quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Música

Sempre gostei de música. Desde pequenininho, quando eu era menor que a Julinha, eu já gostava da música "A Lua". Aquela que fala "quando ela roda, é nova, crescente ou meia lua, é cheia... mente quem diz que a Lua é velha" (http://www.youtube.com/watch?v=OeUFUw92xgA) Talvez essa música tenha sido responsável pela minha primeira sensação voluntária de alegria e desequilíbrio. Era só meus pais colocarem essa música para tocar e eu saía girando e girando, e girando até ficar tonto. Como é bom ficar tonto ! Até cair. Eles dizem que é perigoso, que eu posso bater a cabeça e tal, mas que é legal, ah isso é.
Depois veio "Chove Chuva", que eu achava engraçado lá na nossa casa de São Paulo. Sempre que começava a chover (e como chove em São Paulo; e parece que não mudou muito), meu pai colocava essa música pra eu ouvir. De tanto que eu já escutei essa música, sou capaz de reconhecer quando ela começa a tocar já nos primeiros acordes. Eu acho engraçado o jeito que o moço canta :http://www.youtube.com/watch?v=RSlnTUJ8JCo
A música do Pato, é claro, também é um hit aqui em casa. Acho que foi a primeira música que eu decorei inteira. Tem umas palavras muito esquisitas e umas frases difíceis, que eu não consigo falar direito, tipo "comeu um pedaço de jenipapo, ficou engasgado com dor no saco" (isso é coisa da minha mãe) : http://www.youtube.com/watch?v=e1-nwV0Syaw
Aqui na Suíça, toda segunda-feira, a Frau Pia, que também é nossa vizinha em Arisdorf, vai na minha escola cantar e ensinar músicas pra gente. No meu primeiro dia de aula na escola, isso me ajudou, e muito, a ficar conhecido. Foi só ela começar a tocar a primeira música, que eu peguei a Stella pela mão e a gente saiu dançando ! Tem muita coisa que eu não gosto de fazer, ou que eu tenho vergonha, mas dançar e cantar é e sempre será muito legal.
Meu pai gosta bastante do moço que canta Chove Chuva, e aí eu acabei aprendendo e gostando de outras músicas dele também. Eu gosto daquela da Xica da Silva que fala das "perucas cada uma de uma cor", e claro daquela que fala "ai ai caramba, ai ai caramba". Ele achava que eu só sabia Chove Chuva, Xica da Silva e o Galileu da Galiléia (ai ai caramba), mas aí um dia eu surpreendi ele, quando fui perguntado qual música eu queria ouvir, e eu disse : " Eu quero aquela da Menina Rosa". Ele ficou me olhando com aquela cara-de-besta-que-que-esse-moleque-tá-falando-!? http://www.youtube.com/watch?v=YyyVO4ltDlM&feature=related
Ultimamente tenho escutado muito um CD que minha vovó Rosali me mandou do Brasil, e que é muito legal. Só que parece que meus pais gostaram mais do que eu, porque eles já sabem todas as músicas. Até as que eu não sei. E várias vezes durante o dia eu pego eles cantando as músicas do Solzinho http://www.youtube.com/watch?v=TZAc1oLGvOE Eles falam um pro outro que acordaram com essa música na cabeça (não sei o que isso quer dizer), e cantam ela o dia inteiro. Às vezes nem eu aguento, e aí peço pra eles cantarem outra música. Não sei qual. Qualquer uma. Menos aquela. Que eles já ficaram o dia inteiro cantando no meu ouvidinho.
Por falar em música na cabeça, tem também uma que eu adoro que fala várias vezes "o que será que será". E o mais engraçado é que essa música fala uma hora "que anda nas cabeças, anda nas bocas" ! Hahahahaha ! Anda nas bocas !! Música é um negócio engraçado. Às vezes eu pergunto pra eles o que é que eles estão falando na música e eles me falam que música é assim mesmo. Às vezes a gente entende, às vezes não. E tem umas que são feitas pra não entender mesmo. "Que andam falando alto pelos butecos"... o que que o Teco tem a ver com a música? E o Tico? Cadê?
Outro dia eu não queria comer. Mas não queria mesmo. E meu pai começou de novo com a história da Cabra Cabriola, que não sei o que, que eu ía virar sabão, que ela tava sentada ali do lado de fora da janela... E eu ali enrolando, enrolando. Aí ele levanta da cadeira, liga o som, e fala : " Tudo bem, você não quer comer? Escuta essa música então." E começou uma música muito doida que só falava "comer comer, comer comer, é o melhor para poder crescer. Eu gosto mais de torrada e uma baita fritada de carne de cobra e tatu. Até de tatu? De cobra faz mal. Mas que comilão!" Eu comecei a rir na hora. E pedi pra ele colocar de novo. Era a deixa pra ele : "Só se você comer. Você não ouviu a música? Pra crescer tem que comer." E eu escutei essa música umas 20 vezes durante aquele jantar. E comi tudo.http://www.youtube.com/watch?v=6RN79V9nZ2g (raridade)
Agora, tem uma que pra mim é a campeã. A melhor de todas. Outro dia eu tava vendo o desenho do Pluto no iPad da minha mãe, e eu já sei (só que eles não sabem) procurar outros filmes, além dos desenhos que ela coloca pra eu ver. Aí eu fui indo, fui indo, e me aparece um cara tocando um apito muito engraçado e uma música mais legal ainda.http://www.youtube.com/watch?v=z2J2a3UMubM (esse é o video que eu achei engraçado) Meu pai quando viu aquilo se interessou e me perguntou "como é que você chegou aí?". Eu não sei. Fui indo e cheguei aqui. Ele assistiu àquele video da música comigo várias vezes, e depois me disse "vem cá que eu vou te mostrar essa música como ela é de verdade". E colocou aquela música que hoje eu não fico um dia sem escutar.http://www.youtube.com/watch?v=fJ9rUzIMcZQ&ob=av2e (essa é a versão original da música) Quando o vovô Funcia e a vovó Celina estiveram aqui, até eles tiveram que ouvir uma centena de vezes essa música nos nossos cafés da manhã. Quando minha mãe viaja e eu durmo na cama do meu pai com ele, é a primeira coisa que eu peço pra ele ao acordar : "Pape, põe Mama Mia?" http://youtu.be/4tQZxnV9dHQ (E esse sou eu interpretando. E que Deus me proteja dos axés e telós da vida, sempre!)
Arisdorf num desses poucos dias ensolarados do inverno.

Um carro disfarçado de vaca ou uma vaca disfarçada de carro? Os suíços tem cada uma...

Eles estão sempre no nosso caminho

Hora de acordar e pegar o ônibus... dureza.

Uns pedem pra sair. Margarida pede pra entrar.

domingo, 15 de janeiro de 2012

A Cabra Cabriola

Na zona rural de uma grande cidade, numa casinha humilde, uma garotinha, de aproximadamente oito anos, morava com seus pais. Pessoas muito simples que, ao anoitecer, discutiam sobre os mais variados assuntos.
Enquanto os seus pais conversavam, a garotinha brincava do outro lado da sala. Mas, como qualquer criança, era curiosa e prestava atenção na conversa dos pais que, naquela noite, resolveram falar sobre uma tal de cabra cabriola.
- Mulher ! Escutei uma história de arrepiar os cabelos sobre uma tal de cabra cabriola!
- Ai, já estou com medo só de ouvir esse nome !
E os pais continuaram com a prosa :
- Ouvi dizer que a cabra cabriola é um ser assustador, meio monstro e meio cabra, com dentes afiados, que solta fogo e fumaça pelo nariz, pelos olhos e pela boca. Contam que ela já apareceu no Pará, no Ceará, em Pernambuco e em vários outros lugares. Até numa cidadezinha da Suíça, a chifruda já apareceu.
- Nossa! Fico até arrepiada de ouvir falar! Ela é mesmo tão perigosa?
- Dizem que ela ataca crianças que andam sozinhas pela rua, coloca em um saco e leva para fazer sabão - continuou o pai.
- Ainda bem que eu sempre pego na mãozinha da nossa filha quando passeamos - concluiu carinhosamente a mãe.
A garotinha, muito esperta, não desviava a atenção nem por um minuto, enquanto seu pai continuava reproduzindo tudo o que tinha ouvido sobre o assunto.
- A parte mais assustadora dessa história é que a cabra cabriola também entra nas casas à procura de crianças malcriadas, travessas, mentirosas e desobedientes. Ela se esconde no quarto delas, dentro dos armários, das gavetas, ou debaixo das camas, para assustá-las no meio da noite, cantando mais ou menos assim: "Sou a cabra cabriola, e só assusto criança malcriada! Se você não se comporta direito, te levo pra minha morada!"
No dia seguinte, a garotinha foi à escola e contou para seus amiguinhos tudo o que tinha ouvido sobre a cabra cabriola. Mas, claro, do jeito dela.
- Meu pai disse que ela é horrível, tem uma boca enorme e dentes muito afiados. Lança fogo pelos olhos, pelo nariz e pela boca. Quando chega à noite, ela entra nas casas e assusta as crianças desobedientes e aquelas que não fazem a lição.
Todos os seus amiguinhos ficaram assustados e mal conseguiam respirar.
E a menina não parava:
- Meu pai disse também que, quando ouvimos alguma criança chorando, à noite, é porque a cabra cabriola deve ter aparecido na casa da malcriada. Mas não se preocupem, em casa de criança obediente e estudiosa, ela não passa nem perto.
A história se espalhou pelo colégio, e as crianças, com muito medo, começaram a se comportar como nunca. Até as suas notas melhoraram! E não foi só isso! A convivência com a família e os amigos ficou praticamente exemplar.
Os pais e os professores ficaram espantados e nunca souberam o motivo daquela mudança tão radical, mas muito positiva entre os alunos. Já a cabra cabriola, muito triste com o desfecho desta história, continua esperando, até hoje a próxima traquinagem.
A Cabra Cabriola na verdade mora aqui perto. Em Rheinfelden. Eu vi isso hoje...
Bom, isso é o que dizem. Eu sei que ela fica do lado de fora da minha casa, principalmente na hora do jantar. Quando eu estou comendo, tudo bem. Ela vai até a casa do Pascal, meu vizinho, e fica observando se ele está comendo. Mas quando eu não quero comer, ou fico enrolando, meu pai começa a cantar a música da Cabra Cabriola, e ela vem correndo ver se eu estou comendo. Eu hein... como tudo na hora. Eu é que não quero virar sabão ! E ultimamente ela tem aparecido na hora do banho também.

Mudando de assunto, hoje minha mãe propocionou aquela famosa "volta dos que não foram". Foi porque a gente acordou cedo, tomou café e saímos na correria pra levá-la pro aeroporto. Ela iria pra Istambul, uma cidade que fica metade na Europa e metade na Ásia. Sei lá onde é isso, mas tudo bem. Sei que deixamos ela no aeroporto e antes de entrarmos de volta na cidade, o telefone do meu pai tocou : "Vem me pegar? Meu vôo é amanhã... Não sei onde eu não olhei direito." Minha mãe precisa de férias. Outro dia ela tomou o ônibus pro lado errado.

Pegamos ela de volta, e fomos pra casa para que ela colocasse uma calça e um tênis, afinal, estávamos indo pro parque Lange Erlen passear com os cachorros. Esses últimos dias tem feito muito frio. A água do Lupa e da Margarida tem congelado direto. A propósito. parece que ela sossegou um pouco a periquita. Ficou essa semana presa por vários dias. Só soltamos ela quando estávamos em casa e ela dentro, por causa do frio. Quando saíamos de casa ela ficava presa e o Lupa solto. Parece que ela entendeu alguma coisa, porque não fugiu mais desde então. Mas a marcação nela tem sido cerrada.

Agora dêem uma olhada em como ficou o laguinho onde ficam os patos em Lange Erlen >> http://youtu.be/tK6J-Ev9imw

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Voltando à minha vidinha helvética

Como é difícil acordar cedo. Pra ir pra escola ainda é mais difícil. Eu bem que tento fazer de conta que não tem ninguém tentando me acordar. Me chamam de um lado, eu viro pro outro. Aí aparece alguém do outro lado e mexe em mim. Até que percebo que eu estava dormindo no meio dos meus pais. É tão bom dormir no meio deles ! Ruim é ter que acordar cedo. Mas eu bem que estava sentindo falta de pegar o ônibus 83 das 7:51 em Arisdorf Schulhaus, e depois o Tram 14 pra Gempenstrasse. E de voltar com o trem das 14:11 até Liestal pra pegar de novo o 83 das 14:35 pra Arisdorf Schulhaus. Eu já sei o nome de todas as estações de ônibus, tram e trem, ida e volta pra minha escola. Eu gosto de ver o trem e o tram indo embora da estação, pra olhar pro rabo deles.
Gosto de esperar o Tram ir embora

Quando minha mãe foi me buscar na escola no primeiro dia de volta às aulas, o Cris, o professor, falou pra ela que achava que eu já tava entendendo quase tudo, porque ele disse que eu presto atenção quando eles falam. E quando a criança não entende, ela fica olhando pra cima ou pra outro lado. E eu já sei falar muita coisa também. Lógico, do meu jeito. Meus pais adoram quando eu começo a cantar enquanto eu brinco. E eu sei. Mas isso me deixa ainda meio encabulado. Acho que é porque eu falo dialeto, e meu sotaque é bem parecido com o jeito que eles falam por aqui. Meus pais dizem que se fosse no Brasil, seria um sotaque quase de Pirrracaia. Essa história de falar alemão-suíço na escola e português em casa, me deixa às vezes confuso. Vou falar três e de repente sai "trrês".

A Margarida, a Louca, tem dado trabalho por aqui. Depois que meu pai e o vovô Funcia colocaram a cerca no jardim por causa das crianças que frequentam nosso Keller (porão, onde as crianças tem aula de religião), e ela aprendeu a pular a cerca, eu sabia que pra ela começar a pular a cerca que dá na rua era só uma questão de tempo. E não deu outra. Outro dia eu estava com meu pai voltando da escola e minha mãe liga : "A Frau Pia (nossa vizinha) disse que a Margarida tá no quintal da casa dela". Meu pai ficou vermelho de raiva, e nós corremos pra resgatar a safada. Demos uma bronca nela e pedimos desculpas à Frau Pia. Ela é muito legal. Porque ela nem se incomoda. E ainda tem dois gatos. Até a hora que a Margarida tomar uma coça dos gatos ela não vai sossegar. Depois foi outro dia de manhã, que enquanto meu pai trabalhava, ele parou um minuto, desconfiado, do nada, pra ver se a Margarida tava por ali e se tava tudo bem. E cadê a Louca? E lá vai ele e o Lupa pela cidade atrás da fujona. E anda. E nada. Pegam o carro, e ligam pra minha mãe. E ela liga pra Gemeinde (prefeitura) pra avisar. E ele liga pro veterinário sem saber o que fazer. E nisso aparece a Louca, do nada, desfilando sua postura canina de estirpe pela Hauptstrasse (a rua principal de Arisdorf), vindo de encontro ao carro do meu pai. Ele encostou o carro e desceu furioso. Ela na hora percebeu. E se mandou pela saída lateral da rua, que dá na ciclovia que passa atrás de casa. Meu pai saiu correndo atrás, e quanto mais ele chamava, mais ela corria pra casa rabo-no-meio-das-pernas-reconhecendo-a-m... que fez. Meu pai disse que viu ela entrar na nossa casa pelo único ponto vulnerável que tem no nosso muro, do lado do vizinho. Que foi onde ele não colocou tela por achar que era muito alta e ela não pularia por ali. Mas ela pulou. Com o pé nas costas. E correu pra debaixo do banco de madeira no terraço. Meu pai deixou ela presa aquela tarde toda. E colocou cerca onde não tinha. Só soltou de noite. Assim que minha mãe chegou. E colocou a Louca pra dentro de casa pra ver se ela sossegava. Hora de jantar. Cachorros pra fora de novo. No meio do jantar, tocam o sino de casa (nossa casa não tem campainha, tem um sino, daqueles bem fortes, pra não ter dúvidas que tem alguém na porta). Frau Pia : "Oi, a Margarida tava no quintal de casa. Ainda bem que ela me seguiu ! Eu acho meio perigoso ela ficar atravessando a rua. Por isso acho melhor vocês aumentarem a cerca."
A pedidos : Lupa, o Lorde

Margarida, a Louca. Olha a cara da pilantra...

Nossos planos pro fim de semana foram decididos de uma hora pra outra. Pelo telefone do meu pai (sempre o telefone do meu pai). Encontramos uma promoção de hotel em Engelberg. E o tempo parecia que ajudaria. Fomos pra Engelberg  na sexta de noite. E o plano era voltar domingo de noite. Todo mundo feliz ! Mas, e os cachorros? Aqui na Suíça é impensável deixá-los num abrigo para cães. O preço é quase a nossa diária no hotel com meia pensão. Mas pra isso sempre tem a Alemanha ! Logo ali. E meus pais descobriram outro dia numa dessas nossas andanças que em Rheinfelden (cidade que fica metade na Alemanha e metade na Suíça) havia um Tierheim (abrigo para animais). E esse fica bem perto de casa. E pela bagatela de 8 Eurecas por dia por cachorro com comida incluída ! É pra lá que eles vão. E o lugar é um luxo canino. Quando deixamos eles lá, a moça ainda perguntou se eles comiam carne ou ração (!?). Minha mãe aposto que pensou "carne como eu!". Um quarto com colchão pra cada um, com passagem hermética pro lado de fora. E passeiam duas vezes por dia com eles. Que mais eles podem querer? Apesar de que o hotel em Engelberg aceitava cães. Agora, imaginem a Margarida na montanha?! Melhor nem pensar. Eles ficaram bem felizes no Tierheim de Rheinfelden. Um achado e tanto, que resolveu nossa vida por todas as nossas próximas saídas de Arisdorf.

O sábado em Engelberg foi generoso. Meus pais me levaram num lugar onde as crianças ficam enquanto os pais esquiam. E tinha um monte de crianças lá. E cada uma falava de um jeito diferente. Ainda bem que a tia que ficou com a gente falava em Schwitzer-Duutsch e eu podia entender e me comunicar com ela. Foi bem fácil e rápido ficar amigo dela, porque o nome dela era Celina. Olha só ! Meus pais viriam me buscar depois do almoço ali no Kinder-Ort. Mas quando eles vieram eu não quis nem saber deles. Eu estava muito entretido com aquele mundo de Legos e lápis e carrinhos. E ainda a Celina levou a gente pra andar de trenó na neve. Eu cá três vezes do trenó. Quando chegamos de volta, meus pais estavam me esperando. E eu estava encharcado A Celina falou pra eles que meu alemão-suíço é muito bom (!?). Voltamos pro hotel pra tomar banho e fomos até o centro de Engelberg. Ou pelo menos tentamos. Porque a certa altura eu não tinha mais forças pra manter meus olhos abertos. Lembro de acordar no quarto do hotel sozinho, só de camisa e fralda. E no escuro. Não tive dúvida. Sabia que a porta estaria aberta. Comecei a descer as escadas pra ir pra recepção do hotel e encontrei meus pais voltando da sala de jantar, no meio da escada.

O domingo, segundo a previsão do tempo, seria nublado. E quando acordamos realmente estava nublado. Mas bastou clarear o dia que de repente aquele branco total radiante tomou conta de tudo, e ninguém via mais nada. Nem um palmo na frente do nariz. E a neve começou a cair sem dó. Não tivemos outra opção que não fosse voltar mais cedo pra casa, porque o dia já estava perdido. Todas as pistas de esqui estavam fechadas e todas as aulas canceladas.

Mas tudo bem. O caminho de volta pelo menos foi bem tranquilo. Em nada comparável à volta de um fim de semana no litoral Norte de São Paulo. O oposto total. Frio do capeta. Gelo na pista. E descendo a serra. Passamos em casa pra deixar nossas coisas e almoçar. Mais tarde fomos buscar os cachorros na Alemanha. Mais uma vez, só me lembro de entrar no carro...

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Alles Gute Im Neuen Jahr

Mais uma semana de chuva quase o tempo todo. Quase. Por que no dia que o sol saiu nós fomos pra Engelberg. O telefone do meu pai falou que no dia seguinte faria sol. E tivemos que acordar cedo. Muito cedo. E ainda pegamos o maior trânsito em Luzern. Acho que todo mundo teve a mesma idéia que a gente. Só por que o sol saiu. Acordamos tão cedo que eu dormi assim que entrei no carro. Antes de sairmos de Arisdorf pra pegar a E35 pra Luzern. Acordei quase chegando em Engelberg. Com o sol batendo no meu rosto. E uma montanha linda, branca, bem na minha frente. Me esperando pra brincar.
Aproveitando o trânsito e a estrada

No caminho pra Engelberg. A Montanha Mágica.

Foi um dia especial. A gente chegou lá em cima daquela montanha mágica, e tinha um monte de criança brincando na neve e esquiando e andando de trenó. E todo mundo se divertindo muito. Como tudo fica mais animado com o sol ! Quando me dei conta daquilo tudo, eu só queria saber de colocar um par de esquis nos meus pés e começar a descer a montanha mágica. Mas meus pais disseram que eu tinha primeiro que aprender, e que me levariam pra escola (!?). Eu não entendi o que aquela palavra "escola" tinha que ver com aquele momento tão especial e surreal. No começo me assustei, mas entendi que precisava mesmo aprender a esquiar primeiro. Minha mãe tem até um pino na mão porque se meteu a besta uma vez querendo descer uma pista além das capacidades dela... Melhor aprender agora do que depois.
Aumentando o tamanho dos meus pés

Primeiros passos na neve. Isso aqui escorrega mais que casca de banana !
Eles me ensinaram a ir reto e a andar de lado. Mas eu não consegui aprender a brecar. Acho que isso não está no meu espírito. E aí eu fiquei bravo com a professora que não queria me levar na pista mais alta. Só porque eu não sabia brecar. Mas tanto eu insisti que teve um professor que me levou. Eu sabia que um menino iria me entender. As meninas tem medo de se machucar. Os meninos se machucam primeiro. Até aprender. Essa regra não vale pra minha mãe. Haja vista o episódio do pino na mão. Depois durante a aula nós paramos um pouco pra comer biscoito. Só que chegou uma hora que o sol se escondeu atrás da montanha, e aí... o frio voltou. E eu não queria mais ficar ali. Nem a minha mãe. E nós fomos pra dentro de um restaurante tomar chocolate quente. O meu pai? Bom, ele não tem frio. Quando ele viu que eu iria me entreter um bocado na aula, pegou sua prancha, subiu a montanha mágica e sumiu. Apareceu no final da tarde porque minha mãe ligou pra ele que a gente tava com frio e queria voltar pra casa. Eu estava acabado. Mais uma vez, a última coisa que eu me lembro foi de entrar no carro.
Eles querem me ensinar a brecar. Eu não quero brecar!

Pausa para o lanche
Que frio quando o sol vai embora... Minha bochecha fica rosa.
Nessa semana também fomos um dia pra Basel procurar uma televisão pra nossa casa. Apesar de que a gente quase não vê televisão em casa, tem um monte de filmes que eu ganhei de Natal e que eu quero ver. E meus pais descobriram que tem um monte de programa que eles gostam na TV aqui. E quando eles descobriram então que a TV era 3D e de alta definição, eles assistiram comigo o filme dos esquilos, do Nemo, da Era do Gelo, e agora só querem saber de ver programas digitais. Sei lá o que é isso, mas é legal. Tem que por uns óculos esquisitos que parece que as pessoas tão saindo de dentro da TV. Também ganhei uma estante pra guardar meus brinquedos e uma mesinha igual a da minha escola. Do meu tamanho. É lá que eu tenho que brincar de massinha, porque minha mãe fica louca quando cai massinha no tapete da sala. E por falar em escola, amanhã começa tudo de novo... acordar às 6:45, troca de roupa, café da manhã, escova os dentes, penteia o cabelo, desce de novo, pega o ônibus. Tudo de novo : Achtung, fertig, los !

Televisão 3D é assim. Dá quase pra pegar o Nemo.