acho que meus avós vão ficar com aquela imagem gravada na memória por um bom tempo.


Minha mãe odeia essa careta

No caminho das ruínas do castelo de Waldenburg

Leitura no tram pra passar o tempo (parodiando o "es-prezidente")
25/12/2011 - 16:36

Depois voltamos pra casa e fomos levá-los pra estação central de Basel. Eles pegariam o trem pra Zurique às 18:40 do domingo 25 de dezembro. Nessa última semana a nossa programação foi intensa : o incrível Museu do Automóvel em Mulhouse (França, http://citedelautomobile.com/fr/home ) ; Waldenburg, uma descoberta e tanto (http://www.cityalbum.de/schweiz/waldenburg.htm); e mais Aquabasilea, com direito a Vovô no tobogã... (foi demais pra ele! Tinham que ver a cara dele saindo da água).
Torre do castelo em Waldenburg
Trilha pro castelo em Waldenburg

Segunda-feira, 26 de dezembro, foi um dia muito diferente. Eu acordei e o quarto deles estava vazio. Aliás, a casa estava vazia. Minha mãe disse que eles já chegaram em São Paulo. A nossa casa de Arisdorf é grande.E ficou maior ainda. Os sapatos deles não estão mais lá no armário perto dos meus. A minha escova de dente tá sozinha dentro do copo. E ninguém comeu waffle no café da manhã.

Waldenburg Schlossruine - 23/12/2011
Pausa pra comer mexirica

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Neve, muita neve !

Arisdorf, no primeiro dia de neve de 2012

Bem que falaram que iria esfriar. E que iria nevar em Arisdorf. Os últimos dias tem sido assim. Frio, e neve. Muito frio. E muita neve. Tudo ficou branco. Da noite pro dia. Parece mágica. O campo de futebol que era verde, ficou branco. A Fussweg (rua de pedestre) atrás de casa que era preta, ficou branca. Até os pinheiros do nosso jardim que eram verdes, ficaram brancos. A cerca que meu pai e o vovô colocaram no jardim para os cachorros também ficou branca. Aliás essa história é ótima. Eles colocaram uma cerca linda no nosso jardim. Só que a danada da Margarida, a Louca, aprendeu a pular a cerca, o que era o medo do meu pai. E a premonição do padre. O Lupa, o Lorde, fica apenas sentado do lado da cerca, olhando a Louca do outro lado, numa atitude de aparente reprovação. E ela foi além. Dentro da premonição do padre. Ela fugiu outro dia. A vizinha veio aqui avisar um dia que um menino que estava tendo aula de religião no nosso Keller (porão) ao ir embora esqueceu seu patinete aqui em casa. Voltou apressado pra buscá-lo e esqueceu o portão aberto. Era tudo que a Louca precisava. Os vizinhos se deram conta, e o menino responsável pela fuga quase se mijou nas calças após a constatação da besteira que fez. Foi uma correria. Nós tinhamos ido visitar o museu do vidro em Hegiswil  http://www.glasi.ch/ , e não tinha ninguém em casa. Os vizinhos saíram correndo atrás dela e só assustaram mais a Louca que começou a ir mais pra longe. Já tava quase na igreja. Diz a vizinha, que nessa hora o Lupa colou no portão e começou a uivar sem parar. Uivou que uivou, que uivou tanto, que ela voltou. Como se nada tivesse acontecido. Como quem se explica : mas eu fui só até ali na esquina comprar umas coisinhas e já tô de volta...
A cerca nova que a Margarida aprendeu rápido como pular
Hergiswil, a cidade do vidro, 19/12/2011
Museu do vidro, Hergiswil, 19/12/2011

Ao abrir a janela de casa em 18/12/2011

O meu pai foi no sábado ajudar na mudança dos Barbas. Eles estão indo pra uma casa maior em Freiburg, pertinho do apartamento onde eles moram hoje. Só que com mais espaço pra todo mundo. Eles viajam pro Brasil na sexta, e quando eles voltarem vamos nos encontrar de novo pra continuar nossas histórias incríveis pela Europa com eles. Eu fiquei em Arisdorf com a vovó Celina e o vovô Funcia. Nesse dia foi quando começou a nevar de verdade. A gente ficou em casa brincando com o meu trenzinho, e de esconder o sapo. O dia passou rápido. A minha mãe chegou de noite, junto com meu pai e a tia Dani, amiga deles da faculdade que tava em Basel trabalhando, e que passou o domingo com a gente. Fomos em Augusta Raurica para eles conhecerem lá. Tava diferente, claro. Tudo branco. Levei meu patinete. Mas tava muito frio. E ao chegarmos em casa eu sabia que ía ter que fazer aquilo que começa a ser meu pesadelo : banho. Não gosto mesmo. Aqui na Europa as pessoas não ligam muito. Mas minha mãe fica louca com essas pessoas que não tomam banho e que acham que os outros não percebem. Mas não teve jeito. Meu pai criou uma regra besta : bastou eu molhar minha cueca com um xixizinho de nada, e pronto. Banho. Se eu não gosto ou não quero fazer alguma coisa, eu me jogo no chão. Só que agora meu pai criou uma nova arma contra essa minha tática. Ele fala que o chão é sujo, e que eu tenho que tomar banho. Daqui a pouco ele vai falar que o ar que eu respiro é sujo, e que eu preciso tomar banho.
O inverno chegou aqui
Emmental, com muita neve !

Hoje nós fomos pra Emmental. Parece que o lugar é conhecido por todo mundo que gosta de queijo. E nós fomos lá no coração do lugar. Aonde fazem o queijo Emmental. O cheiro daquele lugar dava vontade de comer queijo. Nós visitamos a fábrica do queijo Emmental e aonde ainda é feito até hoje o queijo original, numa panela enorme. De cobre. Feito a lenha. Meu pai disse que o avô do avô do avô do bisavô daquelas pessoas já faziam queijo ali. Há muito tempo. E a receita não mudou. Só depende das vacas que moram ali. E do que elas comem. E assim, dizem, é em toda a Suíça. A vaca. O pasto. A altitude. E assim é no mundo inteiro. Inclusive em Aiuruoca. Onde o Saulo prepara aquele incrível queijo "parrrmezôn", com o incomparável leite tirado pelo Tião e pelos seus descendentes na divisa dos três Estados...

A tecnologia do leite. Emmental, 20/12/2011

Maturando o queijo Emmental. Cada um pesa 95 kg . 20/12/2011

Fazendo manteiga. Emmental, 20/12/2011

Como tudo começou em Emmental

Fondue com o queijo adquirido na fonte. 20/12/2011
Tião tirando o leite da Brasília. Aiuruoca, MG, 14/11/2004

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Geburtstag !

Ainda não entendo direito essa história de aniversário. Que coisa. De um dia pro outro eu já podia entrar na sala de brinquedos do IKEA. De um dia pro outro me falaram que eu tinha crescido. Será que fazer aniversário dá dor de barriga? Pelo menos comigo aconteceu. Meus pais dizem que foi porque eu comi muito brigadeiro e muito bolo. Mas não era pra ser assim? Fizeram dois bolos de açúcar mascavo e brigadeiro. Um pra eu levar pra escola e outro pra quando eu chegasse em casa. Eu comi so dois. Quando meu pai foi me pegar na escola, o tio Chris falou pra ele que o bolo estava muito bom, que todas a crianças comeram, e os professores também. Mas o que realmente era bom, ele falou, era aquele docinho de chocolate. Ele abriu um olhão e falou pro meu pai : Diese hier war seeehr gut ! Was ist das? (Esse que tinha aqui era muuuito bom. O que é isso?). Pediram até a receita. Brigadeiro é universal ! Aqui na Suíça tem coisas muito muito boas. Mas não tem brigadeiro. Nem pão de queijo.
Bolo de açúcar mascavo

Mas o melhor ainda estava por vir. Eu cheguei em casa e começaram a me dar presentes ! Ganhei muita coisa legal : um São Nicolau verde, duas sungas, uma touca de natação de dinossauro, uma luva sem dedo igual à do meu pai, um filme da turma do Mickey, um trenzinho de madeira pra juntar com o que eu já tenho, um patinete, e o uniforme completo do Tricolor ! E eu fiquei sabendo que todos aqueles presentes foram da minha família em São Paulo. Meu pai me mostrou todos eles numa foto que a gente tem aqui em casa, e eu já sei quem me deu o que !

Meu trenzinho novo !
O patinete. Agora eu tenho o meu !
O vovô Funcia e a vovó Celina estão aqui se divertindo com a gente. Eles estão ainda um pouco como a gente ficou logo que a gente chegou aqui. Ficam olhando pra tudo e admirando tudo. Tudo é novo. Tudo funciona. Tudo é inox. Todo dia comem waffle de café da manhã. E tomam Ovomaltine. E cada dia comem um queijo diferente. E descobrem um novo tipo de Wurst (salsicha). E voltam pra casa maravilhados. Outro dia eles passaram o dia dentro de uma loja de ferramentas na Alemanha. Meu vô disse que agora o sítio vai ficar bem sinalizado.

No sábado fomos conhecer Luzern. Fica a 1 hora de casa. É uma cidade na beira de um lago. Linda. Tem uma ponte de madeira pras pessoas atravessarem o lago, do lado novo pro lado velho da cidade. E tem umas montanhas tão altas que lá em cima cai neve. A gente foi de teleférico lá no lugar mais alto da montanha, o Monte Pilatus http://www.pilatus.ch/ . Dá pra ver o lago Vierwaldstättersee inteiro de lá de cima. E tinha muita neve ! Eu nunca tinha visto, nem estado na neve. É frio pra caramba. Frio não, gelado. Mas foi muito bom deitar na neve e fazer guerra. De vez quando vinha uma nuvem e a gente não via mais nada. Ficava tudo branco, como a neve.
Guerra de neve

Segundo meu pai, o inferno é branco.

Lucerna, do alto do Monte Pilatus

No bondinho que leva a gente lá pra cima do Monte Pilatus

No domingo meu pai foi levar minha mãe no Aeroporto de Basel, porque ela tinha que ir pros Estados Unidos trabalhar essa semana. Quando meu pai chegou de volta do aeroporto tinha sol, e eu ajudei ele a colocar uma cerca de madeira no nosso jardim. Algumas crianças tem medo do Lupa e da Margarida. Mas acho que as mães delas tem mais medo. Só sei que os cachorros tinham virado o assunto da cidade, porque algumas crianças que tem aula na parte de baixo da nossa casa não queriam mais vir aqui. Depois que colocamos a cerca, nós fomos passear com os cachorros. Eles gostaram da cerca. Tomara que a Margarida não aprenda a pular a cerca. Meu pai falou pro padre que dá aula de religião pras crianças que a Margarida era mais irriquieta e que gostava de fugir. E o padre só comentou "alle Frauen sind" (todas mulheres são)... Meu pai ficou amigo do padre.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Achtung, fertig, los !

Semana agitada a que passou.

Chegaram nossas coisas de São Paulo ! Chegaram meus brinquedos ! Não aguentava mais aquele Playmobil com capacete de pinico todo dia me olhando. Agora posso entrar de novo no meu foguete e só sair de lá quando eu quiser. E levar meus outros carrinhos lá pra dentro. Meus pais até que ajudaram, e me deram alguns brinquedos bem divertidos nesse tempo em que minhas coisas não chegavam. Ganhei um tapete que tem uma pista de carrinho desenhada em cima dele. E a minha vovó Rosali também me mandou uns bloquinhos de madeira pra eu construir as casas e as cidades em volta do meu trenzinho de madeira. Eu e meu pai construímos Pratteln Bahnhof, Liestal Bahnhof, a nossa casa e a escola de Arisdorf e até um prédio redondo de Basel. E no final da construção eu sempre virava o Godzila e destruía tudo. Mas nada como ter de volta o Buzz ! E a moto dele ! E minha cabana de bolinhas !

O container chegou na nossa casa em Arisdorf na sexta-feira, dia 2 de dezembro, com nossas 139 (!?) caixas. Meus pais estavam no final do dia com uma cara que só me lembro de ter visto uma vez : quando foi o dia da mudança de São Paulo. Eles falaram que encaixotar dá trabalho pros outros. Desencaixotar é a nossa parte. E depois ainda tem que colocar tudo no lugar. Agora já é domingo, e devem ter sobrado umas 15 caixas ainda por abrir. Tem coisa espalhada pela casa inteira. Meu pai disse que o importante é quando mudar alguma coisa de lugar lembrar onde colocou, porque se não corre o risco de só encontrar na próxima mudança.

Eu acho que já consigo entender um monte de coisas que eles falam aqui na Suíça. Mas falar ainda é um pouco difícil. Eu aprendi algumas músicas na escola, e quando eu brinco eu gosto de cantar. E eu percebo que meus pais ficam quietos olhando pra mim quando eu começo a cantar. Será que eles entendem o que eu canto? Acho que sim, porque eles agora também estão indo pra escola. Pra aprender a falar alemão também. Eles já falam um pouco, e eu acho engraçado quando eles tem que conversar com alguém aqui. Parece que as pessoas estão o tempo todo dando bronca umas nas outras.

No sábado acordamos cedo e continuamos a desencaixotar a casa. O que eu mais escutava mais pais falarem era "nossa, pra que é que a gente trouxe isso". A manhã passou tão rápida que quase perdemos a hora de ir buscar o vovô Funcia e a vovó Celina na Basel Bahnhof. Eles vieram passar o meu aniversário e o Natal com a gente. Chegaram às 13:24. Os suíços são assim. Eles não gostam de chegar às duas da tarde ou às oito da noite. Eles preferem por exemplo às 13:24, ou então às 7:58. E eles chegam sempre exatamente na hora que eles falam que vão chegar. Eu estava com saudades deles, e só me dei conta disso quando o dia foi passando e eu fui percebendo que eles não estavam mais guardados só na minha cabeça. Eles estavam agora ali. Do meu lado. E eu podia dar a mão pra vovó Celina pra atravessar a rua, e ir deitar no meio deles de manhã, como a gente fazia lá no sítio em Piracaia.

E nessa semana, nossa querida Bisa Tília virou uma estrelinha lá no céu...
Abril de 2009, com a Bisavó Tília, quando eu ainda era um pacotinho