terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Festa

Meus pais contam que tudo começou no dia 6 de dezembro de 2008 às 6:15 da manhã. Minha mãe disse que ouviu um barulho parecido com uma rolha de champanhe, e em seguida sentiu suas pernas encharcadas. Era a bolsa onde eu morava dentro da barriga dela que tinha estourado. Estava chegando a minha hora de ver a luz e de respirar sozinho. Só que ainda faltava mais de um mês pra eu nascer, pelas contas do médico. Não tinha nada pronto. Não tinha berço. Não tinha fralda. Não tinha nada. Nem nome eu tinha. Foi durante o café da manhã na padaria da Previdência que eles decidiram que seu eu nascesse um menino, eu me chamaria Rafael. Naquela manhã, como por coincidência, minha mãe iria conhecer meu pediatra. Ela ligou para o consultório, e ele disse para ela ficar calma e ir lá mesmo assim. E lá foram eles com um monte de toalhinha pra ir secando minha mãe e os lugares por onde ela passava. Contam que eu saí da barriga da minha mãe dentro de uma banheira. Foi tão perto da meia noite, e todo mundo, e os médicos, estavam tão concentrados no meu nascimento, que esqueceram de olhar no relógio que horas eu nasci. Até hoje meus pais não tem certeza se eu nasci no dia seis ou no dia dia sete de dezembro. A hora oficial foi apontada como meia noite e dois. Porque vimos a hora na camera do meu pai. Mas também tinha o horário de verão...

Alguns dias antes de eu vir ao mundo

Alguns segundos depois de eu vir ao mundo

Tudo era tão grande...

Sono. Muito sono nos primeiros dias.


Eu não imaginava que passaria tão rápido. A gente espera o ano inteiro e o aniversário dura só um dia. Eu contava quantas noites faltavam eu dormir pra acordar no dia 7 de dezembro. Esse ano caiu num sábado. Minha festa estava marcada das duas às seis da tarde. Como todas crianças convidadas eram suíças, elas começaram a chegar em casa faltando cinco minutos para as duas. Às duas em ponto todas as crianças já tinham chegado. Menos o Xico, o Teo e o Lino, que são brasileiros. Mas eles avisaram que chegariam mais tarde. Ah, a Bebel, que também é brasileira, também chegou depois, porque tinha outra festa.

Meus pais prepararam uma caça ao tesouro. Eles fizeram a gente sair de casa, ir pra escola, depois pra rampa de skate, depois no bombeiro, no Kindergarten, e por último de volta pra nossa casa, onde estava o tesouro : uma bexiga cheia de porcarias que ninguém conseguiu estourar. Teve que meu pai bater forte nela pra libertar os ursinhos, joaninhas, smarties e outros chocolates.

Caça ao tesouro. Na rampa de skate.

O tesouro era resistente...

…até que meu pai conseguiu estourar.

Bolo no sábado 7-12-2013

Uma pista porco-espinho !

Começando a brincadeira

No bombeiro

Em frente o Kindergarten

Às cinco da tarde cantamos parabéns, e às seis em ponto chegaram os pais para buscar seus filhos. O Xico, o Teo e o Lino dormiram em casa.

No domingo, a Martina, mãe do Pascal, apareceu do nada em casa, no meio da tarde, com uma cara estranha. Ela veio pedir desculpas para minha mãe, porque o Pascal tinha pego uma massinha do meu quarto de brinquedo e falou pra ela que tinha sido o Santa Claus que deu pra ele. O problema é que a Martina sabia que o Pascal queria a massinha, e daria pra ele de Natal. Só que como ele fez uma coisa errada, ela iria repensar. Ela quis que o Pascal viesse aqui em casa me devolver a massinha e me pedir desculpas, porém ele saiu correndo de vergonha e se trancou no banheiro. A Martina então fez o Pascal me escrever uma carta se desculpando. Eu respondi pra ele que não tem problema, que eu podia emprestar a massinha pra ele quando ele quisesse.

A festa continuaria na segunda-feira. Cada vez que uma criança do Kindergarten faz aniversário, todas as crianças da classe vão buscá-la em casa. Eles tocam a campainha e fazem um corredor na porta da casa. O aniversariante passa por baixo e elas cantam parabéns. Depois todo mundo come um pedaço de bolo, ou uma Zopf (pão tipo trança de manteiga) e toma um suco ou leite. Em seguida o aniversariante entra num carrinho de madeira e vai sendo puxado até a escola pelas outras crianças.

Corredor na porta de casa. 9-12-2013 - 8:45am

Zopf com Ovomaltine

Frau Beuchat, minha professora
e meus amigos em casa. 9-12-2013

Concentrado na minha Zopf, que eu adoro !

Pra ninguém ficar com o pé frio

Algumas crianças precisam de ajuda
pra colocar tanta roupa

Eu no Holzwagen (carrinho de madeira) sendo
empurrado até o Kindergarten. 9-12-2013

Na terça-feira começou… minha ressaca. Acho que tive uma overdose de chocolate e porcaria… Passei  o dia vomitando, e ainda não sei como, enfiei uma farpa no meu dedo indicador. Na quarta melhorei, mas meu dedo piorou. Na quinta voltei a vomitar, comecei a ter febre e dor de garganta. E meu dedo tava vermelho e quente. Meus pais me levaram no Kinderspital em Basel. Em cinco anos, era a segunda vez que eu ia pra um hospital por causa de doença. Me deram um remédio que em dez minutos minha febre passou e eles já sabiam que tinha uns bichinhos na minha garganta chamados estreptococos. Mas ainda tinha o meu dedo. Que doía muito e tava inchado. A médica falou pros meus pais que tentariam tirar a farpa usando um entorpecente pra eu não sentir nada. Um minuto depois, falaram pra eu por uma máscara no nariz e continuar respirando. A máscara passou a fazer um barulho quando começou a entrar um tal de Lachgas (gás hilariante). De repente alguém segura meu dedo, e a voz da médica parecia um chantily verde fosforescente. Um elefante equilibrista, só de cueca, se pendurava no teto do quarto do hospital, enquanto a Margarida tentava pular por cima do sol. Quando tiraram aquela máscara do meu nariz eu me senti um pouco tonto e não conseguia levantar sozinho. Disseram pra eu esperar um pouco deitado, e me perguntaram se eu queria água :
- Não. Eu quero mais desse. [e apontei para o cilindro de gás hilariante]
- Você pode levar a máscara para casa - falou a médica.
- E o cilindro ?

Dezembro já passou da metade. Hoje é aniversário da minha prima Juju, e amanhã ela chega aqui em casa ! Hoje de tarde eu vou fazer um bolo pra quando ela chegar amanhã a gente cantar parabéns pra ela. Mas eu não vou convidar o Pascal… Nós iremos passar o Natal na Áustria, em uma estação de esqui chamada Ischgl (http://www.ischgl.com/en). A Juju e o tio Edison vão aprender a esquiar. E no dia 28 estamos de volta na nossa casa. Na nossa casinha de Arisdorf. Onde a grama agora amanhece branca todos os dias, e as estrelas brilhando reforçam a sensação do inverno todas as noites.

E o inverno chegou de vez !

1-12-2013 - Grindelwald : -18 graus !?!

E começa a temporada de esqui !