segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Frohe Weihnachten

Lange Erlen, 26/12/2011

Tudo estava tranquilo na nossa casa de Arisdorf na noite de Natal. O jantar servido. Todo mundo se refestelando com camarão ao curry e Nuslisalat. Minha mãe dizendo pra mim que o Papai Noel chegaria a qualquer momento com os nossos presentes. Vovô Funcia e Vovó Celina conversando com o Isaia, e tomando um vinho que eles diziam que estava incrível. O Lupa e a Margarida bem acomodados do lado de fora. Meu pai de repente subiu pra buscar alguma coisa. E foi aí que começou um barulho ensurdecedor de helicóptero dentro da sala de jantar... Que medo ! É o Papai Noel chegando!? Alguém disse. Cadê as renas? Cadê os duendes? E esse barulho? Vem cá vovó ! Não largo mais do seu pescoço... Abriram a janela da sala : nãão. O barulho do helicóptero aumenta. De repente chega pela janela um saco vermelho! E uma gritaria generalizada de todo mundo. Chegaram, chegaram os presentes ! Eu queria mesmo era estar em baixo da mesa. Puxam o saco de presentes pra dentro de casa e a janela se fecha. E o helicóptero vai embora. E meu pai reaparece correndo... coitado dele, não viu o Papai Noel chegar... Em seguida foi uma sucessão de caixas de presentes sendo trocados entre todos. A maioria dos pacotes vinham parar na minha mão : esse é da Voinha, esse é da Titia, esse é da Dinda, esse é da Vovó Rosali, esse é da Vovó Celina e do Vovô Funcia, esse é da mamãe e do papai, esse outro também é da Dinda, e mais esse do Beto, e ainda tem mais esse outro do... ufa! Não tenho a menor idéia de quem me deu o que. Mas minha mãe sabe direitinho e depois me conta. Me lembro de ter brincado nesse dia até depois de todo mundo ir dormir. E só fiquei eu e minha mãe na sala de jantar.

Acordamos no dia seguinte depois das 11:00 da manhã. Como é bom dormir bastante. E tava sol ! Fazia tempo que o sol não dava as caras por aqui. Na semana do Natal nevou bastante. Mas depois choveu muito, e levou toda a neve embora. E esquentou. Assim, oito graus... isso já é bem quente aqui, quase calor. Mas quando chega o sol no inverno é sinal que vem frio. Foi só colocar o nariz pra fora de casa pra perceber. Meu pai correu no termômetro e trouxe a notícia : 1 grau. Mas e daí? Aqui na Suíça é assim. O clima é só um detalhe. Cansamos de ver gente passeando com cachorro e andando de bicicleta de baixo de nevasca.

Sendo assim, fomos passear. Era o último dia dos meus avós aqui. 25 de dezembro. Eles pegariam o vôo de noite de volta pra São Paulo, onde diziam que fazia muito calor. Será que o Papai Noel vai de sunga pro Brasil entregar os presentes? Apesar de estarmos naquele clima pós noite de Natal em que todo mundo parece comprometido a comer até sair pelas orelhas, decidimos que o melhor a fazer era passear a pé pra ver se ajudava a digestão da noite anterior. Almoço do dia 25 passou longe. Nem pensar. Foi a melhor coisa que (não) fizemos. Fomos de carro até Maisprach por um caminho novo, passando por Olsberg e Magden, duas cidadezinhas de contos de fadas aqui do lado de casa. Não que Arisdorf também não seja, mas se aparecer fada por aqui a Margarida bota pra correr. Vimos um pôr do sol lindo de cima do Sonnenberg, no meio da floresta. Acho que meus avós vão ficar com aquela imagem gravada na memória por um bom tempo.


Minha mãe odeia essa careta

No caminho das ruínas do castelo de Waldenburg

Leitura no tram pra passar o tempo (parodiando o "es-prezidente")
25/12/2011 - 16:36

Depois voltamos pra casa e fomos levá-los pra estação central de Basel. Eles pegariam o trem pra Zurique às 18:40 do domingo 25 de dezembro. Nessa última semana a nossa programação foi intensa : o incrível Museu do Automóvel em Mulhouse (França, http://citedelautomobile.com/fr/home ) ; Waldenburg, uma descoberta e tanto (http://www.cityalbum.de/schweiz/waldenburg.htm); e mais Aquabasilea, com direito a Vovô no tobogã... (foi demais pra ele! Tinham que ver a cara dele saindo da água).
Torre do castelo em Waldenburg
Trilha pro castelo em Waldenburg

Segunda-feira, 26 de dezembro, foi um dia muito diferente. Eu acordei e o quarto deles estava vazio. Aliás, a casa estava vazia. Minha mãe disse que eles já chegaram em São Paulo. A nossa casa de Arisdorf é grande.E ficou maior ainda. Os sapatos deles não estão mais lá no armário perto dos meus. A minha escova de dente tá sozinha dentro do copo. E ninguém comeu waffle no café da manhã.

Waldenburg Schlossruine - 23/12/2011
Pausa pra comer mexirica

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Neve, muita neve !

Arisdorf, no primeiro dia de neve de 2012

Bem que falaram que iria esfriar. E que iria nevar em Arisdorf. Os últimos dias tem sido assim. Frio, e neve. Muito frio. E muita neve. Tudo ficou branco. Da noite pro dia. Parece mágica. O campo de futebol que era verde, ficou branco. A Fussweg (rua de pedestre) atrás de casa que era preta, ficou branca. Até os pinheiros do nosso jardim que eram verdes, ficaram brancos. A cerca que meu pai e o vovô colocaram no jardim para os cachorros também ficou branca. Aliás essa história é ótima. Eles colocaram uma cerca linda no nosso jardim. Só que a danada da Margarida, a Louca, aprendeu a pular a cerca, o que era o medo do meu pai. E a premonição do padre. O Lupa, o Lorde, fica apenas sentado do lado da cerca, olhando a Louca do outro lado, numa atitude de aparente reprovação. E ela foi além. Dentro da premonição do padre. Ela fugiu outro dia. A vizinha veio aqui avisar um dia que um menino que estava tendo aula de religião no nosso Keller (porão) ao ir embora esqueceu seu patinete aqui em casa. Voltou apressado pra buscá-lo e esqueceu o portão aberto. Era tudo que a Louca precisava. Os vizinhos se deram conta, e o menino responsável pela fuga quase se mijou nas calças após a constatação da besteira que fez. Foi uma correria. Nós tinhamos ido visitar o museu do vidro em Hegiswil  http://www.glasi.ch/ , e não tinha ninguém em casa. Os vizinhos saíram correndo atrás dela e só assustaram mais a Louca que começou a ir mais pra longe. Já tava quase na igreja. Diz a vizinha, que nessa hora o Lupa colou no portão e começou a uivar sem parar. Uivou que uivou, que uivou tanto, que ela voltou. Como se nada tivesse acontecido. Como quem se explica : mas eu fui só até ali na esquina comprar umas coisinhas e já tô de volta...
A cerca nova que a Margarida aprendeu rápido como pular
Hergiswil, a cidade do vidro, 19/12/2011
Museu do vidro, Hergiswil, 19/12/2011

Ao abrir a janela de casa em 18/12/2011

O meu pai foi no sábado ajudar na mudança dos Barbas. Eles estão indo pra uma casa maior em Freiburg, pertinho do apartamento onde eles moram hoje. Só que com mais espaço pra todo mundo. Eles viajam pro Brasil na sexta, e quando eles voltarem vamos nos encontrar de novo pra continuar nossas histórias incríveis pela Europa com eles. Eu fiquei em Arisdorf com a vovó Celina e o vovô Funcia. Nesse dia foi quando começou a nevar de verdade. A gente ficou em casa brincando com o meu trenzinho, e de esconder o sapo. O dia passou rápido. A minha mãe chegou de noite, junto com meu pai e a tia Dani, amiga deles da faculdade que tava em Basel trabalhando, e que passou o domingo com a gente. Fomos em Augusta Raurica para eles conhecerem lá. Tava diferente, claro. Tudo branco. Levei meu patinete. Mas tava muito frio. E ao chegarmos em casa eu sabia que ía ter que fazer aquilo que começa a ser meu pesadelo : banho. Não gosto mesmo. Aqui na Europa as pessoas não ligam muito. Mas minha mãe fica louca com essas pessoas que não tomam banho e que acham que os outros não percebem. Mas não teve jeito. Meu pai criou uma regra besta : bastou eu molhar minha cueca com um xixizinho de nada, e pronto. Banho. Se eu não gosto ou não quero fazer alguma coisa, eu me jogo no chão. Só que agora meu pai criou uma nova arma contra essa minha tática. Ele fala que o chão é sujo, e que eu tenho que tomar banho. Daqui a pouco ele vai falar que o ar que eu respiro é sujo, e que eu preciso tomar banho.
O inverno chegou aqui
Emmental, com muita neve !

Hoje nós fomos pra Emmental. Parece que o lugar é conhecido por todo mundo que gosta de queijo. E nós fomos lá no coração do lugar. Aonde fazem o queijo Emmental. O cheiro daquele lugar dava vontade de comer queijo. Nós visitamos a fábrica do queijo Emmental e aonde ainda é feito até hoje o queijo original, numa panela enorme. De cobre. Feito a lenha. Meu pai disse que o avô do avô do avô do bisavô daquelas pessoas já faziam queijo ali. Há muito tempo. E a receita não mudou. Só depende das vacas que moram ali. E do que elas comem. E assim, dizem, é em toda a Suíça. A vaca. O pasto. A altitude. E assim é no mundo inteiro. Inclusive em Aiuruoca. Onde o Saulo prepara aquele incrível queijo "parrrmezôn", com o incomparável leite tirado pelo Tião e pelos seus descendentes na divisa dos três Estados...

A tecnologia do leite. Emmental, 20/12/2011

Maturando o queijo Emmental. Cada um pesa 95 kg . 20/12/2011

Fazendo manteiga. Emmental, 20/12/2011

Como tudo começou em Emmental

Fondue com o queijo adquirido na fonte. 20/12/2011
Tião tirando o leite da Brasília. Aiuruoca, MG, 14/11/2004

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Geburtstag !

Ainda não entendo direito essa história de aniversário. Que coisa. De um dia pro outro eu já podia entrar na sala de brinquedos do IKEA. De um dia pro outro me falaram que eu tinha crescido. Será que fazer aniversário dá dor de barriga? Pelo menos comigo aconteceu. Meus pais dizem que foi porque eu comi muito brigadeiro e muito bolo. Mas não era pra ser assim? Fizeram dois bolos de açúcar mascavo e brigadeiro. Um pra eu levar pra escola e outro pra quando eu chegasse em casa. Eu comi so dois. Quando meu pai foi me pegar na escola, o tio Chris falou pra ele que o bolo estava muito bom, que todas a crianças comeram, e os professores também. Mas o que realmente era bom, ele falou, era aquele docinho de chocolate. Ele abriu um olhão e falou pro meu pai : Diese hier war seeehr gut ! Was ist das? (Esse que tinha aqui era muuuito bom. O que é isso?). Pediram até a receita. Brigadeiro é universal ! Aqui na Suíça tem coisas muito muito boas. Mas não tem brigadeiro. Nem pão de queijo.
Bolo de açúcar mascavo

Mas o melhor ainda estava por vir. Eu cheguei em casa e começaram a me dar presentes ! Ganhei muita coisa legal : um São Nicolau verde, duas sungas, uma touca de natação de dinossauro, uma luva sem dedo igual à do meu pai, um filme da turma do Mickey, um trenzinho de madeira pra juntar com o que eu já tenho, um patinete, e o uniforme completo do Tricolor ! E eu fiquei sabendo que todos aqueles presentes foram da minha família em São Paulo. Meu pai me mostrou todos eles numa foto que a gente tem aqui em casa, e eu já sei quem me deu o que !

Meu trenzinho novo !
O patinete. Agora eu tenho o meu !
O vovô Funcia e a vovó Celina estão aqui se divertindo com a gente. Eles estão ainda um pouco como a gente ficou logo que a gente chegou aqui. Ficam olhando pra tudo e admirando tudo. Tudo é novo. Tudo funciona. Tudo é inox. Todo dia comem waffle de café da manhã. E tomam Ovomaltine. E cada dia comem um queijo diferente. E descobrem um novo tipo de Wurst (salsicha). E voltam pra casa maravilhados. Outro dia eles passaram o dia dentro de uma loja de ferramentas na Alemanha. Meu vô disse que agora o sítio vai ficar bem sinalizado.

No sábado fomos conhecer Luzern. Fica a 1 hora de casa. É uma cidade na beira de um lago. Linda. Tem uma ponte de madeira pras pessoas atravessarem o lago, do lado novo pro lado velho da cidade. E tem umas montanhas tão altas que lá em cima cai neve. A gente foi de teleférico lá no lugar mais alto da montanha, o Monte Pilatus http://www.pilatus.ch/ . Dá pra ver o lago Vierwaldstättersee inteiro de lá de cima. E tinha muita neve ! Eu nunca tinha visto, nem estado na neve. É frio pra caramba. Frio não, gelado. Mas foi muito bom deitar na neve e fazer guerra. De vez quando vinha uma nuvem e a gente não via mais nada. Ficava tudo branco, como a neve.
Guerra de neve

Segundo meu pai, o inferno é branco.

Lucerna, do alto do Monte Pilatus

No bondinho que leva a gente lá pra cima do Monte Pilatus

No domingo meu pai foi levar minha mãe no Aeroporto de Basel, porque ela tinha que ir pros Estados Unidos trabalhar essa semana. Quando meu pai chegou de volta do aeroporto tinha sol, e eu ajudei ele a colocar uma cerca de madeira no nosso jardim. Algumas crianças tem medo do Lupa e da Margarida. Mas acho que as mães delas tem mais medo. Só sei que os cachorros tinham virado o assunto da cidade, porque algumas crianças que tem aula na parte de baixo da nossa casa não queriam mais vir aqui. Depois que colocamos a cerca, nós fomos passear com os cachorros. Eles gostaram da cerca. Tomara que a Margarida não aprenda a pular a cerca. Meu pai falou pro padre que dá aula de religião pras crianças que a Margarida era mais irriquieta e que gostava de fugir. E o padre só comentou "alle Frauen sind" (todas mulheres são)... Meu pai ficou amigo do padre.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Achtung, fertig, los !

Semana agitada a que passou.

Chegaram nossas coisas de São Paulo ! Chegaram meus brinquedos ! Não aguentava mais aquele Playmobil com capacete de pinico todo dia me olhando. Agora posso entrar de novo no meu foguete e só sair de lá quando eu quiser. E levar meus outros carrinhos lá pra dentro. Meus pais até que ajudaram, e me deram alguns brinquedos bem divertidos nesse tempo em que minhas coisas não chegavam. Ganhei um tapete que tem uma pista de carrinho desenhada em cima dele. E a minha vovó Rosali também me mandou uns bloquinhos de madeira pra eu construir as casas e as cidades em volta do meu trenzinho de madeira. Eu e meu pai construímos Pratteln Bahnhof, Liestal Bahnhof, a nossa casa e a escola de Arisdorf e até um prédio redondo de Basel. E no final da construção eu sempre virava o Godzila e destruía tudo. Mas nada como ter de volta o Buzz ! E a moto dele ! E minha cabana de bolinhas !

O container chegou na nossa casa em Arisdorf na sexta-feira, dia 2 de dezembro, com nossas 139 (!?) caixas. Meus pais estavam no final do dia com uma cara que só me lembro de ter visto uma vez : quando foi o dia da mudança de São Paulo. Eles falaram que encaixotar dá trabalho pros outros. Desencaixotar é a nossa parte. E depois ainda tem que colocar tudo no lugar. Agora já é domingo, e devem ter sobrado umas 15 caixas ainda por abrir. Tem coisa espalhada pela casa inteira. Meu pai disse que o importante é quando mudar alguma coisa de lugar lembrar onde colocou, porque se não corre o risco de só encontrar na próxima mudança.

Eu acho que já consigo entender um monte de coisas que eles falam aqui na Suíça. Mas falar ainda é um pouco difícil. Eu aprendi algumas músicas na escola, e quando eu brinco eu gosto de cantar. E eu percebo que meus pais ficam quietos olhando pra mim quando eu começo a cantar. Será que eles entendem o que eu canto? Acho que sim, porque eles agora também estão indo pra escola. Pra aprender a falar alemão também. Eles já falam um pouco, e eu acho engraçado quando eles tem que conversar com alguém aqui. Parece que as pessoas estão o tempo todo dando bronca umas nas outras.

No sábado acordamos cedo e continuamos a desencaixotar a casa. O que eu mais escutava mais pais falarem era "nossa, pra que é que a gente trouxe isso". A manhã passou tão rápida que quase perdemos a hora de ir buscar o vovô Funcia e a vovó Celina na Basel Bahnhof. Eles vieram passar o meu aniversário e o Natal com a gente. Chegaram às 13:24. Os suíços são assim. Eles não gostam de chegar às duas da tarde ou às oito da noite. Eles preferem por exemplo às 13:24, ou então às 7:58. E eles chegam sempre exatamente na hora que eles falam que vão chegar. Eu estava com saudades deles, e só me dei conta disso quando o dia foi passando e eu fui percebendo que eles não estavam mais guardados só na minha cabeça. Eles estavam agora ali. Do meu lado. E eu podia dar a mão pra vovó Celina pra atravessar a rua, e ir deitar no meio deles de manhã, como a gente fazia lá no sítio em Piracaia.

E nessa semana, nossa querida Bisa Tília virou uma estrelinha lá no céu...
Abril de 2009, com a Bisavó Tília, quando eu ainda era um pacotinho

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Floresta

Como é bom passear na floresta ! Nessa época então ela fica linda. Vermelha. Cheia de folhas cobrindo o chão. Eu gosto de andar pelo canto das trilhas chutando as folhas. E também gosto de me deitar no chão em cima delas, e aí meus pais me cobrem de folhas.


No sábado fomos pra Freiburg, na Alemanha, porque minha mãe queria ir numa loja de armários que tem lá, e encontramos o Paulão, a Camila, o Téo e o Xico. Fizemos um passeio pela Schwarzwald (Floresta Negra), só que chegamos tarde e só pudemos andar um pouquinho. O sol se põe cada dia mais cedo, e agora às 5 da tarde já tá escuro. Mas sempre é muito bom encontrar com nossos amigos Barbas. Eu me divirto com o Xico e o Téo, e meus pais e os pais deles riem à toa, o tempo que estiverem juntos. A minha mãe e a tia Camila discutem todos os problemas da humanidade e não param de falar, ao mesmo tempo, o tempo todo. Meu pai já me explicou que isso é uma coisa que só as meninas conseguem fazer. Meu pai e o Paulão parecem mais preocupados em escolher a próxima cerveja. E isso é o que os meninos sabem fazer.


No domingo tava frio. Mas tava sol. Minha mãe deu uma idéia : vamos sair por aí de bicicleta, pra aproveitar o sol. Bem, "sair por aí de bicicleta" é um pouco diferente aqui na Suíça. Pode significar ir pra outra cidade, pra outro estado, ou mesmo pra outro país. Tudo é tão perto. Olhamos no mapa e vimos que havia um lugar aqui perto de Rheinfelden, que tinha um mirante : Sonnenberg Turmstube http://www.fricktaler-hoehenweg.de/gallery/category/2-frick-rheinfelden.html. E que se o dia estivesse aberto, como era o caso, dava pra ver até os Alpes ! Minha mãe falou que um moço que trabalha com ela contou que tinha um teleférico pra subir no mirante. E lá fomos nós : Arisdorf-Kaiseraugst-Rheinfelden-Magden-Maisprach, 17 km, ufa! Chegamos no pé do morro. E... cadê o teleférico?? Ninguém nunca tinha ouvido falar de teleférico naquela região... E a rampa era tão inclinada que nem bicicleta elétrica nem nada. Não teve outro jeito. Tivemos que empurrar as bicicletas morro acima até o estacionamento. E de lá seguimos a pé. Ascenção de 632 metros.
Mas a vista, e a Weisswurst (salsicha branca) na brasa da lareira recompensaram nosso esforço.

O dia tava frio, sol e aberto ! Deu pra ver lá longe, os Alpes ! É pra lá que a gente vai no inverno brincar na neve !



A cidade ali embaixo não é Piracaia não ! É Maisprach.

Fim de tarde. Pôr do sol. Temperatura despencando.
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Pera e maçã. Pragas por aqui. Ainda bem.

domingo, 13 de novembro de 2011

Os Cães e o Carro, Um Novo Começo

No final de semana passado meu pai foi para o Brasil buscar o Lupa e a Margarida. Ele disse que encontrou com todo mundo bem rápido e que comeu feijoada no sábado de dia, pizza no sábado de noite e foi no Filé do Moraes almoçar no domingo. Minha mãe foi buscar ele e os cachorros na terça feira de manhã no aeroporto de Zurique com o carro que a gente tem emprestado. Parece que os cachorros vieram dormindo no porão do avião.

Eles chegaram bem e logo que desceram do carro na nossa casa de Arisdorf já saíram cheirando tudo pra conhecer o novo território. O Lupa, o Lorde, como sempre, fez tudo como um cachorro comportado. E a Margarida, a Louca, descobriu que tinha uva na cerca e comeu tanto que deu o maior trabalho pro meu pai no dia seguinte de manhã. Eles tem dormido do lado de fora, enquanto o inverno não chega de verdade. Mas já tem um cantinho dentro de casa separado pra eles, pra quando o frio apertar. O Lupa, que é bem peludo, tá achando uma delícia o friozinho. Ele tem dormido largado na grama. A Margarida, como tem o pelo mais curto tá se virando como pode. Dorme enroladinha num canto do chão de madeira ou já se encosta no Lupa. Outro dia ela conseguiu o que queria, que era dormir dentro de casa. Ela começou a latir pro nada era quase meia-noite, porque já que por aqui não passa ninguém a essa hora, nem cachorro, nem gente, nem carro, então ela latiu simplesmente porque é cachorro, e tá no seu direito. Mais do que rápido minha mãe desceu e colocou ela e o Lupa no quartinho da dispensa.

Enquanto meu pai estava no Brasil, eu e a minha mãe ficamos aqui em Arisdorf e fomos de novo pra Basel na Messe com o Paulão, a Camila, o Xico e o Téo. Teve mais um casal de amigos do Paulão e da Camila, o Martin, a esposa e a filha Sophie, que também encontraram com a gente. Minha mãe ficou super orgulhosa de ter me levado sozinha de bicicleta mais a minha mochila, a bolsa dela e sem errar o caminho. Mais um dia de brinquedos e depois fomos no Museu de História Natural de Basel http://www.nmb.bs.ch/ . Lá tem vários bichos, mas não é como no zoológico, porque nenhum bicho se mexe. Dizem que é porque estão empalhados, ou porque morreram faz muito tempo e já não existem mais. Não entendi direito essa parte, mas tudo bem. O que eu mais gostei foi de uma colmeia transparente que tinha lá e que a abelha-rainha fica marcada com uma estrelinha. Vale a pena a visita. Quando chegamos em casa, minha mãe, como eles dizem, tava com a macaca : me colocou pra dormir, depois lavou duas máquinas de roupa e ainda fez faxina. O que será que tinha no bolinho que ela comeu?

Eu acho que estou começando a entender mais coisas em alemão. Minha mãe disse que teve uma noite, enquanto meu pai estava viajando, que eu comecei a falar em alemão enquanto dormia. No dia seguinte, quando ela foi me buscar na escola, a professora disse que eu estava aprendendo muito rápido. E no outro dia, eu falei minhas primeiras palavras em alemão na escola. Eu já sei os nomes de todas as estações do ônibus, da nossa casa até a escola ! Meus pais falam sempre pra mim que se algum dia eu me perder, eu tenho que falar que eu moro em Arisdorf Schulhaus, que é o ponto de ônibus em frente de casa. E que minha escola fica perto de Pratteln Bahnhof.

Com a chegada do carro, nossa vida mudou um pouco. Eu já percebi que se eu enrolar um pouco mais na cama pra acordar de manhã, a gente perde o ônibus, mas agora dá pra ir de carro. Fiz isso dois dias. Mas no terceiro dia meu plano falhou. Minha mãe percebeu minha tática e me acordou mais cedo. E meu pai botou nossa vida de novo na rotina acorda-cafédamanhã-ônibus-tram. A vantagem é que agora a gente pode ir quando quiser pra Alemanha comprar o que falta. Ficou bem mais rápido e pode trazer bem mais coisas do que de bicicleta. Também ficou bem mais fácil de jogar fora as garrafas de vidro.

Ontem, por exemplo, fomos pra Alemanha comprar algumas coisas que irão faltar na nossa casa : uma cama pra visita, um armário pro meu pai, um armário pra minha mãe e uma mesa pra sala de jantar. É o tipo de programa que minha mãe fica alucinada, meu pai fica animado nos primeiros 20 minutos e depois parece que caiu um raio na cueca dele, e eu entro na sala de brinquedos e não quero mais sair de lá. Depois de algumas horas minha mãe exorciza o vendedor até ele dar o desconto que ela quer (se ele não tiver mais argumentos ela já sabe que ganhou o jogo), meu pai começa a fazer aviõezinhos de papel com os folhetos da loja e eu utilizo minhas táticas de guerrilha pra tirá-los daquele lugar - ameaço fazer xixi na calça, depois cocô e por fim começo a tirar a roupa, e se nada disso funcionar eu começo a gritar, porque eu sei que eles odeiam.

Hoje, domingo, fomos pra Kirchdorf, na casa de um amigo de longa data do tio Beto, o Taborda. Ele e a mulher, a Claudia, moram há mais de 20 anos aqui na Suíça, e têm um filho e uma filha já grandes, e uma cadela Labradora, a Haila. Eles nos deram várias dicas de como é a vida por aqui, onde ir, o que fazer e como as coisas realmente funcionam. Eles foram muito legais com a gente, e nós combinamos de nos encontrar em breve aqui, pra eles conhecerem nossa casa de Arisdorf. Saímos de Kirchdorf já de noite, e eu cheguei em casa dormindo. Mais uma vez, só me lembro de entrar no carro e pedir um gole de água pra minha mãe.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Herbstmesse

Nesse fim de semana começou a Herbstmesse (Feira do Outono) em Basel. A cidade fica cheia de gente. Em cada praça tem alguma coisa acontecendo. E muitos brinquedos e comida. A historinha da feira é mais ou menos a seguinte :
No dia 11 de julho de 1471,  o Imperador Frederico III, presenteou o então prefeito de Basel, Hanssen von Berenfels, o direito de promover uma Feira de Outono (em caráter perpétuo). A feira começa 14 dias antes do dia de St.Martin. Tradicionalmente, no primeiro sábado antes de 30 de outubro, os sinos da igreja de St.Martin soam ao pôr do sol, marcando o início das festividades. A feira dura duas semanas e termina na noite do terceiro domingo. Neste período várias atrações ocupam as principais praças da cidade, e se misturam com o cheiro dos doces especialmente preparados para a ocasião.
http://www.basel.com/en.cfm/baselinfo/baselbilder/offer-BaselInfoBT-Speziell-155706.html

Como nossos amigos Barbas também são muito festeiros, nós nos encontramos em Basel e passamos a tarde do domingo conhecendo a feira. Nós fomos numa roda gigante (http://www.youtube.com/watch?v=0kTfFUtc02I) e no chapéu mexicano :


Depois dos brinquedos fomos até a Marktplatz para comprar cogumelos, pro nosso jantar. Lá tem uma barraquinha de domingo que vende um monte de tipo diferente de cogumelos. São uma delícia. Meu pai comprou um pouco de cada, pra fazer um macarrão pra mim, pro Xico e pro Téo, e pra fazer na chapa da racleteira pra eles e pro tio Paulão e tia Camila. Eles disseram que raclette é uma comida de gente grande. Ainda bem, porque hoje de manhã todo mundo que comeu raclette tava com dor de barriga... Enquanto eles comiam, eu, o Xico e o Téo ficamos brincando e lendo a história do Saci e do Curupira.


Na semana passada eu fiquei meio injuriado de ter que ir pra escola todo dia. Eu bem que pedi pra não ir quando meus pais me acordaram. Mas não adiantou. Eles me tiraram da cama naquele frio e a gente entrou no ônibus. Quando chegamos na escola eu tentei outra saída : vou segurar no pescoço da minha mãe e não vou deixar ela ir embora. Mas a tia Saskia me puxou mais forte do que eu consegui segurar. Comecei a chorar. Não adiantou. Comecei a berrar. Também não adiantou. Ei, vocês vão me deixar aqui mesmo? Eles foram embora... Ah, é? Tá bom. Então vou fazer xixi em todas as calças que eles me puserem. E fiz. Mas também não funcionou, porque na escola tinha mais calça, e eu já não tinha mais xixi. E a tia Saskia foi a maior traidora... Ainda contou pros meus pais que assim que eles foram embora eu parei de chorar.


Esse semana meu pai vai pro Brasil buscar meus cachorros : Lupa, o Lorde, e Margarida, a Louca. E as nossas coisas que ainda não chegaram, devem chegar de navio lá pro dia 20 em Bremenhaven, e aqui em Arisdorf lá pro dia 28, porque a polícia tem que abrir e conferir tudo que veio.

O carro que a gente ía comprar aqui na Suíça, não vamos mais. Outro dia minha mãe pegou um taxi pra voltar do aeroporto pra casa, e o motorista do taxi falou pra ela que ela era louca de comprar carro aqui. Tinha que comprar aonde? Na Alemanha. Ele convenceu minha mãe. Que convenceu meu pai. Vamos tentar resolver isso logo, porque tá ficando frio pra voltar de bicicleta da escola. E daqui a pouco não vai dar mais pra andar, porque dizem que o chão congela e as pessoas caem da bicicleta. E eu não quero cair...



segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Aquabasilea, Carros e mais frio

Já descobri que um dia de sol não quer dizer que está calor. Isso não era assim. Em São Paulo quando tem sol eu posso ficar de shorts. Aqui não dá. Outro dia eu não quis por minha luva de jeito nenhum, e meus dedos ficaram duros e vermelhos, que até doeu e eu chorei. Depois desse dia eu comecei a reparar que as outras crianças estão saindo de casa cada dia com mais roupa, gorro, luva, cachecol... Na semana passada meus pais foram até Rheinfelden, que é uma cidadezinha aqui do lado na Alemanha, onde eles compraram um monte de roupa de frio pra gente. Agora tá todo mundo quentinho. Mas lá fora tá muito frio. E dizem que vai fazer mais frio ainda.

Conhecemos alguns vizinhos. A Pia e o Urs foram os primeiros. Eles tem dois filhos que já são grandes. A Pia é professora de música para crianças, e o Urs tem um museu de bicicletas antigas, na garagem da casa deles aqui em Arisdorf. Quando perguntamos se eles haviam nascido em Arisdorf, eles contaram que a casa onde eles moram (em frente a nossa) era do bisavô do Urs. A Pia fez até uma piada, que o Urs é aborígene. A Pia vai às segundas-feiras na minha escola Pumuckl pra cantar. Ela contou pros meus pais que no meu primeiro dia na escola eu já saí cantando e dançando com a Stella, e que todos ficaram admirados por eu ser uma criança nova na escola e já tão aberta. É que eu gosto de dançar. Na sexta conhecemos a Martina, que é a vizinha do lado. Ela mora em cima da padaria. Ela é quem limpa o porão da nossa casa, que é onde o pessoal da Kirchgemeinde (conselho da Igreja Protestante Reformada) se encontra.

Teve um dia na semana passada que choveu, e nós fomos para Frenkendorf, aqui do lado, pra uma entrevista com um moço que falou que a gente agora teria um monte de deveres aqui na Suíça. Ele tirou uma foto nossa e depois mandou pra casa uma carteirinha pra cada um, com a foto e o nome. Meus pais disseram que essa carteirinha é agora nosso documento de identidade. Eu não sei bem o que isso quer dizer, mas meus pais ficaram muito felizes porque agora a gente pode fazer um monte de coisas que antes não podia. Inclusive comprar um carro. Aliás, no sábado nós fomos procurar um carro pra gente. Um que coubesse todo mundo, mais a Margarida e o Lupa. Fomos em várias lojas, e eu entrei em um monte de carro, que meu pai falava : senta aí e dirige, porque provavelmente vai ser a única vez. Mas encontramos o carro que a gente queria. Na semana que vem a minha mãe quer voltar lá pra fazer uma coisa que ela gosta muito de fazer com os vendedores, e que ela é muito boa : se chama "negociar", e no final quase sempre ela consegue o que ela queria. Nessas horas meu pai sai de perto, porque dizem que ele mais atrapalha do que ajuda. Mas ele faz bem outras coisas.

Pelo caminho de volta achamos uma loja de bicicletas que vendia o tal do Anhänger, que é como se fosse um trailer pra bicicleta. Muitos pais com crianças usam isso por aqui, e a gente acha pode ser uma boa idéia ter um desses, porque ele serve pra levar outras coisas também, como compras, cachorros, mais crianças. E do jeito que meus pais estão andando de bicicleta, e agora puxando um Anhänger, quem precisa de academia? Minha mãe conseguiu que o moço da loja encontrasse um desses usados pra teste, com um monte de desconto. Só tem que ir na outra loja buscar. Falei que minha mãe era boa de "negociar"...

No domingo acordamos tarde, ficamos enrolando na cama um tempão, nós três. Depois comemos "ueifal" (waffle) com maple syrup e pasta de amendoim. Também teve Gipfeli da padaria com Nutella. Eu adoro sábado e domingo, porque meus pais me deixam comer um monte de coisas gostosas que de dia de semana eu não posso. Comi um monte de ursinho de goma também, mas não no café da manhã. Como já estava tarde pra ir para Basel em algum parque, e também estava frio, a gente foi para Pratteln, num parque aquático fechado chamado Aquabasilea ( http://aquabasilea.ch/en/index.php). Meus pais me deixaram ir com a minha bicicleta. Tinha várias piscinas quentinhas, cada uma de um jeito e de um tamanho diferente, e cada escorregador enorme, um mais legal que o outro. Eu fui com meus pais em todos eles, menos no verde, porque aquele era só pra adulto. Tinha até um que a gente foi de bóia. O dia passou tão rápido que nós nem percebemos. Quando vimos já estava ficando escuro do lado de fora do parque. A última coisa que eu me lembro desse dia é de entrar no ônibus pra voltar pra casa.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Regenhose und Wanderschuhe

Na quarta-feira é o dia que eu e meus amigos da escola vamos pra floresta (Waldtag). A professora pediu pros meus pais comprarem pra mim um sapato de ir pra floresta (Wanderschuhe) e uma calça que não molha (Regenhose). O meu impermeável azul ela falou que serve. Eu também quero uma luva, porque outro dia meus dados ficaram muito frios e até vermelhos. É, o frio chegou. E dizem que ainda vai ficar bem mais frio. Será que existe luva de nariz?

No sábado a família Barba, que são a tia Camila, o Paulão, o Téo e o Xico vieram pra cá. O Xico me deu sua Regenhose que não serve mais pra ele ! E uma bota de neve (apesar de eu não saber ainda o que é isso). Eles chegaram no começo da tarde, e nós fizemos um passeio até uma torre de observação (Aussichtturm) que tem aqui bem pertinho de casa. É um passeio lindo, pelo meio da floresta, e que chega numa torre de 30 metros que a gente pode subir. Claro, pagando. Aqui na Suíça parece que pode tudo, ou quase tudo, desde que você pague. Lá de cima da torre dá pra ver todas as cidades aqui de perto, até Basel. Dá pra ver também o rio Reno e a Alemanha do outro lado do rio. Tem um lugar perto da torre que as pessoas podem trazer suas comidas pra almoçar ali. Se quiserem também tem um restaurante.

No domingo fomos todos de bicicleta pra Augusta Raurica( http://www.augustaraurica.ch/e/menu/index.php ), pra eles conhecerem lá. Até eu e o Xico fomos de bicicleta :

A gente passeou bastante esse dia. Fomos nos anfiteatros, na antiga padaria romana, no parque de animais, e depois ainda tomamos sorvete e comemos Wienerli (salsicha típica) com mostarda. Voltamos pra casa no fim do dia pregados, na garupa do meu pai.

No nosso próximo encontro com a família Barba provavelmente a gente já vai ter um carro, e aí a gente combinou de ir conhecer um castelo aqui perto, na França. Será que lá tem monstro e bruxa?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Panis et Circensis

Nesse último sábado descobrimos que Arisdorf  não é tão pequena assim. Tem uma padaria! Do lado de casa. A moça de lá eu acho que não é da Suíça, porque o cabelo dela é preto e ela usa um brilhante no meio da testa.  Mas o pãozinho que ela faz é delicioso, e quentinho. Compramos quatro Gipfelis (o nome do croissant aqui) , e eu comi dois inteiros. Um antes de chegar em casa. E também uma bengala parecida com a ciabatta da padaria do Valdir, lá em São Paulo. Eu achei a padaria daqui diferente da que tem em São Paulo. Aqui eles não fazem pão na chapa e também não tem pão de queijo. Nem café com leite.

Durante a última semana eu fui para a escola todos os dias. Já comecei a entender algumas coisas que as professoras falam comigo : pipi machen, komm hier, tchuss, ja, nein. Tá bom pra começar. Pelo menos não molho minha calça mais. Descobri também o poder do meu dedo indicador !

Na quinta-feira, quando eu voltava da escola com meu pai de bicicleta, a gente resolveu parar na beira de um riacho porque eu queria por a mão na água. Tava muito fria. Quando meu pai foi me colocar de volta na bicicleta, ele se desequilibrou e o pedal da bicicleta bateu na perna dele e fez um buraco. Saiu sangue. No sábado de noite ele foi no hospital porque ainda tava doendo muito. O médico do hospital mandou ele tomar remédio durante uma semana e ficar com o pé pra cima. Mas ele tá bem. Ah, em Arisdorf  tem um médico.

No sábado de tarde teve jogo de futebol no campo da escola ao lado de casa, e nós levamos minha bicicleta e a bicicleta nova da minha mãe, elétrica, pra andarmos na quadra da escola. Os suíços jogam diferente do que no Brasil. O juiz apita e ninguém acha ruim. O resto é igual. Atrás de um dos gols fica um cara vendendo cerveja e pão com salsicha.

No domingo fomos no circo em Basel. Tinha equilibrista, globo da morte, mágico, camelo, mas eu gostei mesmo foi do palhaço, apesar de não ter entendido nada do que ele falava. No final do espetáculo eu andei no pônei do circo. Tinha muita criança, e eu me enfiei no meio delas e os moços me pegaram pra eu dar uma volta, antes da minha mãe pagar. Depois minha mãe pagou, e eles me deixaram andar de novo. Os suíços são muito legais. Dormi no tram, voltando pra casa, e só acordei na estação do trem em Liestal, antes de entrar no ônibus que volta pra nossa casa em Arisdorf.

O que realmente mudou nestes últimos dias foi o clima. O sol sumiu e só aparecia muito de vez em quando. No domingo de manhã tava muito frio. Mas dizem que ainda vai ficar mais frio. Dentro da nossa casa é quentinho. Tem uma grade em cada quarto que esquenta o lugar.

Essa semana minha mãe vai ficar na Alemanha até quarta-feira. Quando ela viaja, eu durmo com o meu pai na cama deles.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Primeiro dia na escola

3/10/2011 - Hoje me acordaram muito cedo. Tava frio e com uma névoa muito forte. Mas meu pai falou que faria sol, porque o telefone dele disse. Aliás o telefone dele sabe tudo. Até qual ônibus ou tram a gente tem que pegar e a que horas.
Faz uma semana que meus pais começaram a me ensinar uma palavra que só hoje eu entendi : Pumuckl. Essa é minha escola nova aqui na Suíça.http://www.chinderhuus-pumuckl.ch Meu pai me levou e me apresentou pras tias. Só que elas também não falavam como a gente fala em São Paulo... Tem uma tia chamada "Saskia", que fala uma língua que parece que ela me entende um pouco. Ela diz que fala italiano. E falou comigo umas palavras esquisitas : vene co´me, ela disse. Eu achei que era pra comer, e não quis. Mas ela esticou a mão na minha direção, e meu pai falou pra eu ir com ela. Ela tem cara de muito boazinha. E eu fui. Tem também uma tia baixinha que usa um lenço amarrado na cabeça e no pescoço. Só dá pra ver o rosto dela. Será que ela não tem orelha? Mas ela também parece ser bem boazinha. Depois meu pai disse que aquelas crianças eram agora meus amiguinhos da escola. Mas cadê o Artur? O Vitor? A Valentina? A Manu? Agora meus amigos são a Anuk, o Jürgen, a Raphaela (essa foi fácil!). Meu pai me perguntou se eu tinha gostado daquele lugar, e se eu queria ficar. Fiquei meio desconfiado, mas como eles estavam indo num zoológico eu quis ir com eles. E eu fui. Ele então entrou no carro e eu entrei com meus amigos e com as tias no tram. E passamos a manhã no zôo, vendo os bichos, brincando e fazendo pique-nique. Eu falava as coisas e a tia Saskia tentava me entender. Aí eu apontava, gesticulava, mostrava e finalmente ela me entendia. Acho que vou ter que aprender a falar como eles. Aqui nessa escola não precisa levar lanche de casa. Que bom! Não aguentava mais banana, danoninho e pão com pasta de amendoim... Sinto falta do meu suco de açaí. O lanche e o almoço é feito pela escola. E tem muito iogurte, cenoura, queijo (suíço, ah como é bom o queijo aqui!), e muita fruta e verdura (blarghh... vou ter que aprender a comer verdura). Teve também sanduíche de carne. Eu comi de tudo.
Voltamos pra escola de novo de tram. E meu pai veio me buscar de bicicleta (carro pra quê? Só no frio). Fomos pra nossa casa em Arisdorf por um caminho lindo, pela beira de um rio, no meio de um bosque, passando por uma ponte de madeira, e por Augusta Raurica (de novo), as ruínas romanas que eu falei no post anterior. Amanhã iremos de ônibus e tram, junto com a minha mãe. Só que ela não vai pegar o tram. Ela vai em outro ônibus pro trabalho dela. Que é bem pertinho da minha escola Pumuckl.

domingo, 2 de outubro de 2011

Depois de uma semana...

Depois de uma semana, eu começo a entender um pouco como as coisas funcionam aqui na Suíça. Já deu pra perceber que cada dia tem uma comida diferente. Meu pai liga o som na cozinha e só sai de lá quando a comida fica pronta, e cada uma melhor que a outra. Gostei mesmo foi de uma tal de Wurst. E também de Spätzli, uma massinha deliciosa, cada vez com um molho. Foi-se o tempo da torta de legumes! Eu também ajudo a colocar a mesa.
Ontem fomos pra Alemanha, no supermercado, porque falaram pra gente que tudo era mais barato lá. Parece que é mesmo. Meus pais ficaram andando de um lado pro outro lá como loucos, falando uns nomes esquisitos, e davam risada... Almocei uma comidinha que uma moça preparou dentro do supermercado e que dava pras pessoas experimentarem. No final da tarde voltamos pra casa e eu dormi no carro. Eu tava pregado. Meu pai disse que vai voltar na Alemanha essa semana pra comprar uma bicicleta nova, elétrica, o hit daqui. E um trailer, pra levar eu, a Margarida e o Lupa, quando eles vierem, que vai engatado na bicicleta.
Hoje, domingão, acordamos tarde, e fomos pra Augusta Raurica, que é aqui do lado de casa. Um parque que descobrimos por acaso ser o maior sítio arqueológico da Suíça. Sei lá o que é isso, mas meus pais estavam animadíssimos e fazendo planos pra quando as pessoas vierem visitar a gente, de levá-los nesse lugar. Eu adorei porque pude andar de bicicleta o tempo todo pelas trilhas do parque.
Parece que temos que aproveitar o dia ao máximo, porque dizem que quando o inverno chegar a gente ficará muito tempo dentro de casa. Meus pais me deixam brincar na rua até escurecer, umas 7:30 da noite. Depois a gente entra, toma banho, janta, brinca mais um pouco e vai dormir. E amanhã descobriremos se minha escola estará aberta nessa semana.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Amigos

A Suíça é um lugar diferente. As pessoas aqui falam de um jeito esquisito. Eu tentei várias vezes fazer amigos, mas toda vez que perguntava "como você chama?" parece que era uma palavra mágica que as crianças saíam correndo. Mas na terça-feira foi diferente. Meu pai me levou de bicicleta até um parque em Basel chamado Birsfelden, e lá tinha um monte de criança. Até que eu tentei de novo. E perguntei pra um menino no escorregador "como você chama?", e pra minha surpresa e do meu pai ele falou "Luca!". Até que enfim ! Alguém me entendeu. A vó dele disse que ele era de um lugar chamado Croácia, mas que a mãe era de Portugal, um lugar que falam como em São Paulo, e que então o Luca me entendia por isso. Jogamos bola e fomos em vários brinquedos juntos. Mas depois de um tempo ele cansou de jogar bola e foi comer. E já estava ficando tarde, e nós tivemos que voltar pra nossa casa. Eu brinquei tanto esse dia que dormi na garupa da bicicleta do meu pai. Só me lembro de acordar em casa, já na minha cama, com fome. Muita fome. Fome de urso.

Wochenende in der Schweiz




Eu achava que era brincadeira do meu pai. Sai do carro, entra no avião. Sai do avião, entra no trem. Sai do trem, entra no carro. O mais difícil foi caber todas nossas coisas no carro. Mas no terceiro carro que deram pra gente coube tudo. A roda da minha bicicleta veio quase batendo na minha orelha. Mas, chegamos na nossa casa nova, no sábado, dia 24 de agosto de 2011, às 3:30 da tarde aqui.
Me falaram que nossas coisas de verdade viriam de avião depois da gente, e mais um monte de coisas nossas que virão de navio. É que na nossa casa nova já tem tudo, mas minha mãe falou que não é nada nosso. Não entendi muito bem. Se a minha cama não é minha, por que eu não posso dormir com meus pais. Foi isso que eu questionei na primeira noite. E ganhei.
No domingo, a gente acordou e foi dar uma volta a pé perto da nossa casa. Tem uma escola do lado de casa, que tem um parquinho bem legal, e eu fui brincar no escorregador. Mas quando eu ía falar com outras crianças e perguntava o nome, elas me olhavam e fugiam de mim. Depois do almoço, meus pais me falaram que a gente iria pra uma tal de Alemanha, visitar a tia Camila, o Paulão, o Xico e o Téo. Que era aniversário da tia Camila. Eu perguntei pra eles se naquela noite a gente iria dormir na nossa casa na Alemanha, e eles falaram que não, que a gente voltaria pra nossa casa da Suíça de noite.
Encontramos com o Xico num parque em Freiburg, chamado Mundenhof, que tem um monte de bicho, e eu levei minha bicicleta. O Xico tem uma bicicleta igual a minha. O Téo já é grande, a bicicleta dele tem pedal. No parquinho, teve um menino que me bateu, e até agora eu não entendi por que. De noite meus pais saíram com a tia Camila e o Paulão, e eu, o Xico e o Téo ficamos na casa deles com a Vovó Marina e o Vô Pinduca, os pais da tia Camila. Voltamos pra Suíça de madrugada.