quarta-feira, 31 de outubro de 2012

O Saci. E o Outubro Branco.

Resolvi escrever de novo hoje. Bem hoje. Porque hoje é dia 31 de outubro. É o dia do Saci ! Minha história preferida. Por aqui ninguém conhece o Saci, mas eu sei que ele fica escondido lá perto das macieiras e das cerejeiras. E quando alguém passa por ali desavisado, ele começa a assobiar pra assustar a pessoa. Aqui na Suíça, no dia 31 de outubro, aparece um monte de cabeça de abóbora nas casas, e algumas crianças se fantasiam de fantasma e de bruxa. Mas ninguém sabe do Saci. Só a gente. Por que ele é brasileiro. Então deixa eu contar um pouco do Saci.

Era uma vez um Saci... Um só? Não ! Vários ! Negrinhos, baixinhos e carecas, com dentes muito brancos e um gorro vermelho na cabeça. Ninguém sabe dizer ao certo quantos sacis existem, mas contam que todos eles nasceram pulando numa perna só, em uma noite daquelas, com trovões e tempestades, no meio da mata, após sete anos de gestação dentro de gomos de bambu.

O último a nascer pulou no lombo de um cavalo, agarrou a crina e saiu galopando pelo pasto a toda velocidade. Enquanto o pobre do cavalo só pensava em cavalgar, o danado do Saci aprontava a primeira de suas travessuras : ele fez vários nós na crina do animal. E isso foi só o começo...

Com o passar do tempo, o Saci começou a aparecer na estrada para assustar os viajantes. De repente, do nada, ele assobiava e deixava quem estava passando por lá morrendo de medo.

Quando o Saci entrava nas fazendas era um terror ! Ele derrubava o leite tirado das vacas, quebrava os ovos do galinheiro, abrias as porteiras, escondia coisas e, o pior de tudo : atirava brasas nas pessoas... que saíam pulando. E o pestinha não parava de dar risada !

Um dia, o Saci saiu girando em torno de si mesmo. Parecia um pião, e provocava redemoinhos de vento. Algumas pessoas, que estavam por perto, comentaram ao ver a ventania :

- O que será aquilo ? Um ciclone ?

E um homem respondeu :

- Que nada ! É um Saci ! Um Saci !

Até hoje não se sabe como os Sacis podem fazer tanta bagunça, mas o povo comenta que eles continuam aprontando suas travessuras em todos os lugares por onde passam.

Tem até uma história de um garoto que vivia no interior e fazia sempre a ordenha das vacas. Mas, quando acabava o serviço, batia uma ventania muito forte, que virava todos os baldes.

Irritado e cansado de perder todo o leite, o garoto comentou com o seu avô :

- Eu não sei o que acontece ! Depois que eu faço a ordenha sempre aparece um redemoinho e derruba todo o leite.

E o avô respondeu :

- É o Saci ! Só pode ser o Saci !

Então o avô explicou para o menino tudo o que ele sabia sobre os Sacis, desde o nascimento até a parte mais importante : o jeito de capturá-los.

- Para prender um Saci, é preciso jogar dentro do redemoinho um rosário de mato bento ou uma peneira. E quem consegue pegar a carapuça do danado é recompensado com a realização de um desejo.

O garoto ficou todo animado com a possibilidade de realizar um de seus desejos. Por isso, tratou de pedir que o avô o ajudasse a capturar um Saci.

- Quando estiver na hora da ordenha, eu tiro o leite e você fica escondido segurando a peneira. Quando aparecer o redemoinho, você atira a peneira bem rápido. O Saci vai ficar preso. E é nessa hora que você vai pegar a carapuça dele - ensinou o avô.

Na manhã seguinte, enquanto seu avô tirava o leite da vaca, o garoto ficou escondido, até que o Saci apareceu dentro de seu redemoinho de vento e... vupt!

- Peguei, vô ! Peguei o Saci ! - disse o menino, já com a carapuça do danado nas mãos.

- Devolve minha carapuça ! - gritou o Saci.

- Eu devolvo sua carapuça se você prometer nunca mais derrubar o nosso leite.

- Eu prometo !

- E também nunca mais vai estragar alimentos.

- Concordo ! - respondeu o Saci - Mas não conta pra ninguém, porque os Sacis são malvados e bagunceiros, e eu não posso ser um bom menino.

O Saci recebeu sua carapuça de volta, entrou no seu redemoinho de vento e sumiu.

Em certos dias quando acorda, o garoto vê cavalos com nós nas crinas e uma ou outra porteira aberta, mas os ovos estão sempre nos ninhos. Ah, e ele nunca mais perdeu o leite da ordenha.

Pelo jeito, ao menos um Saci deixou de ser tão malvado e bagunceiro.

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Outubro Branco

Outubro começou quente. Mas não aqui. Nós fomos pra Espanha. Minha mãe foi trabalhar três dias em Tarragona, e levou eu e meu pai. Depois nós ainda ficamos até domingo na casa do Juba, em Barcelona. O Juba é o irmão do Léo. Ele faz aniversário no mesmo dia que eu, 7 de dezembro !

A gente alugou bicicleta em Barcelona, e ficamos brincando de se perder pela cidade. Fomos também pra uma praia ali perto, chamada Lloret de Mar, onde um amigo do Juba tem um "chiringuito"(bar, http://www.facebook.com/ChiringuitoCalaCanyelles ). Lá a gente comeu uma comida que veio numa panela quase do tamanho da mesa. Chama Paella. Tava tão bom, que enquanto a gente comia, ninguém falava. E não sobrou nenhum grão de arroz.

Saímos de Barcelona no domingo bem cedo, de volta pra Basel. Quando descemos do avião, percebemos logo que aquele tinha sido o último suspiro do nosso verão boreal.

Daquele dia em diante, no nosso termômetro de Galileu, as bolinhas só tem subido (http://ciencia.hsw.uol.com.br/questao663.htm ).

No ano passado foi diferente. O frio só chegou de verdade no final de novembro. E nevou pela primeira vez no dia 18 de dezembro aqui em Arisdorf.

Nesse ano não. Nevou dois dias inteiros no final de outubro. Ficou tudo branquinho de novo. Lindo. E gelado. Exatamente como disse um amigo do meu pai, o Steve, quando a gente se mudou pra cá : a Suíça é linda, e gelada.

Os cachorros voltaram a dormir dentro de casa. De noite, lá fora faz muito frio. Tão frio que a água deles até vira gelo. Pelo menos eles já aprenderam a não fazer mais xixi dentro de casa. E a Margarida já tá devidamente castrada. Para quem não sabe, ou não lembra, dá uma olhada nesse post, pra saber um pouco do perrengue que foi o inverno passado com a louca da Margarida >> http://rafach.blogspot.ch/2012/02/invferno.html .


Parc de la Ciutadella, Barcelona

Eu e meu inseparável sapo, no ônibus pra Liestal, indo pra Espanha

La cosa está fea en España...

Da janela lateral,
Do quarto de dormir...
28/10/2012 - 9:50am

Hersberg, cidade vizinha de Arisdorf, 28/10/2012 - 15:00

Como eu podia imaginar que pão com queijo era tão bom?

A pilha costuma acabar no ônibus

Quem diria que isso foi em outubro? Eu e meu pai, na praia (!?),  Barcelona.

Plugando a parafernália
Te cuida, Keith Richards !

Hook !

É a época deles

Quer chocolate? É suíço.

Eu e a Nathalie, minha vizinha, assistindo um bando de pernas-de-paus mirins

Aprendi a digitar meu nome ! 

Acidente de percurso. A pedra não saiu da minha frente quando eu caí...

Então se é pra nevar, que neve muito ! Quero andar de trenó !




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Um Ano Depois...

Setembro, 8:00 a.m.
Esperando o Tram (em 6 minutos)

[Expressão corporal claríssima]
- Rafa, você quer fazer xixi?
- Não.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Então para de apertar o zizi.
- Tá.
[1 minuto]
- Rafa, vamos no banheiro comigo, vai?
- Já falei que eu não quero fazer xixi !
- Para de apertar aí !
[5 minutos]
- Eu vou falar pela última vez. Vamos fazer xixi?
- Não quero.
[Chega o Tram]
- Cuidado Rafael, com a porta aí no seu braço. Tá fechando. /klomk!
- Papi?
- Quê?
- Cocô.
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Parou de fazer calor. As piscinas fecharam. Algumas calças minhas ficaram curtas, do último outono pra esse. Acabaram todas as frutas no pé. Todas não. Tem sempre maçã. O Lupa e a Margarida adoram maçã. Não perdoam nem o caroço e o cabo. Nossas uvas foram totalmente consumidas pelos cachorros. Elas são doces, mas tem muito, mas muito caroço. Mas pra quem come miolo e cabo de maçã, caroço de uva não é nada.  Algumas folhas começam a cair. Algumas começam a ficar vermelhas. Que nem o fim do dia. Cada dia mais cedo termina o dia. Cada dia mais tarde começa.



Os programas mudaram. Novos filmes vindo aí. Novos livros. Novos jogos. Está começando a temporada "indoor". Fomos no Kino (cinema) 3D, em Liestal. Domingo de frio, chuva e pipoca. Gostei do filme. Também gosto de assistir em casa. Mas eu só posso assistir filme enquanto o jantar é preparado. Ou quando todo mundo assiste junto. E o combinado é que na hora que tá na mesa, tá na mesa. Para tudo e vamos comer. E tem que dar a mão todo mundo e cantar "Än Güeten, Än Güeten, Än Güeten Apetitt".

Kino Orion, Liestal


Minha mãe foi trabalhar por uma semana em Freiburg, na Alemanha. No fim de semana, eu e meu pai fomos pra lá com os cachorros, pois não tinha lugar nos Tierheim (lar/pensão de animais) pra eles ficarem. Ficamos na casa do Xico, Teo e Lino. Passamos a sexta de tarde e o sábado na casa deles jogando pebolim, sinuca, muito Lego e futebol. Os cachorros estavam sossegados. Tudo parecia perfeito. Os cachorros estavam sossegados?? Peraí... Cadê a Margarida?? ... Cadê? Margarida fugiu. Em Freiburg. Sai todo mundo pra pocurar. Duas bicicletas. Todos vizinhos avisados. Liga pra polícia. Avisa o Tierheim de Freiburg. Cadastro na S.P.A. da Alemanha através da Internet. Três horas depois, toca telefone : "aqui é do Tierheim Freiburg, tem uma cadela com a descrição da sua. Ela é suíça?"
No reencontro, ela olhava pra gente e sabia que tinha feito coisa errada. No domingo fomos todo mundo, nós e os Barbas,  pra Olten, na Suíça. Teve mais um Kinderkonzert com show do Silberbüx. Eu e o Xico ficamos bem lá na frente na hora do show.

http://www.silberbuex.ch


Faz um ano que a gente chegou em Arisdorf. 24 de setembro. Passou rápido. Aconteceu muita coisa. Mudou muita coisa. Tivemos a volta do arroz com feijão. Pão de queijo já não me encanta tanto, como era no Brasil. Acho que eu comi demais quando era menor. Hoje eu como um ou dois no máximo. A nossa horta tá começando a funcionar. Eu ajudei a plantar Feldsalat (alface do campo), Spinat (espinafre) e Zitronengras (capim-limão). Ano que vem vamos ter cebola e alho também. Nesse um ano comemos muito pão de forno a lenha (Holzoffenbrot) da fazenda vizinha, muito queijo regional, muita maçã (sempre) no pé, cereja, ameixa, amora, morango, framboesas, mirtilo, groselha, uva, feldsalat (alface do campo), muita batata, muita cevada com feijão e farinha de mandioca, claro. Descobri recentemente o prazer sublime de molhar a bisnaguinha na gema do ovo. Sou capaz de comer pão com ovo, enquanto houver pão e ovo.

Então vamos lá, um ano já foi. Temos pelo menos mais três anos de vidinha helvética. Aqui. Em Arisdorf. Em novembro vamos pro Brasil.

O frio tá voltando. Tem que ir de casaco pra escola.

Nossa horta

Meio dia em Arisdorf. Tem alguma coisa errada...

Lino, o mais novo Barba

Arisdorf, final de setembro 2012