segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Gasthaus Lorenz

Basler Rathaus (Prefeitura de Basel, Marktplatz)

Amanhecer em La Tzoumaz, Verbier, Suíça, 1600m

Mais um ano. Mais um Natal. Dezembro é aquele mês que promete frio, mas ele fica enrolando. Esfria, neva, esquenta, chove, derrete a neve, faz sol, esfria, neva, esquenta, etc. Os suíços insistem em dizer que o inverno ainda não chegou. Tudo bem, mas o Lupa e a Margarida já têm que dormir dentro de casa, apesar do cobertor natural deles. A minha mãe morre de frio de noite. Pijama e meia de esqui. Eu e o meu pai temos muito calor. Dormimos debaixo do edredom, mas só de cueca.


6/12 - Samichlaus

Nesse dia, todos os anos na Suíça, tem a visita do Samichlaus (São Nicolau). Ele visita a gente de noite, e chega tocando um sino, com seu ajudante, o Schmutzli, que se veste todo de preto. O Schmutzli é quem carrega a tocha de fogo que ilumina o caminho deles no meio da neve, e o saco com os presentes para as crianças que se comportaram e que comeram tudo. Na minha escola Pumuckl, ele falou que visitaria a gente numa Waldhütte (refúgio na floresta) que fica no alto do Sulzchopf, que é um morro em Muttenz, aqui perto. Todos meus amigos e os pais foram lá na noite do dia 6. Era umas sete da noite quando todo mundo saiu da Waldhütte. A Pia começou a cantar, e nós começamos a escutar o barulho do sino. Uma tocha de fogo apareceu vindo da floresta em nossa direção. Era o Samichlaus e o Schmutzli. Nós fizemos uma roda, e ele parou no meio. O Schmutzli tirou do saco um grande livro e o abriu. O Samichlaus começou a ler o nome de todas as crianças e a falar quem se comportava direito e quem comia toda a salada. O Schmutzli segurava o livro e a tocha de fogo. Ninguém consegue ver a cara dele. Dizem que antigamente o Schmutzli levava embora no saco as crianças que não se comportavam bem. Por isso que os suíços fazem tudo direitinho. O Samichlaus usa uma roupa e um gorro vermelho, e tem a barba branca, como o Papai Noel do Brasil. Será que eles são amigos? Depois nós cantamos mais uma música pra ele, e então ele distribuiu um saquinho com presente pra cada criança. Dentro tinha uma mexirica, amendoins e um pão doce, como manda a tradição suíça. Nada de brinquedo. Essa é outra história.

Samichlaus e Schmuzli - 6/12/2012 - Sulzchopf, Muttenz

No livro do Samichlaus está anotado os nomes
das crianças que não comem toda a salada.

Inverno em Arisdorf. Nosso carro amanhece às vezes assim.

Mais uma invenção incrível da minha mãe.
Nossa árvore de Natal é um cactus. 


16 a 21/12 - Avoriaz

Minha escola entrou em férias no dia 14 de dezembro. Então nós descobrimos um lugar lá no alto da montanha, na França, chamado Avoriaz (http://www.avoriaz.com ). Fomos pra lá no dia 16 e ficamos até dia 21. Nevou tanto, mas tanto, que quase não dava pra ver a ponta do nariz. Ainda bem que meus pais marcaram aula de esqui e Village des Enfants (http://www.village-des-enfants.com/index_hiver.php ) pra mim todos os dias, senão eu acho que eu destruiria o apartamento que a gente alugou. Eles só conseguiram esquiar um dia e meio, dos cinco que nós ficamos lá. Mas eu não. Eu fui todos os dias na escola de esqui, e conheci um monte de gente que falava em francês : o Baptiste e o Max, que eram os professores, a Barby que também ficava com a gente de tarde, e as crianças, a Serena, o Freddie e o Clemence. Tinham várias outras crianças, mas eu não sou muito bom de nome. Como a minha mãe. Nos dois últimos dias de aula, eu já ia e voltava esquiando da escola de esqui. Aprendi a andar no lift, aquele cabo que puxa a gente pra cima da montanha. No final ganhei mais uma medalha, e um livrinho onde tá escrito tudo o que eu já sei fazer, olha só : http://youtu.be/8fjhMy7pdpE
Avoriaz é um lugar que com certeza nós voltaremos.

Um lago congelado no caminho pra Avoriaz, França.

Village des Enfants, escola de esqui modelo. Avoriaz, França.

Nosso apartamento, na beira da falésia. Nada mau.


O Homem-Aranha volta a atacar na neve.
Eu já sabia... era tudo mentira !


Natal

No dia 22 de dezembro, chegaram a minha prima Sussu e o namorado dela, o Matteo. Eles ficaram na nossa casa em Arisdorf até dia 26. No dia 23 fomos levar a Sussu pra montanha ver neve. E andar de Schlittel (trenó), claro, um dos nossos passeios preferidos. Fomos pra Grindelwald (http://grindelwald.ch), e nos divertimos muito lá. Levamos até o Lupa e a Margarida, que ficaram alucinados no meio de tanta neve. No dia 24, chegou também o Nico, o irmão do Matteo que mora em Zurique, pra passar o Natal com a gente.
Nosso Natal esse ano foi bem agitado. Foi uma festa e tanto. Fomos pra casa do Paulão e da Camila, em Freiburg, onde também estavam os pais do Paulão, os pais e o irmão da Camila, a irmã do Paulão com a família, e ainda o Pablo, a Stella e as duas filhas. No total éramos incríveis vinte e oito pessoas ! Minha mãe fez uma salada gigante e meu pai fez cinco quiches. A Camila fez um prato típico da Alemanha, que era ganso num molho de maroni, um tipo de tâmara. Muito vinho, cerveja, claro, e vários doces. Foi um Natal típico. Aquela zona com crianças correndo, gritando e abrindo desesperadamente aquela quantidade sem fim de presentes vindos de todos os tios, tias, avós, amigos. A maior mágica foi conseguir fazer com que as vinte e oito pessoas comessem e bebessem, todos sentados na casa da Camila e do Paulão. Nós voltamos pra casa quase três da manhã. No dia seguinte em casa, ninguém acordou antes do meio-dia. E de noite continuou a nossa saga gastronômica, finalizando a salada e as quiches que não acabaram, além do queijo e do vinho. E mais presentes.

Blue Man Group

McQueen x Francesco ! 

Presente maior que eu

Levando a Sussu pra Grindelwald ver a neve

Marinheira de primeira viagem.
Foi de calça jeans andar de trenó.
Teve que voltar só de calcinha no carro.
Matteo na retarguarda.


Ano Novo

Nossa casa ficou vaga por algumas horas no dia 26, quando a Sussu, o Matteo e o Nico foram pra Zurique. No dia 27 chegaram a Dri, o Beto, o Felipe e o João. Pegamos eles na SBB, a estação central de trem de Basel. Casa cheia novamente. Beto e Dri no quarto de visitas. Eu, Felipe e João no meu quarto, e meus pais no quarto deles. No dia 28 levamos eles para conhecerem a Aussichtsturm de Schleifenberg, uma torre, de onde dá pra ver toda a região. Depois fomos passear em Liestal, enquanto meu pai e o Beto foram pra França reforçar as compras pro Reveillon. No dia 29 saímos cedo rumo aos Alpes, onde alugamos um chalé em La Tzoumaz (http://www.verbier.ch/en/regionsen/la-tzoumaz ). Eu, o João, o Felipe, minha mãe e a Dri fomos de trem. Meu pai e o Beto foram de carro levando todas as malas, esquis, pranchas, botas, capacetes e as compras. Tudo pronto pra diversão a 1600 metros, com muita neve e muito sol. A previsão do tempo era bem favorável, e se confirmou. Pegamos meio dia de tempo nublado. Nos outros dias foi só sol, muito sol. Na montanha funcionou de novo o mesmo esquema de Avoriaz. Eu ia pra escola de esqui de manhã, almoçava por lá mesmo, e de tarde ficava no kids club. No final ganhei outra medalha, e avancei mais um pouco. A professora disse pra minha mãe que eu já posso ir com ela na pista de esqui na montanha ! Nas pistas azuis, que são as mais fáceis. Ela disse que é só eu ir atrás da minha mãe copiando tudo o que ela faz.

No nosso primeiro dia de esqui, vale contar uma história. O João, Felipe, Beto e Dri nunca tinham andado de Schlittel. E aqui na Suíça, o Schlittel é tão praticado e levado a sério como o esqui. Tem até lugar aqui que só tem pista de Schlittel. Bom, e lá fomos nós de novo montanha acima, na expectativa que a pista de Schlittel fosse daquelas mais suaves, mais propícias pros iniciantes. Quem dera. Chegamos no início da pista e de cara nos deparamos com aquela piramba que faz pensar : como eu vou fazer pra parar essa porcaria que nem breque tem?? A gente falou pra eles : é fácil, só tem que enfiar o pé na neve. Já na primeira descida pudemos perceber que não tinha sido uma boa idéia colocar o Beto e o Felipe no mesmo trenó e a Dri e o João em outro. Eles já são maiores, muito pesados pra segurar no braço. Tinha que ir cada um em um trenó sozinho. A velocidade começou a aumentar muito rápido, e meu pai fez o que tinha que fazer pra segurar. Quando ele enfiou com força o pé na neve, uma nuvem branca de gelo subiu e cobriu meu rosto e o dele, e nós não vimos mais nada. Paramos uns 100 metros adiante e olhamos pra trás. Eles ainda estavam lá em cima do morro respirando fundo, tentando entender o que eles estavam fazendo naquele lugar que não tinha volta, a não ser dar aquele primeiro empurrãozinho fatal e se virar como puder pra fazer o trenó não sair da pista. Esperamos eles por uns cinco minutos e nada deles aparecerem. Resolvemos ir na frente mesmo. Minha mãe já tinha desaparecido lá na frente. A pista estava muito esburacada, principalmente nas descidas, que é tudo o que a gente não quer. Mas como já estávamos no inferno mesmo, o jeito era abraçar o capeta. E fomos indo, e uma hora a pista ficou monótona. Uma reta suave e sem fim. Era o que eu precisava. Cochilei. Verdade. Dormi em cima do trenó. Meu pai diz que percebeu quando ele viu minha cabeça tombar pro lado no colo dele. Acho que eu estava muito cansado. Minha mãe lá na frente, Dri e João perdidos, Beto e Felipe desistiram, e eu dormi. Depois de quase uma hora, chegamos de novo em La Tzoumaz, onde descobrimos que aquela era a pista de Schlittel mais longa da Suíça francesa. Realmente, parecia não ter fim. Dez quilômetros. O Beto e o Felipe precisaram ser resgatados pelo Snowmobil. Eu e meu pai erramos o caminho e chegamos junto com os esquiadores, no meio da pista deles, ouvindo todos os tipos de impropérios cada vez que um deles passava por nós. Mas enfim, esse foi o começo de uma viagem inesquecível. Os dias seguintes foram tão, mas tão bons, que é claro, demos muita risada da história do Schlittel, e ainda vamos rir disso por muito tempo. Na noite do dia 31 de dezembro eu não aguentei. O dia foi demais pra mim. Apaguei às nove da noite, e só acordei no ano seguinte. Não teve rojão que fizesse com que eu me mexesse.

Um dia perfeito na montanha

Mamãe analisando e duvidando das suas habilidades

Bonjour, La Tzoumaz !

Só quero saber de por logo esse troço no pé !

Ceia de Reveillon : Raclette - 31/12/2012, La Tzoumaz.

Como a previsão do tempo descreveria isso?


Gasthaus

Chegamos de volta em Arisdorf no dia 5 de janeiro, num sábado de tarde. Fomos buscar o Lupa e a Margarida no Tierheim de Rheinfelden. Desarrumamos as malas e fomos dormir cedo. No dia seguinte combinamos de nos encontrar com os Barbas e os Cury Sonnewend em Freiburg, pra um passeio de bicicleta. E lá fomos nós mais uma vez pra Bresgália, passear de bicicleta em Mundenhof, um parque zoológico enorme. Nunca antes tínhamos saído pra passear em tanta gente. Depois do Natal em Freiburg, acho que foi o nosso evento mais populoso de amigos. Éramos doze bicicletas e dois Anhängers. Um autêntico registro para a posteridade. Comemos muita salsicha no restaurante de Mundenhof e voltamos já no escuro pra casa dos Barbas. A Vovó Marina se propôs a ficar com a gente em casa, pra que os pais pudessem sair de noite em Freiburg. Dormi bem antes dos meus pais voltarem, e acordei no dia seguinte já em Arisdorf, com o despertador maldito avisando que eu tinha que ir pra escola, no ônibus das 7:52. Porque o horário do ônibus mudou em 2013. Agora ele não passa mais às 7:51, agora é às 7:52. Isso é a Suíça.

De volta à rotina casa-ônibus-tram-escola-tram-trem-ônibus-casa. Só que na segunda-feira a Sussu voltou pra Arisdorf, e ficou lá até quinta, quando ela voltou pro Brasil. Na última noite dela na Suíça, levamos ela pra comer fondue em Basel no Walisser Kanne, um restaurante típico e tradicional. Eu percebi que só voltaria a ver a Sussu depois de muito tempo. Por isso, não hesitei, e invadi a cama dela quando chegamos em casa. E só saí de lá no dia seguinte na hora de ir pra escola. Ela ainda foi com meu pai me buscar na escola nesse último dia dela aqui. No final da tarde, levamos ela até a estação de Rheinfelden, pra ela pegar o trem pro aeroporto de Zurique. Quando o trem começou a andar, eu e o meu pai saímos correndo, até que o trem correu mais do que a gente e sumiu na noite.

Dia seguinte, sexta-feira, troca de bastão. De novo. Foi embora a Sussu. Voltam os Cury Sonnewend. E antes deles os Barba ! Treze pessoas na nossa casa. Nunca hospedamos tanta gente junta. Que zona. Que bagunça. Quanto sapato na porta de casa. Não tem cobertor pra todo mundo. Que delícia. Jantar mais cedo pras crianças. Raclette pros adultos. Já noite adentro, do nosso quarto, ouvia-se o murmúrio típico de quem não se vê há um bom tempo e sabe que ficará mais tempo ainda sem se encontrar.

Sábado, 12 de janeiro, último dia com toda a turma : João, Felipe, Teo, Xico, Lino. Cada um vai voltar hoje pra suas casas. Os Cury Sonnewend pro Brasil. Os Barbas pra Freiburg. Levamos os Barbas pra estação de trem de Basel. O Beto foi com o Felipe de carro pra Zurique, pois não caberiam o João e a Dri. O Beto comprou uma bicicleta elétrica, que obrigou a Dri e o João a irem de trem pra Zurique. Levamos os dois pra estação de Rheinfelden. Quando o trem começou a andar, eu e o meu pai saímos correndo, até que o trem correu mais do que a gente e sumiu na noite.

Domingo, dia 13 de janeiro. A casa amanhece em silêncio. Um silêncio descontínuo, pelo latido da Margarida e do Lupa, que por esquecimento passaram a noite pra fora de casa. Um silêncio que há quase um mês não acontecia. Um silêncio que a gente sabe que só vai acabar quando chegar o próximo visitante.
Acordei na cama dos meus pais. No meio deles. Abri os olhos, me virei pra minha mãe, e ainda sonado perguntei :
- Mamãe, quem vai chegar hoje?

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Pergunta feita para os viajantes :
- O que você mais gostou na Suíça?
Resposta :

[João Cury Sonnewend, 7 anos, destemido e verdadeiro. Pensa um pouco]
- De esquiar. E o que eu menos gostei foi de não ter esquiado todos os dias.

[Felipe Cury Sonnewend, 9 anos, observador e sensível. Sem titubear]
- Aqui as pessoas confiam umas nas outras.


Causando trânsito em Mundenhof, Freiburg, Alemanha.
Doze bicicletas e dois Anhängers.

Vão ser lindos assim lá na minha casa !

Último dia, visitando o Goetheanum, Dornach, Suíça.
Margarida, Beto, João, Mamãe, Lupa, Felipe.

Muita zona no meu quarto de brinquedos. E agora, haja brinquedo...

Papa, Eu, Mama

Liberdade, abre as asas sobre nós

Foto para a posteridade #1
Felipe, Teo, João, Chico, Eu
Freiburg, 6/1/2013

Foto para a posteridade #2
Freiburg, 6/1/2013

Enquanto isso, na Vila do Ari...