segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Herbstmesse

Nesse fim de semana começou a Herbstmesse (Feira do Outono) em Basel. A cidade fica cheia de gente. Em cada praça tem alguma coisa acontecendo. E muitos brinquedos e comida. A historinha da feira é mais ou menos a seguinte :
No dia 11 de julho de 1471,  o Imperador Frederico III, presenteou o então prefeito de Basel, Hanssen von Berenfels, o direito de promover uma Feira de Outono (em caráter perpétuo). A feira começa 14 dias antes do dia de St.Martin. Tradicionalmente, no primeiro sábado antes de 30 de outubro, os sinos da igreja de St.Martin soam ao pôr do sol, marcando o início das festividades. A feira dura duas semanas e termina na noite do terceiro domingo. Neste período várias atrações ocupam as principais praças da cidade, e se misturam com o cheiro dos doces especialmente preparados para a ocasião.
http://www.basel.com/en.cfm/baselinfo/baselbilder/offer-BaselInfoBT-Speziell-155706.html

Como nossos amigos Barbas também são muito festeiros, nós nos encontramos em Basel e passamos a tarde do domingo conhecendo a feira. Nós fomos numa roda gigante (http://www.youtube.com/watch?v=0kTfFUtc02I) e no chapéu mexicano :


Depois dos brinquedos fomos até a Marktplatz para comprar cogumelos, pro nosso jantar. Lá tem uma barraquinha de domingo que vende um monte de tipo diferente de cogumelos. São uma delícia. Meu pai comprou um pouco de cada, pra fazer um macarrão pra mim, pro Xico e pro Téo, e pra fazer na chapa da racleteira pra eles e pro tio Paulão e tia Camila. Eles disseram que raclette é uma comida de gente grande. Ainda bem, porque hoje de manhã todo mundo que comeu raclette tava com dor de barriga... Enquanto eles comiam, eu, o Xico e o Téo ficamos brincando e lendo a história do Saci e do Curupira.


Na semana passada eu fiquei meio injuriado de ter que ir pra escola todo dia. Eu bem que pedi pra não ir quando meus pais me acordaram. Mas não adiantou. Eles me tiraram da cama naquele frio e a gente entrou no ônibus. Quando chegamos na escola eu tentei outra saída : vou segurar no pescoço da minha mãe e não vou deixar ela ir embora. Mas a tia Saskia me puxou mais forte do que eu consegui segurar. Comecei a chorar. Não adiantou. Comecei a berrar. Também não adiantou. Ei, vocês vão me deixar aqui mesmo? Eles foram embora... Ah, é? Tá bom. Então vou fazer xixi em todas as calças que eles me puserem. E fiz. Mas também não funcionou, porque na escola tinha mais calça, e eu já não tinha mais xixi. E a tia Saskia foi a maior traidora... Ainda contou pros meus pais que assim que eles foram embora eu parei de chorar.


Esse semana meu pai vai pro Brasil buscar meus cachorros : Lupa, o Lorde, e Margarida, a Louca. E as nossas coisas que ainda não chegaram, devem chegar de navio lá pro dia 20 em Bremenhaven, e aqui em Arisdorf lá pro dia 28, porque a polícia tem que abrir e conferir tudo que veio.

O carro que a gente ía comprar aqui na Suíça, não vamos mais. Outro dia minha mãe pegou um taxi pra voltar do aeroporto pra casa, e o motorista do taxi falou pra ela que ela era louca de comprar carro aqui. Tinha que comprar aonde? Na Alemanha. Ele convenceu minha mãe. Que convenceu meu pai. Vamos tentar resolver isso logo, porque tá ficando frio pra voltar de bicicleta da escola. E daqui a pouco não vai dar mais pra andar, porque dizem que o chão congela e as pessoas caem da bicicleta. E eu não quero cair...



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Aquabasilea, Carros e mais frio

Já descobri que um dia de sol não quer dizer que está calor. Isso não era assim. Em São Paulo quando tem sol eu posso ficar de shorts. Aqui não dá. Outro dia eu não quis por minha luva de jeito nenhum, e meus dedos ficaram duros e vermelhos, que até doeu e eu chorei. Depois desse dia eu comecei a reparar que as outras crianças estão saindo de casa cada dia com mais roupa, gorro, luva, cachecol... Na semana passada meus pais foram até Rheinfelden, que é uma cidadezinha aqui do lado na Alemanha, onde eles compraram um monte de roupa de frio pra gente. Agora tá todo mundo quentinho. Mas lá fora tá muito frio. E dizem que vai fazer mais frio ainda.

Conhecemos alguns vizinhos. A Pia e o Urs foram os primeiros. Eles tem dois filhos que já são grandes. A Pia é professora de música para crianças, e o Urs tem um museu de bicicletas antigas, na garagem da casa deles aqui em Arisdorf. Quando perguntamos se eles haviam nascido em Arisdorf, eles contaram que a casa onde eles moram (em frente a nossa) era do bisavô do Urs. A Pia fez até uma piada, que o Urs é aborígene. A Pia vai às segundas-feiras na minha escola Pumuckl pra cantar. Ela contou pros meus pais que no meu primeiro dia na escola eu já saí cantando e dançando com a Stella, e que todos ficaram admirados por eu ser uma criança nova na escola e já tão aberta. É que eu gosto de dançar. Na sexta conhecemos a Martina, que é a vizinha do lado. Ela mora em cima da padaria. Ela é quem limpa o porão da nossa casa, que é onde o pessoal da Kirchgemeinde (conselho da Igreja Protestante Reformada) se encontra.

Teve um dia na semana passada que choveu, e nós fomos para Frenkendorf, aqui do lado, pra uma entrevista com um moço que falou que a gente agora teria um monte de deveres aqui na Suíça. Ele tirou uma foto nossa e depois mandou pra casa uma carteirinha pra cada um, com a foto e o nome. Meus pais disseram que essa carteirinha é agora nosso documento de identidade. Eu não sei bem o que isso quer dizer, mas meus pais ficaram muito felizes porque agora a gente pode fazer um monte de coisas que antes não podia. Inclusive comprar um carro. Aliás, no sábado nós fomos procurar um carro pra gente. Um que coubesse todo mundo, mais a Margarida e o Lupa. Fomos em várias lojas, e eu entrei em um monte de carro, que meu pai falava : senta aí e dirige, porque provavelmente vai ser a única vez. Mas encontramos o carro que a gente queria. Na semana que vem a minha mãe quer voltar lá pra fazer uma coisa que ela gosta muito de fazer com os vendedores, e que ela é muito boa : se chama "negociar", e no final quase sempre ela consegue o que ela queria. Nessas horas meu pai sai de perto, porque dizem que ele mais atrapalha do que ajuda. Mas ele faz bem outras coisas.

Pelo caminho de volta achamos uma loja de bicicletas que vendia o tal do Anhänger, que é como se fosse um trailer pra bicicleta. Muitos pais com crianças usam isso por aqui, e a gente acha pode ser uma boa idéia ter um desses, porque ele serve pra levar outras coisas também, como compras, cachorros, mais crianças. E do jeito que meus pais estão andando de bicicleta, e agora puxando um Anhänger, quem precisa de academia? Minha mãe conseguiu que o moço da loja encontrasse um desses usados pra teste, com um monte de desconto. Só tem que ir na outra loja buscar. Falei que minha mãe era boa de "negociar"...

No domingo acordamos tarde, ficamos enrolando na cama um tempão, nós três. Depois comemos "ueifal" (waffle) com maple syrup e pasta de amendoim. Também teve Gipfeli da padaria com Nutella. Eu adoro sábado e domingo, porque meus pais me deixam comer um monte de coisas gostosas que de dia de semana eu não posso. Comi um monte de ursinho de goma também, mas não no café da manhã. Como já estava tarde pra ir para Basel em algum parque, e também estava frio, a gente foi para Pratteln, num parque aquático fechado chamado Aquabasilea ( http://aquabasilea.ch/en/index.php). Meus pais me deixaram ir com a minha bicicleta. Tinha várias piscinas quentinhas, cada uma de um jeito e de um tamanho diferente, e cada escorregador enorme, um mais legal que o outro. Eu fui com meus pais em todos eles, menos no verde, porque aquele era só pra adulto. Tinha até um que a gente foi de bóia. O dia passou tão rápido que nós nem percebemos. Quando vimos já estava ficando escuro do lado de fora do parque. A última coisa que eu me lembro desse dia é de entrar no ônibus pra voltar pra casa.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Regenhose und Wanderschuhe

Na quarta-feira é o dia que eu e meus amigos da escola vamos pra floresta (Waldtag). A professora pediu pros meus pais comprarem pra mim um sapato de ir pra floresta (Wanderschuhe) e uma calça que não molha (Regenhose). O meu impermeável azul ela falou que serve. Eu também quero uma luva, porque outro dia meus dados ficaram muito frios e até vermelhos. É, o frio chegou. E dizem que ainda vai ficar bem mais frio. Será que existe luva de nariz?

No sábado a família Barba, que são a tia Camila, o Paulão, o Téo e o Xico vieram pra cá. O Xico me deu sua Regenhose que não serve mais pra ele ! E uma bota de neve (apesar de eu não saber ainda o que é isso). Eles chegaram no começo da tarde, e nós fizemos um passeio até uma torre de observação (Aussichtturm) que tem aqui bem pertinho de casa. É um passeio lindo, pelo meio da floresta, e que chega numa torre de 30 metros que a gente pode subir. Claro, pagando. Aqui na Suíça parece que pode tudo, ou quase tudo, desde que você pague. Lá de cima da torre dá pra ver todas as cidades aqui de perto, até Basel. Dá pra ver também o rio Reno e a Alemanha do outro lado do rio. Tem um lugar perto da torre que as pessoas podem trazer suas comidas pra almoçar ali. Se quiserem também tem um restaurante.

No domingo fomos todos de bicicleta pra Augusta Raurica( http://www.augustaraurica.ch/e/menu/index.php ), pra eles conhecerem lá. Até eu e o Xico fomos de bicicleta :

A gente passeou bastante esse dia. Fomos nos anfiteatros, na antiga padaria romana, no parque de animais, e depois ainda tomamos sorvete e comemos Wienerli (salsicha típica) com mostarda. Voltamos pra casa no fim do dia pregados, na garupa do meu pai.

No nosso próximo encontro com a família Barba provavelmente a gente já vai ter um carro, e aí a gente combinou de ir conhecer um castelo aqui perto, na França. Será que lá tem monstro e bruxa?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Panis et Circensis

Nesse último sábado descobrimos que Arisdorf  não é tão pequena assim. Tem uma padaria! Do lado de casa. A moça de lá eu acho que não é da Suíça, porque o cabelo dela é preto e ela usa um brilhante no meio da testa.  Mas o pãozinho que ela faz é delicioso, e quentinho. Compramos quatro Gipfelis (o nome do croissant aqui) , e eu comi dois inteiros. Um antes de chegar em casa. E também uma bengala parecida com a ciabatta da padaria do Valdir, lá em São Paulo. Eu achei a padaria daqui diferente da que tem em São Paulo. Aqui eles não fazem pão na chapa e também não tem pão de queijo. Nem café com leite.

Durante a última semana eu fui para a escola todos os dias. Já comecei a entender algumas coisas que as professoras falam comigo : pipi machen, komm hier, tchuss, ja, nein. Tá bom pra começar. Pelo menos não molho minha calça mais. Descobri também o poder do meu dedo indicador !

Na quinta-feira, quando eu voltava da escola com meu pai de bicicleta, a gente resolveu parar na beira de um riacho porque eu queria por a mão na água. Tava muito fria. Quando meu pai foi me colocar de volta na bicicleta, ele se desequilibrou e o pedal da bicicleta bateu na perna dele e fez um buraco. Saiu sangue. No sábado de noite ele foi no hospital porque ainda tava doendo muito. O médico do hospital mandou ele tomar remédio durante uma semana e ficar com o pé pra cima. Mas ele tá bem. Ah, em Arisdorf  tem um médico.

No sábado de tarde teve jogo de futebol no campo da escola ao lado de casa, e nós levamos minha bicicleta e a bicicleta nova da minha mãe, elétrica, pra andarmos na quadra da escola. Os suíços jogam diferente do que no Brasil. O juiz apita e ninguém acha ruim. O resto é igual. Atrás de um dos gols fica um cara vendendo cerveja e pão com salsicha.

No domingo fomos no circo em Basel. Tinha equilibrista, globo da morte, mágico, camelo, mas eu gostei mesmo foi do palhaço, apesar de não ter entendido nada do que ele falava. No final do espetáculo eu andei no pônei do circo. Tinha muita criança, e eu me enfiei no meio delas e os moços me pegaram pra eu dar uma volta, antes da minha mãe pagar. Depois minha mãe pagou, e eles me deixaram andar de novo. Os suíços são muito legais. Dormi no tram, voltando pra casa, e só acordei na estação do trem em Liestal, antes de entrar no ônibus que volta pra nossa casa em Arisdorf.

O que realmente mudou nestes últimos dias foi o clima. O sol sumiu e só aparecia muito de vez em quando. No domingo de manhã tava muito frio. Mas dizem que ainda vai ficar mais frio. Dentro da nossa casa é quentinho. Tem uma grade em cada quarto que esquenta o lugar.

Essa semana minha mãe vai ficar na Alemanha até quarta-feira. Quando ela viaja, eu durmo com o meu pai na cama deles.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Primeiro dia na escola

3/10/2011 - Hoje me acordaram muito cedo. Tava frio e com uma névoa muito forte. Mas meu pai falou que faria sol, porque o telefone dele disse. Aliás o telefone dele sabe tudo. Até qual ônibus ou tram a gente tem que pegar e a que horas.
Faz uma semana que meus pais começaram a me ensinar uma palavra que só hoje eu entendi : Pumuckl. Essa é minha escola nova aqui na Suíça.http://www.chinderhuus-pumuckl.ch Meu pai me levou e me apresentou pras tias. Só que elas também não falavam como a gente fala em São Paulo... Tem uma tia chamada "Saskia", que fala uma língua que parece que ela me entende um pouco. Ela diz que fala italiano. E falou comigo umas palavras esquisitas : vene co´me, ela disse. Eu achei que era pra comer, e não quis. Mas ela esticou a mão na minha direção, e meu pai falou pra eu ir com ela. Ela tem cara de muito boazinha. E eu fui. Tem também uma tia baixinha que usa um lenço amarrado na cabeça e no pescoço. Só dá pra ver o rosto dela. Será que ela não tem orelha? Mas ela também parece ser bem boazinha. Depois meu pai disse que aquelas crianças eram agora meus amiguinhos da escola. Mas cadê o Artur? O Vitor? A Valentina? A Manu? Agora meus amigos são a Anuk, o Jürgen, a Raphaela (essa foi fácil!). Meu pai me perguntou se eu tinha gostado daquele lugar, e se eu queria ficar. Fiquei meio desconfiado, mas como eles estavam indo num zoológico eu quis ir com eles. E eu fui. Ele então entrou no carro e eu entrei com meus amigos e com as tias no tram. E passamos a manhã no zôo, vendo os bichos, brincando e fazendo pique-nique. Eu falava as coisas e a tia Saskia tentava me entender. Aí eu apontava, gesticulava, mostrava e finalmente ela me entendia. Acho que vou ter que aprender a falar como eles. Aqui nessa escola não precisa levar lanche de casa. Que bom! Não aguentava mais banana, danoninho e pão com pasta de amendoim... Sinto falta do meu suco de açaí. O lanche e o almoço é feito pela escola. E tem muito iogurte, cenoura, queijo (suíço, ah como é bom o queijo aqui!), e muita fruta e verdura (blarghh... vou ter que aprender a comer verdura). Teve também sanduíche de carne. Eu comi de tudo.
Voltamos pra escola de novo de tram. E meu pai veio me buscar de bicicleta (carro pra quê? Só no frio). Fomos pra nossa casa em Arisdorf por um caminho lindo, pela beira de um rio, no meio de um bosque, passando por uma ponte de madeira, e por Augusta Raurica (de novo), as ruínas romanas que eu falei no post anterior. Amanhã iremos de ônibus e tram, junto com a minha mãe. Só que ela não vai pegar o tram. Ela vai em outro ônibus pro trabalho dela. Que é bem pertinho da minha escola Pumuckl.

domingo, 2 de outubro de 2011

Depois de uma semana...

Depois de uma semana, eu começo a entender um pouco como as coisas funcionam aqui na Suíça. Já deu pra perceber que cada dia tem uma comida diferente. Meu pai liga o som na cozinha e só sai de lá quando a comida fica pronta, e cada uma melhor que a outra. Gostei mesmo foi de uma tal de Wurst. E também de Spätzli, uma massinha deliciosa, cada vez com um molho. Foi-se o tempo da torta de legumes! Eu também ajudo a colocar a mesa.
Ontem fomos pra Alemanha, no supermercado, porque falaram pra gente que tudo era mais barato lá. Parece que é mesmo. Meus pais ficaram andando de um lado pro outro lá como loucos, falando uns nomes esquisitos, e davam risada... Almocei uma comidinha que uma moça preparou dentro do supermercado e que dava pras pessoas experimentarem. No final da tarde voltamos pra casa e eu dormi no carro. Eu tava pregado. Meu pai disse que vai voltar na Alemanha essa semana pra comprar uma bicicleta nova, elétrica, o hit daqui. E um trailer, pra levar eu, a Margarida e o Lupa, quando eles vierem, que vai engatado na bicicleta.
Hoje, domingão, acordamos tarde, e fomos pra Augusta Raurica, que é aqui do lado de casa. Um parque que descobrimos por acaso ser o maior sítio arqueológico da Suíça. Sei lá o que é isso, mas meus pais estavam animadíssimos e fazendo planos pra quando as pessoas vierem visitar a gente, de levá-los nesse lugar. Eu adorei porque pude andar de bicicleta o tempo todo pelas trilhas do parque.
Parece que temos que aproveitar o dia ao máximo, porque dizem que quando o inverno chegar a gente ficará muito tempo dentro de casa. Meus pais me deixam brincar na rua até escurecer, umas 7:30 da noite. Depois a gente entra, toma banho, janta, brinca mais um pouco e vai dormir. E amanhã descobriremos se minha escola estará aberta nessa semana.